“O setor bancário enfrenta desafios de rentabilidade”, alerta CEO do Santander Portugal
O presidente do Santander Portugal alerta que a banca portuguesa tem "uma rentabilidade estrutural inferior à dos seus pares europeus", apesar do forte crescimento dos lucros em 2023.
Os cinco maiores bancos a operar em Portugal registaram um forte crescimento dos lucros em 2023, somando 4,4 mil milhões de euros, mas a rentabilidade continua abaixo dos pares europeus dificultando a atração de capital, alerta Pedro Castro e Almeida. Ao ECO, o CEO do Santander Portugal, que é também presidente do banco espanhol na Europa, defende uma “transformação da economia”, considera positivo o pacote de medidas apresentado pelo Governo, mas assinala que as derramas ficaram de fora da redução do IRC.
Pedro Castro e Almeida considera que “o setor está melhor preparado para atuar como intermediário e parceiro financeiro das empresas e famílias portuguesas“, depois de nos últimos dez anos ter passado por “uma profunda transformação, reduzindo significativamente os ativos não produtivos” e reforçando os rácios de capital.
“No entanto, o rácio de Non-Performing Loans [crédito em incumprimento] ainda está acima da média europeia” e, “apesar, destes avanços, o setor bancário enfrenta desafios de rentabilidade, com um rácio de Return on Equity [retorno dos capitais próprios] ligeiramente acima do custo do capital”, aponta. “A rentabilidade é essencial, considerando que o setor bancário enfrenta as maiores exigências de capital para operar, com requisitos de passivos elegíveis (MREL) próximos de 25% dos ativos ponderados por risco. Além disso, compete por capital nos mercados globais com outros bancos“, acrescenta.
O CEO do Santander Portugal defende que “garantir uma rentabilidade consistente e sustentada é crucial para remunerar adequadamente os acionistas”, o que “permitirá ao setor continuar a apoiar a economia através da concessão de crédito e, especialmente, continuar a investir na transformação digital, que é cada vez mais rápida e exigente”. Um investimento que “é fundamental para melhorar continuamente o serviço prestado aos clientes”.
Este setor apresenta uma rentabilidade estrutural inferior à dos seus pares europeus e só em 2023 cobriu o custo do capital num contexto extraordinário de rápida subida das taxas de juro. A manutenção das contribuições adicionais penaliza a competitividade do setor e a capacidade de atrair investidores, crucial para manter a atividade de apoio à economia nacional num contexto de elevados requisitos de capital.
É a pensar na defesa da rentabilidade que Pedro Castro e Almeida critica a manutenção dos impostos extraordinários lançados sobre a banca. “Este setor apresenta uma rentabilidade estrutural inferior à dos seus pares europeus e só em 2023 cobriu o custo do capital num contexto extraordinário de rápida subida das taxas de juro. A manutenção das contribuições adicionais penaliza a competitividade do setor e a capacidade de atrair investidores, crucial para manter a atividade de apoio à economia nacional num contexto de elevados requisitos de capital”, volta a sublinhar.
A mesma preocupação reflete-se na necessidade de consolidação no setor, com o presidente executivo do Santander Portugal a defender que estes “processos devem ocorrer naturalmente, com as instituições a agirem em função da necessidade de obterem escala e eficiência, permitindo-lhes continuar a investir na transformação dos seus processos, com o objetivo de melhorar a qualidade de serviço aos clientes de forma contínua e rentável”.
Dado o ritmo do nosso crescimento e a dimensão que já atingimos em Portugal, não é evidente que o Santander venha a comprar o novobanco.
“Embora não se possa dizer ‘nunca'”, Pedro Castro Almeida continua a afastar um interesse na aquisição do novobanco. “Após as aquisições do Banif e Banco Popular, temos-nos focado no crescimento orgânico. Dado o ritmo do nosso crescimento e a dimensão que já atingimos em Portugal, não é evidente que o Santander venha a comprar o novobanco”.
O gestor, que desde setembro de 2023 lidera também o negócio do Santander na Europa, elenca outros desafios, como a concorrência das tecnológicas: “Estamos a competir num cenário cada vez mais complexo e dinâmico, onde novos concorrentes surgem com soluções inovadoras para atender às necessidades dos clientes. As grandes empresas de tecnologia já entraram no mercado financeiro, e algumas delas oferecem financiamento diretamente aos consumidores”.
A presidente do grupo, Ana Botín, recentemente afirmou que o nosso maior concorrente será a Apple. Para estarmos preparados para este desafio, investimos cerca de 2.500 milhões de euros por ano em inovação.
Pedro Castro e Almeida acrescenta ainda que o shadow banking (entidades que concedem financiamento à margem da regulação) “está a crescer em áreas onde os requisitos de capital limitam a atuação dos bancos tradicionais” e “as fintechs estão a criar modelos de distribuição digital mais económicos e atraentes”.
“A presidente do grupo, Ana Botín, recentemente afirmou que o nosso maior concorrente será a Apple. Para estarmos preparados para este desafio, investimos cerca de 2.500 milhões de euros por ano em inovação, com o objetivo de transformar profundamente o banco. Este investimento permite-nos não só competir com os gigantes tecnológicos, mas também liderar a inovação no setor bancário”, assegura.
Acelerar crescimento exige “profunda transformação da economia”
O CEO do Santander Portugal considera que o pacote de 60 medidas para acelerar o crescimento da economia, apresentado pelo Governo no início do mês, “é abrangente e positivo, mas algumas medidas necessitam de maior detalhe para uma avaliação completa dos seus impactos”.
Pedro Castro e Almeida destaca a redução da carga fiscal sobre as empresas, assinalando, porém, que “apesar da redução incidir apenas sobre a taxa de IRC, ainda existem cerca de 10 pontos percentuais de carga tributária sobre os lucros das empresas decorrentes das derramas estadual e municipal, que ficaram de fora deste pacote“.
Para convergir para a média europeia em 2035 necessitamos de crescer pelo menos 3% ao ano, isto é, mais de 2 vezes a estimativa da Comissão Europeia para o crescimento do PIB potencial em Portugal neste período. Isso exige uma profunda transformação da economia, aproveitando as alavancas da transformação digital, no sentido de sermos uma economia mais integrada nas cadeias de maior valor europeias, com a inclusão de serviços de alto valor acrescentado.
Elogia também a redefinição do conceito de MidCap, “para que as empresas ao crescerem não percam o acesso a fundos europeus ou outros instrumentos de financiamento”, bem como as medidas relacionadas com o apoio à tesouraria das empresas e ao desenvolvimento do setor do mar.
“Devemos ser mais ambiciosos para responder aos desafios que temos atualmente”, defende o gestor, salientando a “saída de talento”. “Para inverter esta situação, temos de ser capazes de gerar maior valor para poder pagar salários mais elevados e, com isso, sermos mais competitivos a disputar e manter o talento no país”, diz.
Convergir com a média europeia em 2035 obriga a “crescer pelo menos 3% ao ano, isto é, mais de duas vezes a estimativa da Comissão Europeia para o crescimento do PIB potencial em Portugal neste período. Isso exige uma profunda transformação da economia, aproveitando as alavancas da transformação digital, no sentido de sermos uma economia mais integrada nas cadeias de maior valor europeias, com a inclusão de serviços de alto valor acrescentado”, aponta. Os fundos europeus, em particular o Portugal 2030, é uma oportunidade que o país tem de “aproveitar bem”.
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