Martin Moniz. Montenegro “deve estar com a consciência pesada”, diz líder do PCP
Paulo Raimundo alegou que o primeiro-ministro confunde “segurança com operação policial” e não apresenta soluções para as “razões fundas da instabilidade e da insegurança”, como a pobreza.
O secretário-geral do PCP considerou esta sexta-feira que o primeiro-ministro está com a “consciência pesada” sobre a operação policial no Martim Moniz e pediu a promoção do policiamento de proximidade em vez de ações para “dar nas vistas”.
Em declarações aos jornalistas após um almoço com pensionistas numa associação de reformados em Setúbal, Paulo Raimundo afirmou que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, “deve estar com a consciência pesada” relativamente à operação policial no Martim Moniz, em Lisboa, caso contrário, acrescentou, “não falava tantas vezes sobre o assunto”.
O dirigente comunista alegou que o primeiro-ministro confunde “segurança com operação policial”, ao mesmo tempo que não apresenta soluções para as “razões fundas da instabilidade e da insegurança”, como a pobreza e os baixos rendimentos.
Num discurso dirigido aos pensionistas após o almoço, Paulo Raimundo alegou que os baixos rendimentos são até os maiores causadores de instabilidade no país, lembrando que há “um milhão de reformados com menos de 510 euros de pensão por mês”, 2,7 milhões de trabalhadores que ganham até mil euros de salário bruto e 300 mil crianças em situação de pobreza.
“Já agora, se o senhor primeiro-ministro quer resolver estes problemas de injustiça utilizando as forças de segurança, então mande investigar, por exemplo, a privatização da ANA, esse escândalo, esse crime económico. Isso sim é um verdadeiro caso de polícia que precisa de ser investigado”, atirou ainda no mesmo discurso.
Luís Montenegro caracterizou hoje os críticos da operação policial no Martim Moniz como extremos líricos que quase dispensam as forças policiais. Questionado sobre essas palavras, Paulo Raimundo respondeu que “o primeiro-ministro quer conversa” e não quer ver as forças policiais a atuar.
“Se quisesse forças policiais a atuar, fazia duas coisas: criava as condições todas necessárias, humanas, para as forças policiais, todas elas, e fazia uma coisa de uma vez por todas que é avançar com a polícia de proximidade”, disse. Raimundo defendeu que o país precisa de esquadras nos bairros e melhor relacionamento entre a polícia e as comunidades e não “super-esquadras para fazer operações super-especiais para dar nas vistas”.
O primeiro-ministro disse ter ficado “atónito e perplexo” com as reações ao que classificou de “esforço do Estado em garantir a tranquilidade das pessoas, uma prevenção de condutas criminais e uma plena integração” dos imigrantes. Na tomada de posse dos secretários-gerais do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) e do Sistema de Segurança Interna (SSI), Luís Montenegro respondeu às críticas da oposição sobre a operação policial da semana passada no Martim Moniz.
O chefe do Governo defendeu que “não há em Portugal nenhuma ação policial dirigida a uma comunidade específica”, dizendo que foram fiscalizadas nessa operação pessoas de várias nacionalidades incluindo portugueses, e afirmou que o executivo “não quer nem vai instrumentalizar as forças de segurança”.
O primeiro-ministro salientou que para o Governo “a segurança não é de esquerda nem de direita”, rejeitando quer os extremos securitários, quer “os extremos mais líricos, segundo os quais até podíamos prescindir quase de ter forças de segurança”. Uma operação policial no dia 19 de dezembro, no Martim Moniz, resultou na detenção de duas pessoas e na apreensão de quase 4.000 euros em dinheiro, bastões, documentos, uma arma branca, um telemóvel e uma centena de artigos contrafeitos.
O enorme aparato policial na zona, onde moram e trabalham muitos imigrantes, levou à circulação de imagens nas redes sociais em que se vislumbram, na Rua do Benformoso, dezenas de pessoas encostadas à parede, de mãos no ar, para serem revistadas pela polícia, e comentários sobre a necessidade daquele procedimento.
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