Opositores à OPA da Bondalti têm dez dias para a contestar em Portugal
O caminho até ao sucesso da OPA sobre a química espanhola Ercros ameaça ser longo e duro, passando por Madrid e Bruxelas. Deste lado da fronteira, a Autoridade da Concorrência deu o primeiro passo.
Está dado o primeiro passo naquele que será certamente um duro e longo caminho até à eventual concretização da oferta pública de aquisição (OPA) lançada pela portuguesa Bondalti sobre 100% das ações da gigante espanhola Ercros, na qual a oferece 3,6 euros por ação. Em Portugal, após ter sido notificada a 8 de março desta operação de concentração, a Autoridade da Concorrência lançou o respetivo Aviso, que dá um prazo de dez dias úteis para que os interessados possam expor as suas objeções.
“Quaisquer observações sobre a operação de concentração em causa devem identificar o interessado e indicar o respetivo endereço de e-mail e n.º de telefone. Se aplicável, as observações devem ser acompanhadas de uma versão não confidencial, bem como da respetiva fundamentação do seu caráter confidencial, sob pena de serem tornadas públicas”, lê-se no documento publicado esta quinta-feira.
Foi a 5 de março que a empresa química do Grupo José de Mello, através da subsidiária Bondalti Ibérica, com sede em Barcelona, anunciou esta operação em que oferece um prémio de 40,6% face à cotação de fecho registada na véspera (2,56 euros), mas que está cerca de 20% abaixo do máximo de 4,80 euros fixado há menos de um ano, em abril de 2023. O negócio avalia a companhia em 329 milhões de euros e está condicionado à aceitação de mais de 75% do capital.
Entretanto, do país vizinho já começaram a chegar os sinais de que não terá vida fácil a empresa portuguesa que lucrou 52 milhões de euros em 2022 – está presente em Espanha há mais de 20 anos e pretende retirar as ações da Ercros da bolsa. Primeiro, foi o conselho de administração a assinalar que a OPA foi “não solicitada” e “não acordada” previamente com a companhia espanhola, decidindo nomear um consultor jurídico e um financeiro para a assessorar na operação e na defesa dos interesses dos investidores.
Já esta semana, o advogado madrileno Víctor Manuel Rodríguez Martín, que liderou importantes revoltas de pequenos investidores à frente da Ercros, tornou-se o maior acionista deste grupo industrial catalão que emprega 1.350 pessoas e que em 2023 atingiu uma faturação de cerca de 750 milhões e lucros de 27,5 milhões de euros. O investidor, que passou a controlar mais de 6% da companhia e mostra desta forma que estará a preparar a sua oposição a OPA, considerou ainda que a oferta “é baixa e aproveita a debilidade da empresa”.
Mesmo com esta alteração na estrutura acionista, o poder continua a estar concentrado na mão dos pequenos investidores. Menos de 21% das ações correspondem a participações superiores a 3% do capital. Apesar de o advogado ser o maior investidor individual, o casal Joan Casas Galofré e Montserrat García Pruns controla em conjunto junto perto de 10% do capital. Surgem como os principais beneficiários da oferta, caso decidam aceitar os termos propostos pela empresa lusa. Se venderem na OPA encaixam 31 milhões de euros. Já o fundo norte-americano Dimensional Fund, participado pelo ex-ator e governador Arnold Schwarzenegger, detém 4,99%.
À espera do “ok” em Madrid e Bruxelas
Se em Portugal está dado o pontapé de saída, do outro lado da fronteira, depois de a proposta ter sido recebida pela Comisión Nacional del Mercado de Valores (CNMV), vários organismos terão de se pronunciar favoravelmente antes que o regulador da bolsa espanhola possa dar o “ok” definitivo e comece então o prazo de 30 dias para que os acionistas interessados decidam ou não vender os seus títulos.
E o primeiro obstáculo deverá ser a autorização do Governo espanhol, por meio do mecanismo legal conhecido como “escudo anti-OPA” que foi criado na altura da pandemia para evitar que investidores estrangeiros tomassem posições relevantes em empresas estratégicas, aproveitando a descida das cotações bolsistas.
Por outro lado, a Comisión Nacional de los Mercados y la Competencia (CNMC), congénere da Autoridade da Concorrência, terá também de aprovar a transação. Por fim, embora a empresa portuguesa confie que isso não venha a ser necessário, poderá ainda haver lugar a um pronunciamento por parte da Comissão Europeia.
A empresa liderada por João de Mello já garantiu que vai manter a sede da Ercros em Barcelona, assim como os postos de trabalho e a presença nas quatro regiões em que opera (Catalunha, Comunidade Valenciana, Aragão e Madrid). Sublinhou ainda, no anúncio da OPA, que tem “plena confiança no trabalho da equipa de gestão” liderada por Antonio Zabalza e que tem sido criticado pelo novo maior acionista do grupo espanhol.
No país vizinho, a Bondalti emprega mais de 200 pessoas e controla atualmente duas unidades produtivas — em Torrelavega (Cantábria) e em Alfaro (La Rioja) –, assim como um centro logístico em Vigo, além de quatro escritórios em Barcelona, Madrid, Pontevedra e Logronho.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Opositores à OPA da Bondalti têm dez dias para a contestar em Portugal
{{ noCommentsLabel }}