Baterias alternativas ao lítio chegam a Portugal
As baterias de fluxo de ferro, à base de água, ferro e sal, entram em Portugal pela primeira vez esta quinta-feira, depois de uma empresa ter ido buscar esta tecnologia aos Estados Unidos.
A Goldbreak, uma empresa portuguesa especializada no armazenamento e produção de energia, traz esta quinta-feira para Portugal baterias feitas com base numa nova tecnologia, alternativa ao lítio, com o objetivo de as difundir junto da indústria e grandes consumidores de energia. São as chamadas baterias de longa duração de fluxo de ferro.
A chegada das duas primeiras unidades ao Porto de Leixões acontece esta quinta-feira, 11 de abril. São as primeiras a chegar à Península ibérica e só há mais cinco na Europa, indica a empresa. A Goldbreak, responsável pela sua chegada, não é nem o produtor nem o destinatário: é a representante da ESS em Portugal.
Um dos dois sócios responsáveis pela Goldbreak, António Queirós, conta ao ECO/Capital Verde que, como consultor de projetos de investimento, estava à procura de oportunidades de negócio quando “tropeçou” nesta nova tecnologia e na ESS, que produz as baterias, numa fase em que a empresa norte-americana estava a abrir-se ao mercado externo. “Começámos a entrar em contacto e a trabalhar a ideia de trazer a tecnologia para cá“, o que culminou numa visita à empresa em março de 2022, conta.
As baterias terão como destino a unidade industrial Falual Metalomecânica, na Trofa, onde será simultaneamente instalada, também pela Goldbreak, uma central de produção fotovoltaica. Foi António Queirós quem bateu à porta da Falual a propor esta solução. As baterias, com uma capacidade de cerca de 500 quilowatts, vão ser usadas para armazenar os excedentes produzidos pela central fotovoltaica, pelo que a energia pode ser consumida mais tarde pela empresa ou mesmo ser usada para injetar na rede elétrica, sendo portanto vendida.
Do lado da Falual, explica fonte oficial, o objetivo é “fazer uma gestão mais eficiente da energia” e ganhar autonomia energética. Espera que a instalação de capacidade solar e das baterias seja o suficiente para cobrir “todos os consumos internos”, desde a parte administrativa até à produção, o que se traduz numa poupança de até 80 mil euros anualmente, tanto quanto pagam de energia. Segue-se agora um período durante o qual a empresa espera perceber os ganhos reais.
Fundos comunitários apoiam instalação
Este é um projeto avaliado em um milhão de euros, no conjunto da bateria, dos painéis fotovoltaicos e dos sistemas de segurança, indica a empresa. Conta com um financiamento comunitário de mais de 70%, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência. O resto do valor é pago com fundos próprios. “Era um esforço elevado para nós sem a ajuda do PRR, teríamos de optar por soluções mais em conta”, diz fonte oficial. A empresa registou, em 2023, um volume de negócios perto de 13 milhões de euros, e emprega 150 trabalhadores. Produz componentes de grande dimensão para a indústria petrolífera e para o setor das renováveis.
"Era um esforço elevado para nós sem a ajuda do PRR, teríamos de optar por soluções mais em conta.”
A Goldbreak reforça que o investimento nestas novas tecnologias “são sempre muito elevados”, pelo que “não são passíveis de serem considerados pelas empresas sem apoios massivos dos Governos”, seja através do PRR ou outros pacotes comunitários, como o Portugal 2030.
Uma tecnologia já testada e amiga do ambiente
“Esta tecnologia já passou toda a fase de prototipagem e teste de exploração. É uma tecnologia já perfeitamente testada”, afirma António Queirós, que conta “vários projetos” nos Estados Unidos e cerca de cinco implementados na Europa, em países como a Alemanha, Holanda e Noruega.
“O que as distingue das baterias de lítio é o número ilimitado ciclos” sem perder a capacidade de recarregar, indica o responsável da Goldbreak.
De acordo com um comunicado enviado pela Goldbreak à imprensa, as baterias de longa duração de fluxo de ferro recorrem a elementos (água, ferro e sal) abundantes na natureza, cuja recolha “é completamente inócua em termos ambientais”. A respetiva vida útil será superior a 20 anos, estima, e a sua eliminação é “igualmente inofensiva ambientalmente”.
"[Estas baterias são] uma resposta capaz às questões que a transição energética coloca às empresas e aos governos.”
Assim, António Queirós classifica estas baterias como “uma resposta capaz às questões que a transição energética coloca às empresas e aos governos“. Para Eric Dresselhuys, CEO da ESS Tech, citado no comunicado, “esta parceria demonstra de uma forma consistente o papel central que o armazenamento de energia de longa duração desempenhará num sistema de energia resiliente e sem carbono, demonstrando o papel crítico da tecnologia de fluxo de ferro num sistema de energia descarbonizado”.
Startups, pequenas e médias empresas a afirmarem-se
Foi em 2022, na sequência da visita de António Queirós à ESS, que nasceu a Goldbreak, criada para fazer consultoria e trazer soluções inovadoras na área de armazenamento de energia. “Fazemos estudos das necessidades dos clientes e apresentamos soluções”, afirma Queirós. Criou a empresa em parceria com Nuno Marques, que nessa altura mantinha um negócio dedicado à instalação de centrais fotovoltaicas. Já Queirós, através do trabalho na sua empresa própria, a Eirostec, trazia experiência na captação de investimento direto estrangeiro e na captação de financiamento para projetos.
Hoje em dia, na Goldbreak, faz-se a ponte com os clientes que queiram apostar em tecnologias como a produção de energia a partir de resíduos (a pirólise), ou que queiram instalar baterias, de lítio ou não, e centrais fotovoltaicas. “Mas os produtos que nos diferenciam são mesmo as baterias de fluxo de ferro e a produção de energia por pirólise”, aponta António Queirós.
O terceiro elemento desta história, a ESS Tech, é uma empresa norte-americana especializada em armazenamento de energia, em particular na tecnologia de fluxo de ferro. Foi fundada em 2011, e desde então tem vindo a testar e a desenvolver este tipo de baterias, até ter feito o lançamento comercial em 2015. Pelo caminho, conquistou o interesse da Breakthrough Energy, um veículo de investimento gerido por Bill Gates.
“A comercialização de tecnologias climáticas críticas é necessária para atingir a neutralidade carbónica. A nova parceria entre a ESS e a Honeywell [que tem várias áreas de negócio, incluindo o armazenamento] é um exemplo incrível disso mesmo. A ESS é parte do portefólio da Breakthrough Energy desde 2019, e o investimento da Honeywell é um voto claro de confiança na abordagem desta empresa ao armazenamento de longa duração”, lê-se numa publicação de há cinco meses, feita pelo bilionário norte-americano na respetiva página do LinkedIn.
A tecnologia da ESS chega agora a Portugal através da Goldbreak porque existiu sintonia no que toca ao plano de expansão internacional da norte-americana, acredita António Queirós. “Nem sempre as empresas grandes e mais antigas têm vantagens, principalmente quando estamos a falar de startups, que têm uma capacidade limitada de produção”, explica.
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