Para as empresas, COP é montra para projetos e palco para parcerias

Na cimeira que junta líderes mundiais em torno do tema do clima, as empresas portuguesas procuram participar em fóruns, partilhar conhecimento e projetos e até criar parcerias.

A 28.ª Conferencia das Partes (COP28) prolonga-se por treze dias, e serve sobretudo para que os líderes globais se juntem em torno de questões ambientais e tomem medidas para contrariar as alterações climáticas a nível mundial. Neste espaço cabem Estados mas também empresas. O ECO/Capital Verde foi perceber junto das empresas que vão marcar presença no Pavilhão de Portugal o que esperam desta COP28. Os objetivos vão desde formar parcerias, promover soluções “amigas” do clima (alinhadas com os interesses destas empresas), até à exibição dos respetivos projetos e troca de conhecimento.

Contamos abrir portas a parcerias futuras“, indica a consultora Get2C, referindo-se às expectativas para esta COP. A Get2C espera partilhar os projetos que desenvolve, reforçar relações com os diferentes stakeholders, conhecer novos projetos e aprender novas abordagens. Uma visão semelhante é a da energética PRF, que quer destacar as suas inovações no setor do hidrogénio, partilhar conhecimentos e “estabelecer parcerias estratégicas“. Ao mesmo tempo, procura saber mais sobre as tendências do mercado no que diz respeito à transição energética.

A Fidelidade indica também estar “aberta a parcerias que potenciem a resposta coletiva à mitigação e adaptação climática” durante a cimeira. A seguradora entende que este é “um momento crucial” para estar presente “com vista a uma verdadeira atuação sistémica, partilhando esforços com entidades públicas e privadas”.

Já a EDM- Empresa de Desenvolvimento Mineiro rejeita liminarmente o objetivo de criar parcerias nesta sede, entendendo que “este é um espaço de partilha de experiências e de conhecimento, não de promoção comercial da empresa”.

No caso da EDP, os objetivos passam por promover a aceleração da transição energética, dinamizando o setor no qual a empresa se move. A energética apoia três iniciativas no âmbito da COP28 que pretendem incentivar os decisores políticos a atuar nesta frente. Uma delas é a campanha 3xRenewables, mobilizada pela Aliança Global para as Renováveis, e que apela a que os governos se comprometam com o objetivo de triplicar a capacidade global de energia renovável para pelo menos 11.000 gigawatts (GW) até 2030. A campanha conta com mais de 200 signatários, desde outras energéticas como Iberdrola e Vestas, até à Google e Amazon.

Já através da participação Fossil to Clean, a EDP junta-se a 131 empresas de vários setores e geografias, que representam um volume de negócios de quase 1 trilião de dólares, para pressionar a que sejam estabelecidos objetivos e calendários para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis não consumidos, ao mesmo temo que se apoia a diversificação das fontes de energia e a fixação de preços “significativos” para o carbono.

A energética portuguesa vai ainda participar “ativamente” em fóruns, painéis de debate, mesas redondas e outras intervenções de alto nível junto com outros líderes e decisores globais. A comitiva EDP é liderada pelo presidente executivo, Miguel Stilwell d’Andrade, mas também conta com o administrador financeiro (CFO), Rui Teixeira, e elementos da equipa de sustentabilidade do grupo.

A Iberdrola vai na mesma linha: “Promoveremos a discussão sobre a necessidade da criação quadros regulamentares claros e estáveis, no que concerne a autorizações mais rápidas no setor das energias renováveis, assim como aos reais incentivos ao investimento, nomeadamente, em redes e armazenamento”, indica a empresa. Em paralelo, conta assistir ao compromisso dos países em triplicar a capacidade de produção de energia renovável até 2030.

Na sequência, “gostaríamos de ver a aprovação de medidas que promovam a utilização sustentável do hidrogénio e impulsionem a descarbonização“, acrescenta ainda a PRF, que espera ver também “avanços significativos” no que toca a acordos e compromissos para impulsionar a transição para fontes de energia mais limpas.

No capítulo da defesa de interesses relacionados com os respetivos negócios, a Get2C indica que também espera ver “a materialização do famoso artigo 6º”, que refere à criação de instrumentos para um mercado global de carbono, área na qual a consultora é ativa.

No entanto, a empresa também considerava uma vitória a operacionalização do Fundo de Perdas e Danos, destinado a ajudar os países mais vulneráveis a lidar com as alterações climáticas, uma expectativa partilhada com a Fidelidade – e que foi o primeiro marco atingido nesta COP.

O dia a dia na cimeira

Do grupo das empresas presentes no Pavilhão de Portugal, a Fidelidade inaugurou a programação, no dia 3, com o painel “Do eu ao nós: Transição Colaborativa”, focada no poder da colaboração para alcançar mudanças significativas na transição ambiental e o seu impacto social. A seguradora aproveitou ainda a cimeira para anunciar que foi considerada pela Morningstar Sustainalytics a segunda melhor seguradora da Europa e a quarta melhor do mundo em termos de sustentabilidade, entre 301 seguradoras avaliadas. “Estaremos, também, presentes em fóruns de discussão mais alargados com grandes empresas do setor privado, e organizações não-governamentais, como o Global Compact”, indica fonte oficial.

