Economia, guerra e imigração dominam debate entre Biden e Trump

  • ECO e Lusa
  • 28 Junho 2024

No primeiro debate de sempre entre um ex-presidente e um Presidente em funções, analistas apontam desempenho abaixo das expectativas de Joe Biden e destacam as mentiras ditas por Donald Trump.

O primeiro debate presidencial de 2024 nos EUA, organizado pela CNN e que teve a duração de 90 minutos, aconteceu esta madrugada em Atlanta, num momento em que as sondagens mostram uma disputa apertada entre candidatos Joe Biden e Donald Trump, quando faltam menos de cinco meses para as eleições presidenciais. O segundo confronto está agendado para 10 de setembro.

No final de um debate aceso marcado por alguns insultos e por visões diferentes nos temas da economia, da guerra ou da imigração, os analistas apontaram para um desempenho abaixo das expectativas do candidato dos democratas e para o número elevado de mentiras ditas pelo rival, com os verificadores de factos a apontarem para mais de 30 ocasiões em que o republicano não disse a verdade.

A sondagem de rescaldo da CNN mostrou que os eleitores que assistiram ao debate deram a vitória a Donald Trump, com 67% contra 33% de Biden. A maioria (81%) disse que não mudou de opinião, enquanto 5% admitiram mudar o sentido de voto e 14% poderão vir a repensar. Veja os principais destaques do confronto entre os dois candidatos às presidenciais de 5 de novembro.

Biden herdou economia “em queda livre”

Joe Biden diz que herdou uma economia “em queda livre” quando chegou à Casa Branca e que passou os últimos anos a consertar os problemas deixados pelo antecessor Donald Trump, durante o primeiro frente a frente entre os candidatos presidenciais.

“A economia colapsou, não havia empregos, o desemprego subiu para 15%, foi terrível”, afirmou Biden no debate, ao ser questionado sobre a elevada inflação e a pressão dos preços sobre os consumidores. “Estamos a trabalhar arduamente para lidar com estes problemas”, disse Biden, caracterizando o que foi deixado pelo antecessor como “caos”.

Donald Trump refutou de forma incisiva esta caracterização, declarando que no seu mandato os Estados Unidos tiveram “a melhor economia na história do país” e “toda a gente estava maravilhada”. O ex-presidente defendeu os gastos “necessários” durante a pandemia de Covid-19 e disse que nunca recebeu o crédito devido por ter tirado o país da crise da pandemia. “Os únicos empregos que ele criou foram para imigrantes ilegais”, argumentou Trump, virando-se para Biden.

O republicano também defendeu os cortes de impostos que beneficiaram mais as grandes empresas e os mais ricos, garantindo que o governo conseguiu mais receitas com taxas mais baixas. “Os cortes de impostos levaram à melhor economia que alguma vez vimos”, disse Trump. “Estávamos prontos para começar a pagar a dívida”, defendeu, quando confrontado com o aumento significativo do défice durante a sua administração.

Pelo seu lado, Joe Biden argumentou que herdou 9% de inflação e que a economia durante Trump destruiu mais empregos que os que criou. “Ele é o único que pensa que esta era a melhor economia do mundo”, disse Biden. “Ele premiou os ricos”, continuou, frisando que Trump levou à “maior dívida nacional de qualquer presidente” e que se os milionários pagassem uma taxa de impostos justa seria possível financiar todo o tipo de programas sociais, incluindo subsídios para creches.

Trump disse que, se for eleito em novembro, vai impor tarifas de 10% a todos os bens importados e permitir responder aos países que têm estado a “ludibriar” os EUA, nomeando especificamente a China. Também contrariou Biden dizendo que ele não herdou nenhuma inflação.

Trump insiste que pode resolver guerra na Ucrânia…

O ex-presidente norte-americano Donald Trump prometeu “resolver” a guerra da Rússia na Ucrânia antes mesmo de assumir o cargo, com Joe Biden, o atual chefe de Estado, a alertar que o homólogo russo, Vladimir Putin, não ficará por Kiev.

No primeiro debate presidencial de 2024, Trump atacou Biden por dar à Ucrânia centenas de milhares de milhões de dólares e insistiu que seria capaz de acabar com a guerra da Rússia, apesar de não explicar como faria isso. O magnata republicano afirmou ainda que Putin o respeita, apesar de admitir que os termos que o presidente russo apresentou para acabar com a guerra da Rússia na Ucrânia “não são aceitáveis”.

