Centeno deixa aviso aos bancos: “Devem poupar hoje” para não voltarem aos “momentos de aflição”

"O que devem fazer com os lucros? Devem poupar para... não voltar aos momentos de aflição", disse o governador num momento em que os bancos se preparam para distribuir dividendos de 1,3 mil milhões.

O governador do Banco de Portugal avisou esta quarta-feira os bancos que devem usar os lucros para “criar almofadas”. “Devem poupar hoje para depois fazer face… para não voltarmos a viver momentos de aflição – que estão fora do cenário – que tivemos há pouco tempo”, referiu Mário Centeno no Parlamento.

No ano passado, os maiores bancos portugueses tiveram lucros de 4,4 mil milhões de euros, à boleia da subida das taxas de juro, e preparam-se para distribuir dividendos na ordem dos 1,3 mil milhões de euros aos acionistas, mais do dobro do ano anterior.

Ouvido na Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública (COFAP), Mário Centeno considerou que se tratam de “resultados transitórios e temporários”, avisando que “o ciclo da política monetária vai continuar a evoluir, as taxas de juro vão baixar”.

Nesse sentido, líder do supervisor bancário pediu prudência aos bancos. Lembrou mesmo que os bancos vêm de “um período muito negativo, muito difícil” na década passada.

“Se somarmos os resultados dos bancos desde a crise, a média dos resultados são 120 milhões líquidos”, revelou.

BdP tem “almofadas” para cobrir prejuízos

Mário Centeno assegurou ainda aos deputados que o Banco de Portugal dispõe de provisões suficientes para a cobertura das perdas que antecipa para este ano e para o próximo. “O banco tem almofadas que permitem responder a este desafio”, disse o governador depois de confrontado com os prejuízos operacionais de mais de mil milhões de euros que o supervisor teve no ano passado e que obrigou à mobilização de 27% das provisões para riscos gerais.

Segundo adiantou, tendo em conta os dados que se conhecem hoje, “o ciclo de resultado negativos se vai prolongar por mais dois anos”, existindo uma “expectativa que em 2026 se retorne a uma situação regular”, ou seja, que o Banco de Portugal regresse aos lucros daqui a dois anos.

Centeno falou mesmo numa “folga muito grande” de que dispõe para enfrentar os próximos tempos e frisou que atividade da instituição não está em causa e “nem depende dos resultados que gera”.

O Banco de Portugal acumulava “provisões para riscos gerais” na ordem dos 2,86 mil milhões de euros no final de 2023, após uma utilização de 1.054 milhões de euros para anular os resultados operacionais negativos do ano passado.

Centeno falou com ministro “poucos dias depois” de tomar posse

Sobre a polémica com o ministro das Finanças, que manifestou surpresa com os resultados operacionais negativos do Banco de Portugal, Mário Centeno revelou que o supervisor “sempre comunicou do ponto de vista institucional com o Ministério das Finanças todos os momentos relevantes da apresentação dos resultados”.

“Há outros contactos para além destes”, prosseguiu. “Toda esta projeção de resultados foi sendo comunicada em conversas e reuniões com o Ministério das Finanças, nomeadamente com a pessoa do ministro das Finanças”, acrescentou, para depois revelar que a primeira conversa que teve com Miranda Sarmento foi “poucos dias depois da tomada de posse” como ministro das Finanças, e a pedido do governador. “Nessa altura tivemos oportunidade de falar com a mesma naturalidade”, contou Centeno aos deputados.

(Notícia atualizada às 12h41)

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