Custo de financiamento das empresas subiu de 3% para 4,5% em 2023

O agravamento dos encargos suportados com o crédito traduziu-se numa deterioração da situação financeira das empresas. Há mais sociedades com EBITDA, resultados líquidos e capitais próprios negativos.

A subida das taxas de juro refletiu-se num agravamento dos custos de financiamento das empresas no último ano. Segundo dados do Banco de Portugal, os gastos de financiamento subiram de 3% para 4,5%, em 2023, sendo que um quarto das empresas pagou mais de 6,8% em juros. Cerca de 14% não gera EBITDA suficiente para suportar estes custos.

Prosseguindo o movimento de subida de taxas de juro iniciado em 2022, o custo dos financiamentos obtidos pelas empresas subiu mais 1,5 pontos percentuais em 2023, revelam os indicadores económicos e financeiros anuais das empresas, divulgados esta sexta-feira pelo Banco de Portugal (BdP).

Apesar do agravamento ser sentido por todas as sociedades, algumas sofreram mais que outras. “O aumento do custo dos financiamentos do primeiro quartil de empresas situou-se, no máximo, em 0,8 pp (aumento de 1,1% para 1,9%). Por outro lado, 25% das empresas registaram um custo dos financiamentos igual ou superior a 6,8% em 2023 (aumento de, pelo menos, 2,3 pp, relativamente a 2022)”, detalha o BdP.

Os dados mostram ainda que a cobertura dos gastos de financiamento — que mede o número de vezes que o EBITDA gerado cobre os gastos de financiamento — reduziu-se de 10,1 vezes, em 2022, para 7,7 vezes em 2023. “O aumento do custo dos financiamentos e a redução da cobertura dos gastos de financiamento pelo EBITDA foram transversais a todos os setores, com exceção do setor da eletricidade, gás e água”, explica o regulador.

O aumento dos custos com empréstimos refletiu-se num agravamento da situação financeira das sociedades. A percentagem de empresas em potencial situação de risco aumentou, com 13,9% das empresas a não conseguirem gerar EBITDA suficiente para cobrir os seus gastos de financiamento, o que representa uma subida de 0,4 pontos percentuais face ao ano anterior. Este aumento foi observado na generalidade dos setores, exceto no comércio, no qual a percentagem não se alterou (14,4%).

Há ainda mais empresas com EBITDA negativo (31,9%, o que representa um aumento de 0,3 pp); resultados líquidos negativos (37,8%, mais 0,6 pp do que em 2022); e com capital próprio negativo — aquelas cujo passivo supera o ativo — , passando de 26,3%, em 2022, para 26,4% em 2023.

Apesar deste aumento da percentagem de empresas numa situação de potencial fragilidade, as empresas reforçaram os capitais próprios, tendo a autonomia financeira (rácio do capital próprio no total do ativo) aumentado para 42,8% (40,0% em 2022). Este incremento foi observado em todos os setores de atividade, com destaque para o setor das indústrias e da eletricidade, gás e água (+4 pp e +6,2 pp, respetivamente).

EBITDA sobe 12,2%

O volume de negócios aumentou 2,4% em relação a 2022, uma subida mais contida após a aceleração de 24% no ano anterior, que tinha refletido a recuperação da economia no período pós-pandemia e do aumento dos preços praticados pelas empresas, impulsionado pela subida dos preços da energia e de outras matérias-primas internacionais.

Já o EBITDA (resultados antes de amortizações, depreciações, juros e impostos) registou um crescimento de 12,2% em 2023, em resultado “da redução dos custos com mercadorias vendidas e matérias consumidas (-3,8%), embora os gastos com pessoal tenham subido (+11,5%)”.

O aumento do EBITDA foi transversal a todos os setores de atividade. O setor da eletricidade, gás e água foi o que registou a maior redução nas vendas, mas, em contrapartida, foi o que teve o crescimento mais expressivo no EBITDA (+44,6%).

Ainda segundo os dados do Banco de Portugal, que incorporam os dados recolhidos na Informação Empresarial Simplificada (IES) e dizem respeito a sociedades não financeiras, a rendibilidade dos capitais próprios (rácio entre o resultado líquido e o capital próprio) manteve-se em 10,5%, com os capitais próprios a crescerem de forma mais acentuada que o resultado líquido. “Refira-se que o Orçamento do Estado de 2023 contemplou um novo regime de incentivo à capitalização das empresas (ICE)”, justifica o comunicado.

Os setores da eletricidade, gás e água e as outras atividades foram os que registaram os maiores aumentos da rendibilidade dos capitais próprios [+3,3 pontos percentuais (pp) e +0,3 pp, respetivamente]. Já os setores do comércio e dos transportes e armazenagem foram os que apresentaram as maiores quedas (-1,5 pp e -2,2 pp, respetivamente), devido à redução no resultado líquido (-3,1% e -3,6%).

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