José Neves demite-se da Farfetch. Plano de despedimentos arranca em Portugal esta sexta

O português José Neves demitiu-se da liderança da Farfetch que vendeu à Coupang há menos de dois meses. A empresa sul-coreana prepara-se para avançar com despedimentos em Portugal já esta sexta.

O fundador da Farfetch, o português José Neves, apresentou a sua demissão do cargo de CEO da empresa de venda online de bens de luxos, comprada em dezembro pela Coupang. O dono da empresa sul-coreana, Bom Kim, e a equipa executiva assumem a liderança da companhia, que se prepara para avançar com despedimentos, começando por Portugal já esta sexta, segundo um email a que o ECO teve acesso.

A saída de José Neves, comunicada por email aos trabalhadores, coincide com a saída de outros importantes executivos da empresa, nomeadamente Elizabeth Von Der Goltz, responsável de moda da Farfetch e CEO da Browns, e Kelly Kowal, responsável pela Farfetch Platform Solutions (FPS), e antes da Coupang iniciar um plano de despedimentos de grande escala, que arranca já amanhã em Portugal.

“Após uma cuidadosa consideração, decidimos simplificar o negócio para nos permitir operar a partir de uma posição de solidez financeira e focar no que fazemos de melhor: oferecer experiências excecionais para marcas, boutiques, clientes FPS e clientes. Esta nova organização, mais bem estruturada, continuará a avançar com velocidade para desbloquear todo o potencial do espaço de luxo online em que a Farfetch foi pioneira”, pode ler-se no email enviado aos funcionários.

Iniciaremos o processo de despedida de colegas e amigos que foram partes importantes da jornada da Farfetch até agora. As conversas com as pessoas afetadas por estes despedimentos terão início em Portugal amanhã.

Farfetch

A mensagem partilhada dá nota que a nova gestão vai ter que tomar “decisões difíceis”, partilhando uma lista de oito executivos (Hélder Dias, Kelly Kowal, Edward Sabbagh, Sindhura Sarikonda, Tim Stone, Luís Teixeira, Nick Tran e Elizabeth Von Der Goltz) que já abandonaram a empresa e adiantando que “este processo exige a difícil decisão de remover funções redundantes“. “Iniciaremos o processo de despedida de colegas e amigos que foram partes importantes da jornada da Farfetch até agora“.

As conversas com as pessoas afetadas por estes despedimentos terão início em Portugal amanhã, 16 de fevereiro, e no Reino Unido e outras geografias a partir de segunda-feira, 19 de fevereiro”, adianta o mesmo email a que o ECO teve acesso.

Em declarações ao ECO, fonte oficial da Farfetch refere que “esta decisão [de avançar com um plano de despedimentos] permite sustentar o futuro do negócio e como resultado permite que a Farfetch opere numa posição reforçada e focada naquilo que faz melhor: fornecer experiências excecionais para as marcas, boutique e clientes”, acrescentando que “Portugal continua a ser uma base importante para a Farfetch“.

Apesar de dar nota do início do plano de despedimentos, a empresa, que tinha cerca de 6.800 colaboradores no final de 2022, não adiantou quantos postos de trabalho serão eliminados.

José Neves abandona o cargo de CEO mas irá manter-se na Farfetch como consultor e não será substituído no cargo de CEO, refere a revista WWD. Bom Kim, dono da Coupang, a empresa que em dezembro avançou para a compra da empresa luso-britânica, através da injeção de 500 milhões de dólares, juntamente com a equipa executiva da plataforma de moda de luxo, assume interinamente a liderança da empresa.

Acordo relâmpago deixou investidores sem nada

A notícia da demissão de José Neves surge menos de dois meses depois de ter sido anunciada a venda aos sul-coreanos da Coupang e duas semanas após a conclusão da aquisição. Apesar do acordo ter permitido uma injeção imediata de capital e ter permitido à plataforma continuar a sua atividade normalmente, as condições da venda foram muito criticadas pelos investidores, cujos investimentos em ações e obrigações convertíveis foram reduzidos a zero.

Quando a venda estiver consumada, a Farfetch Limited estima que os detentores das ações ordinárias de classe A e B e as notas convertíveis não recuperarão qualquer valor do investimento na Farfetch”, adiantou a empresa em comunicado aquando da realização do negócio.

Os trabalhadores também foram penalizados com as condições do acordo, uma vez que José Neves os incluiu no plano de distribuição de ações. “No caso da Farfetch, tentamos criar um pacote mais atrativo possível. Posso dar o exemplo de algo invulgar – certamente no tecido empresarial português, mas mesmo a nível internacional – que é todos os colaboradores da Farfetch serem acionistas”, adiantou o empresário nortenho em entrevista ao ECO em fevereiro do ano passado, referindo que “parte da nossa compensação é em ações”.

“Estamos a criar valor e, se todos colaborarmos na criação desse valor, todos vamos colher esses benefícios. São mais de 100 milhões de dólares por ano – em 2020 e 2021 foram entregues cerca de 80 milhões em ações aos colaboradores – que pagamos em ações aos nossos colaboradores. Mais um exemplo de algo de inovador que temos na Farfetch e que tem funcionado muito bem”, confirmava. Perante o desfecho confirmado em dezembro, quem manteve as ações em carteira perdeu estas remunerações.

(notícia atualizada às 16:50)

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