Da construção aos media, os negócios do “campeão” das obras detido na Madeira
O empresário madeirense está presente em vários negócios, com participações em empresas que vão desde a construção e media à gestão de resíduos ou concessões.
O madeirense José Avelino Aguiar Farinha começou o seu percurso nos negócios há mais de quatro décadas. A constituição da Avelino Farinha & Agrela, no concelho da Calheta, onde nasceu, esteve na origem da criação do grupo AFA, em 1981. Da construção, o “campeão” dos ajustes diretos e obras públicas da Madeira expandiu para outros setores, como o turismo ou os media.
A partir da Madeira, o empresário, detido esta quarta-feira pelo DCIAP por suspeita de vários crimes económicos, acumula negócios que vão desde a construção, imobiliário, hotelaria e media até ao tratamento de resíduos ou ao cimento.
Avelino Farinha envolveu-se desde cedo na vida política e comunitária. Depois de ter iniciado a sua formação no Seminário Dehoniano, onde estudou durante 5 anos no Funchal, aos quais se seguiram mais 2 anos em Coimbra, começou a sua atividade profissional como topógrafo no Gabinete de Apoio às Autarquias Locais, tendo depois passado pela Câmara Municipal da Calheta, de onde é natural e onde sediou empresas.
A primeira empresa, a Avelino Farinha & Agrela, criou-a com apenas 20 anos. Apesar deste início precoce na vida profissional, o empresário madeirense sempre apoiou o desporto, através da criação e direção de diversas associações desportivas e recreativas, tais como o Clube de Ténis, o Clube Naval e o Estrela da Calheta Futebol Clube. Mas é no grupo AFA que obtém o reconhecimento e a fortuna.
É através da AFA SGPS, uma sociedade detida pela Calheta SGPS, de que José Avelino Farinha é o único acionista, que o empresário controla todas as empresas do grupo. Com sede no Impasse Estaleiro, 11, na Calheta, uma morada onde surge apenas uma pequena moradia, a sociedade apresenta um capital social de 15,25 milhões de euros. Em 2022 teve lucros de 70,2 milhões de euros, segundo dados da Informa DB.
São oito as empresas onde o empresário detém participações maioritárias através da AFA SGPS:
- Verbum Media – Comunicação
- Radiurbe – Produção e Comércio de Publicidade Rádio
- Afaconstroi Engenharia Construções, em Angola
- Solinertes – Extração de Inertes
- AFA – Energias
- AFAVIAS – Engenharia e Construções
- Investmad – Engenharia
- Savoy – Investimentos Turísticos
Além destas posições de controle, o “império” da AFA conta ainda com participações minoritárias ou igualitárias em outras sete sociedades: OATA SGPS; PRIMA – Gestão de Resíduos; Novo Milénio – Empreendimentos Imobiliários; ECORAM – Tratamento de Resíduos; Cimentos Europa; InvesLisboa e Construtora do Tâmega.
Apesar da longa lista de negócios em que está presente, o grosso da faturação continua a ser gerado através da construção.
O Grupo AFA, do qual Avelino Farinha é o único acionista, fatura atualmente cerca de 300 milhões de euros por ano, dos quais 200 milhões através da AFAVIAS, a empresa responsável pelo negócio da construção civil e das grandes obras, de acordo com os dados tornados públicos aquando da audição de Avelino Farinha na comissão de inquérito no parlamento madeirense, em março do ano passado, onde foi ouvido precisamente pela suspeita de ser um grupo económico favorecido pelo regime madeirense.
O braço da construção tem sido apontado por diversas vezes como tendo beneficiado pela adjudicação de grandes empreitadas na ilha da Madeira. Com ligações ao regime político na região e amizade a Alberto João Jardim, presidente do Governo Regional entre 1978 e 2015, o empresário é considerado o “campeão” dos ajustes diretos e das obras públicas na Madeira, com o grupo por ele controlado a ganhar a maioria das obras.
Com mais de 3000 empreitadas, que incluem a integração no consórcio da construção da via rápida Quinta Grande – Ribeira Brava, em 1996, o grupo tem participado em vários projetos na ilha, que vão desde a construção de estradas, até hospitais, construção de centrais hidroelétricas, barragens, etc. Uma longa lista que tem revertido em muitos milhões para a empresa de Avelino Farinha, que entretanto saltou da Madeira para outros mercados, tendo instalado sucursais em Angola, Colômbia e Guiné Equatorial.
Do imobiliário ao turismo
A AFA mantém ainda negócios no setor do turismo e do imobiliário, através da marca AFA Real Estate. O grupo construiu o primeiro hotel, o Calheta Beach, em 1999, tendo acrescentado outros projetos ao longo dos anos seguintes. Já em 2015, reforçou a sua presença no setor com a aquisição de três hotéis Savoy ao empresário Joe Berardo, num negócio de 115 milhões de euros.
Em 2019, 20 anos após ter construído o primeiro hotel, o grupo lançou uma nova imagem dos hotéis Savoy Signature e lançou a marca Savoy Residence, para uma gama imobiliária mais elevada, no Funchal.
Controlo dos media locais
O grupo controlado por Avelino Farinha detém ainda várias participações nos media. Em 2017, investiu na Rádio Calheta e Rádio Santana e comprou 50,5% da EJM (empresa detentora da ‘Rádio JM’ e do ‘Jornal da Madeira’).
Os investimentos neste setor passaram por uma reformulação dentro do grupo e em 2020, a Verbum Media – Comunicação, Lda., passou a concentrar todas as participações nas empresas de Comunicação Social, tendo ainda adquirido 36,8866% do capital da EDN (Diário de Notícias da Madeira), segundo a informação no site da empresa.
Além das suspeitas de favorecimento na concessão de obras públicas, Avelino Farinha está ainda a ser investigado pelos negócios nos media. Segundo o DCIAP, a investigação inclui apoios à comunicação social.
Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira, é suspeito de condicionamento editorial de órgãos de comunicação social, mas também de controlo financeiro de jornais regionais, através de privados ligados ao governo regional.
Dos resíduos ao cimento
Na lista dos negócios de Avelino Farinha estão ainda várias empresas na área dos resíduos, comercialização e extração de inertes, concessões e comercialização de cimentos.
Vários destes negócios estão agora sob investigação. De acordo com o comunicado do DCIAP, sob investigação estão várias dezenas de adjudicações em concursos públicos envolvendo, pelo menos, várias centenas de milhões de euros.
Suspeita-se, designadamente, que as sociedades visadas tenham tido conhecimento prévio de projetos e dos critérios definidos para a adjudicação, assim como acesso privilegiado às propostas e valores apresentados pelas suas concorrentes diretas nos concursos, o que lhes terá possibilitado a apresentação de propostas mais vantajosas e adequadas aos requisitos determinados.
Além de Avelino Farinha foram ainda detidos, no âmbito desta investigação, Pedro Calado, presidente da Câmara do Funchal e do PSD Madeira e Caldeira Costa, do PSD/Braga.
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