CEO da unicórnio Feedzai acusa ministra da Ciência de “miopia” por acabar com parcerias com universidades americanas
Nuno Sebastião critica o cancelamento das parcerias com universidades americanas. "Exemplos claríssimos em que investimento de longo prazo gera retorno reputacional e financeiro para Portugal".
O CEO da unicórnio Feedzai acusa a ministra da Ciência e do Ensino Superior de “falta de conhecimento e miopia” por ter cancelado as parcerias que Portugal mantém com as universidades norte-americanas University of Texas at Austin, Carnegie Mellon University e MIT para promover a internacionalização da ciência e da tecnologia nacionais. Os contratos terminam no final do ano e não serão renovados. Desde 2006, os contratos terão tido um custo de cerca de 310 milhões.
“Vale muito mais um investimento numa parceria com a CMU (Carnegie Mellon University) ou UT Austin (University of Texas Austin) do que vale uma Web Summit. Mas como somos um pais sem profundidade, o que é importante são as politicas que dão para a fotografia hoje e não politicas de longo prazo”, atira Nuno Sebastião, fundador da unicórnio, numa publicação no LinkedIn, reagindo à notícia de que as parcerias lançadas em 2016 por Mariano Gago para promover a internacionalização da ciência e tecnologia nacionais tinham sido canceladas pela atual ministra da Ciência e do Ensino Superior, Elvira Fortunato.
Em junho, o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) e o Conselho dos Laboratórios Associados entregaram ao ministério liderado por Elvira Fortunato um parecer desfavorável à continuidade dos programas, alegando que estes já custaram a Portugal, desde 2006, cerca de 310 milhões de euros, segundo noticia o Expresso. Ao jornal, o então presidente do CRUP, António Sousa Pereira, terá considerado que não existiam “recursos para financiar a ciência em Portugal”, sendo gasto “milhões a financiar universidades americanas, com um retorno duvidoso para o país”. Mas o parecer, sabe o ECO, não recolheu apoios de todos os reitores de universidades portuguesas. E a comunidade empresarial, académica e de inovação também contrariou este parecer, denunciando, em ‘off’, uma alegada interferência de Maria de Lurdes Rodrigues, do ISCTE, para pôr fim ao trabalhado desenvolvido por Mariano Gago na Ciência e Tecnologia.
O gestor Nuno Sebastião também contesta esta análise do CRUP, apontando o impacto dinamizador destas parcerias na criação da Feedzai — um dos sete unicórnios nacionais — isto é, empresas que atingiram uma avaliação de mais de mil milhões de dólares — mas também no ecossistema. “A Feedzai existe porque em 2013 emigrei para os Estados Unido, inicialmente para Austin, onde estive nas instalações da incubadora da The University of Texas at Austin. A equipa técnica que esteve na génese da Feedzai desenvolveu o conhecimento quando estavam a estudar ao abrigo do programa de parceira com a Carnegie Mellon University. O chefe de produto da Feedzai fez o mestrado ao abrigo do programa Carnegie Mellon Portugal”, descreve o empreendedor.
“Só a riqueza e reputação gerada pela Feedzai para Portugal e para o nosso ecossistema justifica a existência destes investimentos. Foi isto que possibilitou que seja hoje a Feedzai a empresa que lidera o ranking de criação de patentes em Portugal”, aponta o CEO da unicórnio.
“O que escrevo da Feedzai acima poderia escrever também sobre outras empresas tecnológicas como a Unbabel que criaram em conjunto milhares de empregos em Portugal e devolveram só em impostos muito mais do que o valor de investimento nestas parcerias”, diz ainda.
Nuno Sebastião refere ainda que foi o diretor da CMU Portugal, Nuno Jardim Nunes, que fez a ponte com “algumas das pessoas que estão na génese da Neuraspace e que também elas estiveram ligadas as estas parcerias”, diz. “A Neuraspace está a afirmar-se no panorama Europeu como uma empresa de referência na área aerospacial”, destaca.
“Estas parcerias são daqueles exemplos claríssimos em que investimento de longo prazo gera retorno reputacional e financeiro para Portugal”, defende o fundador da Feedzai. “Só mesmo uma falta de conhecimento e miopia é que pode ter uma interpretação diferente e que justifique o cancelamento (a um mês de serem renovadas) destas parcerias“, atira o empreendedor.
“Agora digam-me o número de patentes ou uma que seja a empresa de sucesso criada por esses laboratórios e laboratoriozinhos que existem por essas universidades portuguesas. A resposta é simples. Não existem porque não criam valor nenhum para além de alimentar empregos e serem usados nas disputas de poder dentro das universidades”, acusa.
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