“Ao ritmo atual, precisamos de mais de 100 anos para alcançar a paridade de género”
Em entrevista ao ECO, João Gunther Amaral, Chief Development Officer Sonae, explicou de que forma a diversidade e a inclusão são fatores diferenciadores para as empresas.
O BCSD Portugal está a preparar a Conferência BCSD Portugal 2024, marcada para o próximo dia 3 de julho, na Cordoaria Nacional, em Lisboa. Com o tema “Empresas com futuro: Como navegar para uma economia sustentável e justa?”, o evento reunirá líderes empresariais e especialistas de diversos setores para discutir estas questões cruciais.
A conferência abordará a relação entre os fatores de sustentabilidade internos e externos e a economia regenerativa. Também será debatido como a aposta na diversidade pelas empresas pode contribuir para uma economia mais competitiva. Além disso, serão explorados os desafios iminentes, tanto para as empresas quanto para o planeta, e as formas de desbloquear o financiamento com o poder das alianças para alcançar os objetivos estabelecidos.
João Gunther Amaral, Chief Development Officer Sonae, um dos oradores que marcará presença na conferência, partilhou, em entrevista ao ECO, a sua opinião sobre a importância que a diversidade e a inclusão têm na dinâmica das empresas.
Que benefícios podem a diversidade e a inclusão trazer às empresas?Num mundo em constante transformação, é impossível para uma única pessoa (o chefe) ter todas as respostas para os problemas que surgem. É aqui que a diversidade se torna essencial na gestão das empresas – ao procurar diferentes perspetivas, formas de pensar e soluções inovadoras.
Acreditamos que a diferença soma e acrescenta valor, que a diversidade é sinónimo de criatividade e inovação, trazendo-nos diversas perspetivas e soluções para problemas. A diversidade resulta em melhores decisões. Se uma única pessoa não pode saber todas as respostas, uma equipa diversa pode encontrar soluções para qualquer problema. Todos os stakeholders da organização beneficiam: clientes, colaboradores, acionistas.
As políticas de inclusão e equidade não são apenas uma “responsabilidade social”; elas representam uma vantagem competitiva, comercial e económica.
E como se promove essa diversidade e inclusão?Mudando mentalidades e acreditando na importância do DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão). Muitos ainda veem as políticas de inclusão como algo dispensável nas empresas. Não são. São uma grande vantagem competitiva. Quando a Sonae se compromete com o objetivo de 45% de mulheres nos cargos de liderança, é porque acreditamos que estamos a fazer o que é certo, o que nos tornará mais competentes, competitivos e permitirá servir melhor os nossos clientes.
Enquanto vantagem competitiva para a empresa, a promoção da diversidade tem de ser estratégica e transversal a toda a empresa, com métricas, metas concretas e calendarizadas. A título de exemplo, nas empresas Sonae temos uma abordagem DEI focada em cinco dimensões: género, incapacidades, gerações, cultura e LGBTQIA+, englobando tanto programas de recrutamento inclusivo, como o programa piloto de adaptação de uma loja Continente Modelo para pessoas singulares, que está atualmente a decorrer em Leça do Balio.
Quais são os maiores desafios na promoção da inclusão nas empresas?É muito mais fácil implementar um qualquer programa de eficiência do que transformar a mentalidade e a cultura das organizações e das empresas. É por isso que os temas DEI não podem ser encarados apenas como um nice-to-have e devem assumir um papel central na estratégia de gestão de pessoas e talento das organizações. É o compromisso das lideranças e um papel bem definido da DEI na estratégia de pessoas que fará a diferença.
Atualmente, consideram que as empresas têm feito caminho neste sentido?Muito já foi feito, mas o ritmo ainda não é o desejável. Ao ritmo atual, precisamos de mais de 100 anos para alcançar a paridade de género. Grandes transformações estruturais raramente acontecem de um dia para o outro, e este é um caminho que ainda precisa de ser percorrido por muitos anos. Felizmente, Portugal já está num bom ponto de partida. Segundo o EY European DEI Index, as empresas portuguesas estão em terceiro lugar na Europa em temas de DEI. A má notícia é que todos os países têm notas muito baixas neste índice, evidenciando que ainda estamos longe de alcançar uma verdadeira igualdade e equidade. Devemos reconhecer os avanços, mas também ter a humildade de admitir que ainda estamos a aprender e a testar. Falo da Sonae, mas penso que este é um sentimento que pode ser estendido ao resto da sociedade.
O que é que ainda pode ser feito?Não é uma questão de “poder”, mas de “dever”. Estas políticas não são opcionais. A sociedade não permitirá que sejam ignoradas. A diversidade faz parte da nossa realidade – culturas, origens, géneros variados. A sociedade não é homogénea e as empresas estão a tentar acompanhar esta diversidade. Precisamos de ser mais assertivos na mudança cultural, mais proativos na promoção da diversidade e muito mais abertos a diferentes perspetivas e ideias.
Acredita num futuro onde a diversidade e a inclusão sejam uma realidade em todos os locais de trabalho?Não podemos acreditar noutra realidade que não seja essa. Sabemos que é difícil, que exige investimento, estratégia e compromisso a todos os níveis. Mas não é opcional. As sementes estão lançadas e, enquanto sociedade, temos de continuar a percorrer este caminho. Precisamos de mais compromisso de todos, em todos os níveis hierárquicos. Se não remarmos todos na mesma direção, não seremos uma sociedade que aceita e respeita verdadeiramente a singularidade de cada um de nós.
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