Instalação de painéis solares nas casas trava em 2023, mas EDP já vê recuperação
As contratações de projetos de energia solar para clientes residenciais em Portugal desacelerou no segundo semestre de 2023. Mas a EDP já detetou uma recuperação no início de 2024.
“A febre do solar nos telhados arrefece na soalheira Espanha.” Foi como a Reuters descreveu, num artigo recente, que o número de instalações de painéis solares nas casas caiu, no ano passado, no país vizinho. No segundo semestre de 2023, a EDP detetou uma tendência semelhante em Portugal, embora mais suave. Mas o início de 2024 aponta para uma recuperação.
“Apesar de o número de contratações de projetos de energia solar para clientes residenciais ter desacelerado no segundo semestre de 2023, em comparação com valores recorde registados nos anos anteriores, o mês de janeiro de 2024 já representou alguma recuperação face aos meses anteriores”, indica fonte oficial da elétrica portuguesa ao ECO/Capital Verde.
“Portugal registou em 2023, ainda assim, uma queda inferior a Espanha”, continua a empresa. De acordo com a EDP, a diferença justifica-se porque o país “ainda apresenta um mercado potencial elevado”, já que “apenas” cerca de 20% das habitações com potencial para a instalação já possuem soluções fotovoltaicas.
A EDP estima ter uma quota de mercado de 70% na instalação de painéis fotovoltaicos em contexto residencial em Portugal, embora admita ter limitações no apuramento. Para efeitos desta quota, a empresa considera todos os projetos com menos de 4 kWp (quilowatts-pico).
Em Espanha, relata a Reuters, o número de instalações de painéis solares nas casas caiu no ano passado, pela primeira vez desde 2018. Foram 112.000 os espanhóis a erguerem este tipo de soluções nas suas casas, cerca de metade do verificado em 2022, que foi um ano recorde.
Os analistas consultados pela agência apontam para “preços da energia mais baixos” e “o aperto nos orçamentos familiares decorrente da inflação” como as principais razões para a evolução negativa no país vizinho, ao mesmo tempo que os subsídios foram chegando ao fim. A tendência de declínio no entusiasmo face ao solar será generalizada, sentindo-se um pouco por toda a Europa, mas com particular incidência em Espanha, comentam os especialistas.
Em Portugal, apenas um quinto das casas com potencial para instalar soluções de autoconsumo já aderiu a esta forma de produzir energia.
No total do ano de 2023, contudo, a EDP instalou o mesmo número de megawatts que em 2022, “num sinal de crescimento da empresa no mercado”, afere.
A Cleanwatts, especializada na instalação de Comunidades de Energia Renovável (CER), mostra confiança em relação ao mercado: “Na nossa procura por membros de CER no setor residencial, conseguimos perceber que as soluções de energia renovável descentralizada continuam a despertar uma elevada procura”, não tendo “indicação” da existência de quebras. A Otovo, parceira da Cleanwatts na instalação de projetos residenciais, aponta “uma tendência de crescimento”, associada ao lançamento de apoios à instalação de painéis solares no ano passado, mas também a modalidades de compra menos pesadas para a carteira dos consumidores.
"Se por um lado os incentivos do Estado ajudam a compensar eventuais abrandamentos de mercado, por outro, o modelo de subscrição Otovo tem sido um fator que contribui para o aumento da procura”
“Se por um lado os incentivos do Estado ajudam a compensar eventuais abrandamentos de mercado, por outro, o modelo de subscrição Otovo tem sido um fator que contribui para o aumento da procura”, indica esta empresa norueguesa, que está presente no mercado português desde 2022. Mais de dois terços das vendas da Otovo fazem-se neste “campeonato” da subscrição, que propõe ao consumidor que pague uma mensalidade para usar os painéis solares, em vez de os adquirir, o que implicaria um investimento inicial. Na modalidade de subscrição, os clientes poupam em média 20 euros por mês na conta da luz, enquanto adquirindo os painéis a poupança será de 50 euros, mas exige o investimento inicial e a respetiva amortização.
A Greenvolt, que também tem uma forte aposta em soluções de autoconsumo, sublinha que o respetivo foco de atuação é o segmento empresarial, no qual tem registado “um crescimento exponencial dada a cada vez maior propensão das empresas para esta energia mais barata e mais limpa”, indica fonte oficial.
Apoios ajudam a procura
A instalação de unidades solares de produção para autoconsumo tem crescido a pique, considerando todo o tipo de instalações, das domésticas às empresariais. “A potência instalada mais que quadruplicou entre 2021 (0,3 GW) e 2023 (1,6 GW), traduzindo o crescimento exponencial e muito mais evidente que nos anos anteriores”, descreve a Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), em declarações ao ECO/Capital Verde, com base nos dados da Direção Geral da Energia e Geologia. No entanto, “a potência instalada em UPAC [Unidade de Produção para Autoconsumo] não é apresentada com distinção por setor, entre doméstico, comercial e industrial, pelo que não é possível compreender o real crescimento da instalação de painéis solares fotovoltaicos em habitações”, ressalva.
Os meses mais fortes de instalações em Portugal foram maio de 2022 e junho de 2023, tendo-se registado uma adesão significativa também entre setembro e outubro deste segundo ano.
A APREN realça que o incremento registado em maio coincidiu com o mês de fecho da segunda fase do “Programa Edifícios mais Sustentáveis” 2021/2022, que encerrou a 2 de maio de 2022. Em 2023 foi também lançado um aviso no âmbito do “Programa Edifícios mais Sustentáveis”, para o qual o período de candidaturas decorreu entre 16 de agosto e 31 de outubro, “justificando os valores elevados registados em setembro e outubro de potência instalada”, avalia a associação.
“É possível verificar que a existência de incentivos ao investimento neste tipo de sistemas coincide com o aumento evidente da potência instalada em UPAC, pelo que é expectável que, mantendo este tipo de apoios, os portugueses irão continuar a apostar na descarbonização dos seus consumos domésticos”, conclui a APREN.
É expectável que, mantendo este tipo de apoios, os portugueses irão continuar a apostar na descarbonização dos seus consumos domésticos.
O Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC 2030) tem como meta 5,5 gigawatts (GW) de potência solar fotovoltaica descentralizada instalada, faltando instalar cerca de 4 GW durante os próximos sete anos, frisa a APREN. Ao longo deste período, o aumento da eficiência energética será em parte financiado diretamente pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que tem um montante de 300 milhões de euros alocados para a eficiência energética em edifícios residenciais.
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