Governo suspende todas as reuniões com bombeiros após protestos

Uma manifestação de sapadores, não comunicada às autoridades, fez-se ouvir esta terça-feira pelas ruas de Lisboa, mobilizando-se junto à sede do Governo, levando à suspensão das negociações.

Bombeiros Sapadores manifestaram-se junto ao Campus XXI, onde decorria a reunião entre o Governo e os sindicatos representativos dos bombeiros para a revisão da carreiraMIGUEL A. LOPES/ LUSA

Depois de uma manifestação de Bombeiros Sapadores marcada pelo lançamento de petardos e bombas de fumo esta terça-feira, o Governo decidiu suspender todas as reuniões com os sindicatos com vista à valorização salarial destes profissionais e à criação de um suplemento de risco.

Os encontros previstos para 13 e 20 de dezembro também foram, para já, cancelados, revelaram ao ECO o presidente do Sindicato Nacional de Bombeiros Profissionais (SNBP), Sérgio Carvalho, e o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública e de Entidades com Fins Públicos (SINTAP), José Abraão. As estruturas sindicais “não aceitam o fim das negociações e continuam disponíveis para reunir”, salvaguardou Abraão.

Dezenas de bombeiros sapadores manifestaram-se em Lisboa, nas imediações do edifício Campus XXI, sede do Governo, onde decorria mais uma reunião entre os sindicatos e o Governo esta manhã. Os profissionais exigiam melhores condições salariais e lançaram inúmeros petardos e bombas de fumo, num protesto ruidoso que não terá sido comunicado às autoridades.

Na sequência desta manifestação, o Executivo decidiu, inicialmente, suspender temporariamente o encontro. “O Governo suspende de imediato reunião negocial com representantes dos sapadores, por não aceitar negociar perante formas não ordeiras de manifestação. Não estão em causa, até ao momento, as condições de segurança. As negociações poderão ser retomadas se e quando forem assegurados o respeito pelo diálogo e tranquilidade no exercício do direito de manifestação”, disse ao ECO fonte oficial do Governo.

Este era quarto encontro entre o Executivo e as estruturas sindicais com vista à valorização da carreira de bombeiro. Cerca de uma hora depois, o Governo acabou por romper mesmo com o processo negocial, cancelando todas as reuniões já previstas, sem marcar novas datas.

À saída da reunião desta terça-feira com o Governo, António Pascoal, subchefe do Regimento de Sapadores Bombeiros (RSB) e dirigente do Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML), afirmou que “os sindicatos não planearam qualquer manifestação”. “Isto não é uma manifestação, é uma concentração de bombeiros”, insistiu, em declarações transmitidas pela SIC Notícias.

Segundo o jornal Observador, que cita fonte da Direção Nacional da PSP, tratou-se de uma “manifestação não comunicada dos Bombeiros Sapadores”, que teve “concentração inicial no Quartel do Regimento de Sapadores de Bombeiros de Alvalade, na Avenida Rio de Janeiro, seguindo-se desfile até ao edifício do Campus XXI, na Avenida João XXI”.

O Ministério da Coesão Territorial, que tutela os bombeiros, tinha proposto, na última reunião, que se realizou a 25 de novembro, um aumento salarial entre 15% e 20% até 2026 e um subsídio de risco de 37,5 euros por mês, em 2025, e de 67,5 euros, no ano seguinte. Mas, em contrapartida, quer baixar o ordenado de início de carreira de 1.075,85 euros para 1.017,98 euros, o que é altamente contestado pelas estruturas sindicais.

O caderno reivindicativo comum, assinado por quatro sindicatos, estabelece um aumento do salário de ingresso do bombeiro sapador de 204,87 euros, passando de 1.075,85 euros para 1.280,72 euros mensais brutos e um suplemento de risco mensal de 400 euros até 2026, tal como foi acordado para PSP, GNR e Forças Armadas. Esta proposta é subscrita pelo Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública e de Entidades com Fins Públicos (SINTAP), Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML), Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local (STAL) e Sindicato Nacional de Bombeiros Profissionais (SNBP). De fora ficou o Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS).

“Traçámos umas linhas vermelhas. Abaixo disso não estamos legitimados a aceitar. Reduzimos a nossa proposta inicial e agora estamos à espera de boa vontade da parte do Governo. Esperamos retomar as negociações de imediato, ainda hoje”, afirmou António Pascoal. Expectativa que ficou defraudada com a suspensão de todo o processo negocial pelo Executivo.

(Notícia atualizada pela última vez às 14h34)

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