Incursão na Rússia é ferramenta para forçar negociações, explica Kiev
Kiev apresentou várias razões para justificar o seu ataque, incluindo forçar Moscovo a retirar tropas de outras partes da frente ou criar uma zona tampão para acabar com bombardeamentos
A presidência da Ucrânia disse esta sexta-feira pretender persuadir a Rússia a iniciar “negociações justas”, justificando assim o avanço das tropas de Kiev na região russa de Kursk desde 6 de agosto.
Kiev apresentou várias razões para justificar o seu ataque, enquanto a Rússia ocupa quase 20% do território ucraniano, incluindo forçar Moscovo a retirar tropas de outras partes da frente, ou criar uma zona tampão para acabar com o bombardeamento nos territórios ucranianos fronteiriços.
Mas Kiev também quer usar os territórios russos conquistados como moeda de troca durante eventuais negociações com o Kremlin. “A ferramenta militar é utilizada objetivamente para persuadir a Rússia a entrar num processo de negociação justo”, disse Mykhaïlo Podoliak, conselheiro do Presidente Volodymyr Zelensky, numa mensagem na rede social X.
Embora tenha reiterado que Kiev não pretendia ocupar parte do território russo, Zelensky também disse que, no caso de potenciais negociações, era necessário encontrar uma forma de colocar a Rússia “do outro lado da mesa”. Na terça-feira, um diplomata ucraniano já tinha apelado a Moscovo para aceitar “uma paz justa”, com Kiev a exigir a retirada do exército russo do seu território internacionalmente reconhecido.
No entanto, as negociações entre as duas partes estão completamente bloqueadas desde a primavera de 2022 e Moscovo continua a exigir que a Ucrânia aceite a anexação de parte do seu território. Zelensky assegurou querer desenvolver até novembro – data das eleições presidenciais nos Estados Unidos, aliado vital de Kiev – um plano que sirva de base para uma futura cimeira de paz para a qual o Kremlin deve ser convidado.
O líder ucraniano repete que a paz só será possível se o Exército russo se retirar completamente, incluindo da península da Crimeia, anexada em 2014 pela Rússia. O Presidente russo, Vladimir Putin, exige que Kiev ceda as regiões ucranianas que quer anexar e que renuncie à adesão à NATO – requisitos inaceitáveis para os ucranianos e ocidentais, que continuam a apelar ao respeito pelo direito internacional.
Kiev reivindica avanços entre 1 e 3 km em Kursk
A Ucrânia reivindicou avanços entre um e três quilómetros, durante esta sexta-feira, em alguns pontos da região fronteiriça russa de Kursk, alvo de uma invasão pelas forças ucranianas na semana passada. “Os nossos grupos ofensivos ainda estão em combate. Em algumas zonas fizemos avanços entre um e três quilómetros”, detalhou o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, numa mensagem de vídeo.
Perto da cidade de Malaya Loknia, onde os combates continuam, espera-se que mais soldados russos sejam capturados, adiantou o comandante-chefe das Forças Armadas ucranianas, Oleksandr Sirski. O comandante acrescentou que a captura de mais soldados russos permitirá aumentar o grupo para a troca de prisioneiros com Moscovo. Nas outras zonas da frente de combate a situação está controlada e também não há alterações significativas no leste do país, onde decorrem combates tensos perto de Pokrovsk e Toretsk, na região de Donetsk, acrescentou Sirski.
Também Zelensky frisou que as forças ucranianas estão a reforçar posições em Kursk e a aumentar o ‘fundo de troca’ de prisioneiros. Um porta-voz militar russo denunciou hoje um ataque ucraniano contra uma ponte na região de Kursk que impede a retirada da população da zona. “Confirmamos que o inimigo atingiu a ponte sobre o rio Seim. Parte do distrito de Glushovski não poderá ser evacuada por terra”, destacou a fonte militar, citada pela agência de notícias estatal russa TASS.
Segundo bloggers militares russos, o bombardeamento destruiu a ponte, dificultando a evacuação de 28 cidades na região de Kursk. Os especialistas russos consideram que se trata de preparativos para uma ofensiva terrestre contra o distrito de Glushovski, onde as autoridades anunciaram na véspera uma “retirada obrigatória” da população sem saber quantos habitantes conseguiram sair daquele território nas últimas 24 horas.
Segundo o canal Baza da rede social Telegram, informações preliminares indicam que a ponte foi atacada com um míssil HIMARS de fabrico norte-americano. De acordo com os últimos dados oficiais de Kiev, a ofensiva em Kursk, que começou em 06 de agosto e é a primeira incursão terrestre que a Rússia sofre desde a II Guerra Mundial, conseguiu colocar 80 cidades e um território de 1.150 quilómetros quadrados sob controlo ucraniano.
Entretanto, as forças russas continuam a avançar em direção a Pokrovsk, na frente oriental da Ucrânia, de onde estão a apenas 10 quilómetros de distância. Autoridades daquele distrito reiteraram os seus apelos à retirada de civis, uma vez que a situação é ameaçadora.
(notícia atualizada às 19h com mais informação)
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