Tarifas de Trump? Exportadoras devem procurar novos mercados, avisa Banco de Portugal

Trocas comerciais de Portugal ainda não deram sinais de abrandamento face ao aumento das políticas protecionistas, mas Banco de Portugal deixa recomendações se Trump avançar com aumento de tarifas.

O Banco de Portugal (BdP) recomenda que o Governo reforce o apoio às empresas portuguesas na procura de novos mercados para as exportações nacionais e promova o investimento direto estrangeiro após a eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos, que poderá levar avante um aumento significativo das tarifas às importações. Isto apesar de, para já, as trocas comerciais de Portugal ainda não ter dado sinais de abrandamento face ao aumento das políticas protecionistas.

Num artigo sobre o comércio internacional português e a fragmentação da economia mundial, divulgado esta quarta-feira, os economistas do regulador destacam que “o resultado do recente processo eleitoral nos EUA poderá conduzir a um aumento significativo das suas tarifas à importação e as eventuais medidas retaliatórias poderão acentuar a reconfiguração do comércio internacional, com impacto na economia portuguesa e europeia“.

Neste cenário, consideram que para manter o bom desempenho das exportações nacionais registado nos últimos anos, “é importante reforçar o apoio às empresas na procura de novos mercados, promover o investimento direto estrangeiro e continuar a flexibilizar a alocação de recursos na economia“.

“Para tal, sobressai a importância do capital humano como fonte de inovação e facilitador da mobilidade dos trabalhadores entre setores”, apontam.

Fonte: Banco de Portugal

Na análise, os economistas destacam que tem existido uma estabilidade das barreiras tarifárias ao comércio português até 2022. No entanto, assinalam que existem evidências de que “as barreiras não tarifárias, que são mais difíceis de quantificar, têm vindo a aumentar até 2023”.

Num contexto de participação na União Europeia (UE) e de estabilização das barreiras tarifárias, o comércio português de bens e serviços não tem demonstrado sinais de abrandamento nos últimos anos, verificando-se um aumento continuado do grau de abertura da economia“, pode ler-se no artigo. Porém, acrescentam: “Há um papel crescente da distância geopolítica enquanto determinante das importações portuguesas de bens”.

Entre as pressões protecionistas indicadas pelos economistas estão o aumento das barreiras tarifárias entre a China e os EUA a partir de 2018 e a saída do Reino Unido da UE em 2020, após o referendo de 2016, bem como um reforço dos apoios dos Estados a empresas após a pandemia.

Tanto nas exportações como nas importações, o peso do comércio intracomunitário em termos nominais é superior a 60%, mesmo após a saída do Reino Unido da UE em 2020. Assim, a participação na UE constitui uma forte proteção para Portugal face
à fragmentação da economia mundial“, refere a análise.

Tarifa média aplicada às exportações portuguesas é de 4%

O Banco de Portugal estima que a tarifa efetiva média aplicada às exportações portuguesas de bens tem vindo a diminuir desde 2014, situando-se em valores em torno de 4% em 2022 e que são mais penalizadas do que as importações portuguesas provenientes de países extracomunitários, limitando a capacidade de penetração das empresas nacionais nesses mercados.

Os autores do estudo indicam também que o número de novas medidas não tarifárias em 2023 é superior ao observado antes da pandemia, sendo a principal as subvenções financeiras a empresas nacionais. Porém, estas medidas implementadas por Portugal também aumentaram nos últimos quatro anos, refletindo principalmente medidas de política ao nível da União Europeia referentes a sanções e subvenções financeiras.

Distância geopolítica pesa nas importações portuguesas

A análise publicada pelo regulador também conclui que a distância geopolítica passou a ser um “determinante significativo” das importações portuguesas. Em média em 2020-2022, um aumento unitário no índice de distância geopolítica traduziu-se numa redução de 1% do valor anual de importações, o que não acontecia em 2017.

O crescimento das importações de países geopoliticamente mais distantes foi sistematicamente mais fraco“, pode ler-se. O aumento da sensibilidade regista-se sobretudo no comércio de bens, já que nas importações de serviços já se verificava anteriormente.

A distância geopolítica é medida pelos autores do estudo através da proximidade do sentido de voto a Portugal na Assembleia Geral das Nações Unidas. Como exemplo apontam a Rússia, que desde 2019 aumentou em 19 pontos a sua distância geopolítica e de onde as importações nominais caíram 70% no mesmo período, embora reflita em larga medida as proibições à importação de bens energéticos implementadas pela União Europeia.

Fonte: Banco de Portugal

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