“Esta é uma guerra que nunca deveria ter começado. Se tivéssemos um líder nesta guerra… Ele (Biden) deu 200 mil milhões de dólares ou mais agora à Ucrânia, deu 200 mil milhões de dólares. É muito dinheiro. Acho que nunca houve algo parecido”, disse Trump.

No entanto, Joe Biden alertou que Putin não se limitará à Ucrânia. “O facto é que Putin é um criminoso de guerra”, afirmou o democrata. “Ele (Putin) quer toda a Ucrânia. É isso que ele quer. E então você acha que ele vai parar por aí? Você acha que ele vai parar quando, se ele tomar a Ucrânia? O que você acha que acontecerá com a Polónia, Bielorrússia? O que você acha que acontecerá com países da NATO?”, questionou.

…e recusa culpa pelo ataque ao Capitólio. Biden chama-o de “choramingas”

Num debate em que, para evitar a repetição das cenas caóticas registadas no passado, foram ditadas regras incomuns, como a ausência de público, o silenciamento dos microfones ou a proibição dos candidatos trocarem ideias com a sua equipa durante os intervalos ou de levarem notas escritas para o palco, Trump recusou culpa pelo ataque ao Capitólio a 6 de janeiro de 2021 e Biden chamou-o de “choramingas”, apontando que o ex-presidente quer perdoar os assaltantes que foram condenados em tribunal.

“A Nancy Pelosi disse à sua filha que ela foi a responsável. Eu ofereci 10 mil elementos da Guarda Nacional e ela rejeitou por escrito”, afirmou Donald Trump, referindo-se à então líder democrata da Câmara dos Representantes. “Eu conseguia ver o que estava a acontecer e disse que era muita gente. E ofereci a Guarda Nacional e ela admite que rejeitou. Ela disse que assumiu responsabilidade total pelo 6 de janeiro”, argumentou o ex-presidente.

Joe Biden refutou a descrição do assalto ao Capitólio e acusou Trump de ter encorajado os seus apoiantes a atacarem o Congresso. “Imploraram-lhe que fizesse alguma coisa, o seu vice-presidente e colegas do Congresso, e em vez disso falou de grandes patriotas da América”, disse Biden. “Agora diz que quer perdoar as sentenças dos que foram condenados”, apontou.

Trump assumiu que sim porque considerou que os processos “destruíram a vida” de pessoas inocentes. “Agora ele diz que se perder outra vez, como choramingas que é, vai haver um banho de sangue”, afirmou Joe Biden. O republicado, por sua vez, acusou a comissão bipartidária de investigação do assalto de ter destruído documentos e informação porque, segundo ele, descobriram que o ex-presidente tinha razão. “Eles deviam ir para a prisão”, afirmou.

Biden aproveitou a deixa para lançar uma farpa relativa à condenação criminal de Trump: “A única pessoa que é um criminoso condenado aqui é o homem para quem eu estou a olhar”, disse. “O que ele está a dizer não é verdade. Ele não fez nada para acabar com o que estava a acontecer no Capitólio”. O democrata também se mostrou indignado com a ideia de que os assaltantes que “mataram pessoas, partiram janelas, ocuparam escritórios e derrubaram estátuas” sejam apelidados de patriotas.

Trump contra-atacou dizendo que o filho do presidente, Hunter Biden, também foi condenado em tribunal. “E ele [Joe Biden] pode ser um criminoso condenado assim que sair da Casa Branca, com base nas coisas horríveis que fez”, sugeriu Trump. “Este homem é um criminoso. Eu não fiz nada de errado”, defendeu o republicano.

Trump acusa Biden de liderar onda de “crimes migrantes”

Neste que foi o primeiro debate presidencial de 2024, o tema da imigração serviu para Trump atacar fortemente Biden, num dos momentos mais acesos na primeira meia hora do debate entre o Presidente democrata e o magnata republicano.

“Ele permitiu que milhões de pessoas viessem aqui desde prisões, cadeias e instituições psiquiátricas – para entrarem no nosso país e destruírem o nosso país”, acusou Trump, sem provas e apesar das estatísticas não confirmarem essa afirmação.