Da parte da tarde, foi apresentado o Roteiro para a Neutralidade Carbónica dos Açores, com a colaboração da consultora Get2C. Esta consultora portuguesa vai depois dividir-se por outros pavilhões, como o de Angola, onde vai ser apresentada a Estratégia de adaptação e mitigação às alterações climáticas angolana. Além disso, “pretendemos assistir a vários fóruns em diferentes áreas do recinto”, indica a empresa.

No dia seguinte, é o Land Fund a abrir o pavilhão, para explicar “Como um fundo de investimento pretende mudar a paisagem rural em Portugal e ter um impacto positivo na natureza e biodiversidade”. O fundo propõe-se a adquirir e gerir terrenos abandonados por terem sido destruídos por incêndios ou por sere solos pobres, ao mesmo tempo que quer apostar no sequestro de carbono.

Ao quinto dia, entram no pavilhão duas empresas públicas, a EDM – Empresa de Desenvolvimento Mineiro e a Mobi.E. Esta última irá debruçar-se sobre a Regulação de Infraestruturas para combustíveis alternativos. Já a primeira vai falar sobre a importância das matérias-primas críticas e estratégicas para a transição climática, bem como apresentar os projetos de incorporação de energias renováveis em antigas áreas mineiras remediadas, além das práticas de responsabilidade social e ambiental em Portugal do setor extrativo, “crucial para diminuir o impacto ambiental territorial, em pleno respeito e participação das comunidades locais”, indica a empresa.

Em paralelo, duas energéticas, EDP e PRF, vão fazer as apresentações de alguns dos seus projetos. A EDP dedicar-se-á ao Windfloat, o primeiro parque eólico offshore flutuante do mundo, que está plantado ao largo de Viana do Castelo, e a PRF vai exibir os projetos que desenvolve ligados ao hidrogénio, “desde postos de abastecimento até sistemas de injeção de hidrogénio nas redes de gás natural e projetos para a indústria”. Na mesma data, a Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) vai liderar o painel “o papel do hidrogénio verde na transição energética”.

No dia 10, a consultora EY promove o painel “Das COP à Ação: Gerir os Desafios Interligados do Clima e Biodiversidade”. Há também mais duas apresentações de projetos, desta vez o solar flutuante que a EDP instalou no Alqueva e a gigabateria que a Iberdrola tem no rio Tâmega. No caso da EDP, vai estar em destaque, já fora do pavilhão de Portugal – espaços dedicados a energias renováveis, um projeto no deserto do Arizona e outro em Singapura.

No pavilhão não estarão, contudo, só empresas. A Fundação Calouste Gulbenkian é uma das entidades mais ativas. Mas também há “espaço” guardado para algumas organizações não-governamentais, como a Business as Nature, a Zero e a WWF/ANP e, por fim, para entidades estatais como a AGIF – Agência para a Gestão Integrada de Fogos, o ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT), o Instituto da Mobilidade e dos Transportes e a ADENE – Agência para a Energia.

Fica desta forma patente que o Pavilhão de Portugal não é o único lugar onde se podem encontrar empresas portuguesas no âmbito da conferência climática. Por exemplo, o Crédito Agrícola, que não faz parte deste programa, marcou presença na COP28 através do painel “Igualdade de Género e Transição Climática”, para partilhar a visão do CA em se pode conciliar uma economia competitiva e acelerar o progresso social, enquanto se respeitam os limites do planeta, refletindo sobre o papel do setor financeiro nesse caminho.

Empresas desvalorizam eventual conflito de interesses da organização

No geral, estas empresas não se mostram preocupadas com o facto de o evento ser presidido por um CEO de uma petrolífera, e ter lugar num país produtor de petróleo. A Get2C desvaloriza, indicando que “várias COP foram organizadas em locais tão ou mais polémicos do que o Dubai”, dando o exemplo de Katowice, “cidade conhecida pela indústria de carvão”, ou o Egito, “que não prima por um comportamento exemplar”. “Acreditamos que o facto de ser o Dubai o país anfitrião não influenciará os resultados da COP”, pontua a consultora. A Fidelidade não crê que a organização não será o ponto focal: “Mais do que o local, é o conteúdo e a ambição deste encontro internacional“, afirma.

A PRF não só não considera prejudiciais as características da organização como, em oposição, considera que “ter o Dubai como país anfitrião pode influenciar positivamente a COP28“, entendendo que “a região tem mostrado um compromisso crescente com a transição para energias mais limpas”, pelo que a empresa espera que a localização possa “catalisar discussões sobre a diversificação económica e a importância de adotar tecnologias sustentáveis”.

 

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