BCE sob pressão para cortar juros após abrandamento da inflação e da economia
Economistas esperam que o BCE corte as taxas diretoras em 25 pontos base esta quinta-feira. Com a inflação abaixo da meta de 2%, as apostas são de mais descidas nos próximos meses.
“Os últimos desenvolvimentos reforçam a nossa confiança de que a inflação irá regressar à meta de forma atempada. E iremos ter isso em conta na nossa próxima reunião de política monetária em outubro”. A pista, bastante evidente, de uma nova descida nas taxas de juro na Zona Euro foi deixada por Christine Lagarde há pouco mais de duas semanas numa audição no Parlamento Europeu.
Frankfurt tem dado vários sinais sobre essa eventual decisão, numa altura em que a inflação ficou abaixo da meta de 2% pela primeira vez em três anos. Poucos dias depois de a presidente do Banco Central Europeu (BCE) ter deixado aquele forte indício, foi a vez de Isabel Schnabel, da comissão executiva da autoridade monetária, deixar outra indicação sobre o que pensa a autoridade monetária da atual situação da economia do euro.
“Não podemos ignorar os ventos contrários para o crescimento”, salientou Schnabel num discurso em Friburgo, na Alemanha, para depois acrescentar que, “com os sinais de abrandamento na procura de trabalho e de progressos adicionais na desinflação, torna-se mais provável uma descida sustentada da inflação para a nossa meta de 2% de forma atempada”. Estes fatores poderão muito bem servir de argumento para a terceira descida de juros desde o início do ciclo de desagravamento em junho.
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Mercado aposta em corte de 25 pontos base
Com todos estes sinais, os mercados financeiros foram rápidos a ajustarem-se à mensagem. Praticamente todos os caminhos e previsões vão dar a um corte de 25 pontos base das taxas diretoras esta quinta-feira, baixando o juro aplicável à facilidade permanente de depósito para 3,25%. É através desta taxa que o BCE define a orientação da política monetária.
As expectativas de um novo alívio refletiram-se, por exemplo, nas Euribor, que, no prazo a seis meses, desceram de 3,28% para 3,06% desde meados de setembro. Os sinais de uma política monetária menos restritiva também tiraram força ao euro, com a moeda única a descer de 1,13 dólares para 1,09 dólares no mesmo período. Isto apesar de a Reserva Federal dos EUA ter iniciado o ciclo de desagravamento das taxas a 16 de setembro e logo com um corte de 50 pontos base, para um intervalo entre 4,75% e 5%.
Ainda assim, os economistas do ING, apesar de terem também como cenário base um corte de 25 pontos base, ressalvam que “não se pode excluir uma surpresa” e que o BCE deixe tudo na mesma. “Após uma nova bateria de fracos indicadores de sentimento económico e de a inflação ter ficado abaixo de 2% pela primeira vez em mais de três anos, o veredicto dos mercados financeiros foi claro: o BCE tem e vai cortar novamente as taxas na próxima reunião. No entanto, pensamos que essa decisão será muito mais controversa do que o mercado pensa”.
Os analistas do banco recordam que na reunião do mês passado, os responsáveis do banco central mostraram-se confortáveis com a ideia de descidas muito graduais dos juros e realçam que “na reunião de outubro pode ainda ser muito cedo para o BCE ver alguma alteração fundamental na sua própria avaliação para o crescimento e para a inflação”.
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À procura de mais pistas nas palavras de Lagarde
Os economistas do ING são dos poucos a alertar para a possibilidade de o BCE deixar tudo na mesma. No entanto, nos mercados financeiros parece não haver grandes dúvidas sobre a decisão desta quinta-feira. Porém, as certezas são bem menores quanto ao tom que Christine Lagarde irá adotar.
Por um lado, os dados que mostram fraqueza da economia da Zona Euro e a desaceleração da inflação podem levar o BCE a adotar uma mensagem de maior suavização. Por outro, a experiência não muito distante de descontrolo dos preços recomenda uma abordagem cautelosa.
As atenções estarão centradas em eventuais alterações da mensagem de Lagarde. Por exemplo, caso a presidente do BCE deixe cair a expressão de que taxas de juro permanecerão em níveis restritivos pelo tempo que for necessário, isso seria um forte sinal de descidas rápidas nos próximos meses.
Contudo, apesar de os mercados financeiros estarem a contar com novos alívios nas taxas, os economistas esperam que o BCE opte por esconder o jogo até ter novas projeções para o crescimento e para a inflação, que deverão ser atualizadas pelo staff do banco central em dezembro. “Não esperamos uma orientação específica sobre o caminho da política a seguir e, em vez disso, prevemos que o BCE mantenha a sua ênfase na dependência de dados e numa abordagem reunião a reunião”, referem os economistas do Goldman Sachs, numa análise a que o ECO teve acesso.
Também Jack Allen-Reynolds, economista da Capital Economics, considera que o BCE “irá refrear-se em dar alguma orientação sobre o provável ritmo, dimensão e número de cortes de juros”. Num relatório, o especialista diz ainda suspeitar que “as linhas gerais do comunicado de imprensa [do BCE] não serão alteradas”. Contudo, considera que há algumas probabilidades de Lagarde ajustar um pouco a linguagem durante a conferência de imprensa.
O risco de ficar aquém da meta
No passado recente, o BCE teve de correr atrás da inflação para impedir o descontrolo dos preços. Isso levou o banco central a definir o ciclo de subida de juros mais agressivo da história da Zona Euro. A terapia aparenta ter tido efeito, já que dois anos após a taxa de inflação ter atingido um máximo de 10,6%, o índice de preços abrandou para 1,8% no passado mês de setembro.
Mas começam a surgir receios de que a economia da Zona Euro comece a sofrer danos, caso o BCE não reduza rapidamente a dose da restritividade monetária. O governador do Banco de Portugal, por exemplo, tem reiterado a necessidade de se cortar juros.
Numa análise divulgada no início de outubro, Mário Centeno alertou que “uma política monetária que permaneça apertada por demasiado tempo arrisca levar a inflação para baixo da meta”, concluindo que “o atual estado da economia da área do euro, juntamente com as condições prevalecentes em termos de preços e do mercado de trabalho, exigem uma resposta do BCE: uma redução nas taxas de juro”.
Será entre este equilíbrio de não deixar fraquejar em demasia a economia ao mesmo tempo que se tenta impedir o regresso das inflações passadas que o BCE terá de navegar nos próximos meses. Os sinais apontam para uma menor restritividade, mas é provável que Lagarde e os outros decisores do banco central queiram esperar por mais dados antes de se comprometerem com orientações mais precisas sobre o número e a dimensão dos cortes de juros.
No entanto, com a informação atual, os analistas do Goldman Sachs, por exemplo, têm como cenário base que o staff do BCE baixe as projeções para o crescimento e para a inflação na reunião de dezembro, “abrindo o caminho para ajustamentos adicionais de 25 pontos base em cada reunião até se atingir uma taxa terminal de 2% em junho”.
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