“Basta dar uma olhada onde eles (imigrantes) estão a morar. Eles estão a morar em hotéis luxuosos na cidade de Nova Iorque e em outros lugares”, acrescentou Trump, uma declaração que foi prontamente classificada como falsa pelo jornal New York Times.

Veteranos de guerra: “Parvo e perdedor”

Neste o primeiro debate presidencial entre os candidatos às eleições agendadas para 5 de novembro, que que teve dois intervalos comerciais e a moderação dos jornalistas Jake Tapper e Dana Bash, Joe Biden chamou ainda o rival Trump de “parvo e perdedor” numa discussão acesa sobre veteranos de guerra.

“O meu filho [veterano de guerra Beau Biden] não era um perdedor nem um parvo. Você é o parvo. Você é o perdedor”, apontou o candidato democrata à reeleição. Agitado, Biden abandonou o tom calmo que o caracteriza para recordar que recentemente visitou França para o aniversário do desembarque dos aliados da Normandia na 2ª Guerra Mundial e visitou o cemitério de militares mortos em combate, a que Trump se recusou a ir enquanto presidente.

Segundo revelou a revista The Atlantic, citando vários altos funcionários, quando era presidente Trump disse que não queria visitar os túmulos dos soldados norte-americanos enterrados em Aisne-Marne, o cemitério norte-americano perto de Paris, “por estar cheio de perdedores”.

Biden aproveitou para recordar este caso e afirmou que hoje existe “um grande respeito pelos veteranos”. Trump rejeitou a versão, atribuída ao seu ex-chefe de gabinete John Kelly, e disse ter testemunhas de que nunca proferiu tal afirmação sobre os veteranos. Na sequência, exigiu um pedido de desculpas a Biden por proferir afirmações falsas, o que este recusou.

Proibição nacional do aborto divide candidatos

O Presidente norte-americano Joe Biden acusou esta noite o seu rival Donald Trump de querer assinar uma proibição nacional do aborto, durante o primeiro debate das presidenciais entre os dois candidatos, em Atlanta, Geórgia. “O que é que ele vai fazer se a ala MAGA [“Make America Great Again”, afecta a Trump] controlar o Congresso e aprovar uma proibição federal?”, questionou Joe Biden. “Ele vai assinar essa lei [a proibir o aborto]. Eu vou vetar, ele vai assinar”.

O direito federal ao aborto foi revogado em junho de 2022 quando a super maioria conservadora do Supremo Tribunal, com três juízes nomeados por Donald Trump, anulou a decisão de 1973 conhecida como Roe v. Wade. “Foi a lei durante 51 anos”, apontou Joe Biden, num dos segmentos em que o presidente apareceu mais animado depois de um início anémico. “Eu apoio Roe v. Wade”, afirmou, considerando “ridícula” a ideia de que os fundadores dos EUA queriam que fossem os políticos a tomar decisões de natureza médica.

Do outro lado, Donald Trump congratulou-se por ter sido responsável pela revogação de Roe v. Wade e disse que a situação atual é a mais apropriada, em que os vários estados decidem o que fazer em relação ao aborto. Trump acusou os democratas de serem radicais e quererem poder abortar após o nascimento da criança, algo que Biden refutou. “Acredito em exceções para incesto, violação e perigo de vida para a mãe”, disse Donald Trump. O candidato republicano também disse concordar com a recente decisão do Supremo Tribunal de continuar a permitir a utilização de pílulas abortivas.

Biden recusou a ideia de que devem ser os estados a tomarem estas decisões e disse que seria a mesma coisa que devolver a decisão sobre o respeito dos direitos civis aos estados. Os rivais também discordaram sobre a posição dos especialistas constitucionais quanto ao aborto: Trump disse que todos queriam a anulação de Roe v. Wade, Biden disse que a vasta maioria concordava com a constitucionalidade da lei.

Desde que o direito federal ao aborto foi revogado, 14 estados proibiram o procedimento sem exceções e 7 restringiram fortemente o seu acesso. De acordo com os dados de 2024 do Pew Research Center, 63% dos eleitores norte-americanos dizem que o aborto deve ser legal em todos ou quase todos os casos, enquanto 36% consideram que deve ser ilegal em todos ou quase todos os casos.

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