Apoio à renda vai ser alterado para corrigir restrições

  • Lusa
  • 10 Maio 2024

O Governo vai ainda criar, nos próximos 120 dias, um regulamento de transição entre as rendas apoiadas e renda acessível, por forma a garantir que não há descontinuidades nos apoios.

O Governo quer salvaguardar a situação das pessoas que perderam o apoio à renda na sequência de uma alteração do valor do contrato ou venda do imóvel, disse esta sexta-feira o ministro da Habitação, precisando que estas restrições vão ser eliminadas.

Em entrevista à Lusa, antes da apresentação formal da Estratégia para a Habitação, no Porto, Miguel Pinto Luz precisou que o Governo vai legislar no sentido de acabar com as descontinuidades do apoio. “Queremos redefinir as regras para nunca ninguém ficar fora”, disse o ministro, acrescentando que o Governo vai legislar no sentido de “garantir que esse apoio à renda se mantém, mesmo em situações que existem de venda do imóvel, transação do imóvel, mudança do senhorio”, ou seja, salvaguardando “todas as questões da transação ou alteração do valor do contrato”.

Esta mudança visa impedir que, ao contrário do que acontece atualmente, uma pessoa com uma taxa de esforço com a renda superior a 35% possa perder o apoio mensal à renda se, por acaso, for confrontado com uma mudança de senhorios (na sequência de herança ou venda do imóvel) ou de um aumento de renda, situações em que se considera que está em causa um novo contrato – e por isso já não anterior a março de 2023.

O Governo vai ainda criar, nos próximos 120 dias, um regulamento de transição entre as rendas apoiadas e renda acessível, por forma a garantir que não há descontinuidades nos apoios. Relativamente aos constrangimentos que identificam no mercado de arrendamento, referiu que o objetivo do Governo é regulá-lo” para o “tornar mais transparente” e “mais flexível”, apontando, como exemplo os prazos mínimos para a realização de um contrato de arrendamento habitacional.

“Se enchemos os dias a falar de habitação e falamos que temos que aumentar o arrendamento, a oferta de arrendamento e que Portugal é um país de proprietários, mas depois, na realidade, não oferecemos as ferramentas necessárias e suficientes para essa transformação do parque habitacional, então não estamos aqui a dizer nada”, afirmou.

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Proprietários acusam Governo de “manter medidas gravosas do Mais Habitação”

A Associação Lisbonense de Proprietários critica a manutenção do "teto ao aumento das rendas para novos contratos". Inquilinos lamentam falta de medidas para "regular e fiscalizar o mercado".

Os proprietários acusam o Governo de manter “a maior parte das medidas gravosas do pacote Mais Habitação”, como o teto ao aumento das rendas para os novos contratos e a proteção das rendas antigas”, afirmou ao ECO o presidente da Associação Lisbonense de Proprietário (ALP), Luís Menezes Leitão, em reação à estratégia para a habitação, apresentada esta sexta-feira pelo Executivo, no Porto. “É uma quebra gravíssima da promessa eleitoral”, atira o ex-bastonário da Ordem dos Advogados.

“Avalio pessimamente esta proposta, o que assistimos foi um verdadeiro flop, no âmbito de um programa de habitação de um Governo de centro-direita, que na campanha eleitoral, prometeu que iria revogar o Mais Habitação do anterior Executivo”, sublinhou Menezes Leitão.

De facto, e analisando o documento apresentado pelo ministro das Infraestruturas e da Habitação, Miguel Pinto Luz, não há qualquer nota sobre a revogação do teto às rendas ou sobre o regime das rendas antigas.

Teto ao aumento das rendas para novos contratos vigora até 2030

Assim, mantém-se a medida do Mais Habitação que determina que, “nos imóveis que já se encontravam no mercado de arrendamento nos últimos cinco anos, a renda inicial nos novos contratos não pode ultrapassar os 2 % face à renda anterior, salvo nas rendas em que se pratiquem valores enquadrados dentro dos limites do programa de arrendamento acessível”.

De salientar que “a este valor podem acrescer os coeficientes de atualização automática dos três anos anteriores. No caso dos imóveis, onde tiverem sido feitas obras de remodelação ou restauro profundos, devidamente atestados pelos municípios, o aumento pode ser de 15% adicionais”, de acordo com o Mais Habitação. Este regime estará em vigor até 2030.

Por outro lado, o pacote do Governo socialista de António Costa garante a não transição dos contratos anteriores a 1990 para o Novo Regime de Arrendamento Urbano (NRAU), medida que se mantém inalterada na estratégia de Montenegro para a habitação. Isto significa que os proprietários não podem atualizar estas rendas, muito baixas, além do coeficiente da inflação. No final do ano passado, o Governo estava a estudar medidas de compensação fiscal aos senhorios, que acabaram por não sair do papel, por causa da demissão do primeiro-ministro.

Luís Menezes Leitão indica que, face às promessas eleitorais de revogação do pacote Mais Habitação, “as únicas propostas que avançaram foram a reversão do arrendamento coercivo e a garantia pública de arrendamento por parte do Estado, caso o inquilino deixasse de pagar as rendas”, lamenta.

Ora tanto uma como outra medida “não têm impacto algum”. “Primeiro, porque as autarquias não estavam a avançar com o arrendamento forçado, devido às dúvidas jurídicas existentes. Depois, revogar o ónus que recaía sobre o Estado para se assumir como senhorio quando os inquilinos não pagavam as rendas até é um alívio para o Governo”, explica o líder da ALP. “Isto é uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma”, lamenta.

Quanto à descida do IVA para 6% no caso de obras de reabilitação e construção de habitação, Menezes Leitão considera a “medida positiva”, mas critica o longo prazo para a sua implementação: “até ao final da legislatura, ou seja só lá para 2028”.

De recordar que, neste momento, as obras de recuperação já beneficiam da taxa mínima do IVA, desde que os imóveis estejam localizados em zonas de reabilitação urbana ou tenham um contrato com o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) ou estejam integrados em regimes especiais de apoio financeiro ou fiscal à reabilitação de edifícios, tal como o ECO já noticiou.

António Machado, da Associação dos Inquilinos Lisbonenses, considera que o programa de habitação é “curto e contestável”. Em declarações à RTP3, indica que faltam medidas para “regular e fiscalizar o mercado”.

E destaca uma proposta em particular: a redução do IVA. “Há que garantir que a redução do IVA não é absorvida pelos agentes do mercado”, defende. A associação dos inquilinos espera agora fazer parte do grupo de trabalho que será criado.

Alojamento Local aplaude fim da contribuição extraordinária

Em relação ao fim da contribuição extraordinária sobre o Alojamento Local de 15%, criada pelo Mais Habitação, o presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), Eduardo Miranda, congratula-se com a medida, mas aguarda pelos detalhes da proposta.

“Vemos como positivo que o Governo indique um prazo para resolver os principais pontos que ameaçam o setor, com as medidas do Pacote Mais Habitação”, sinaliza Eduardo Miranda. De salientar, que o Executivo promete aprovar a proposta de revogação da taxa sobre o Alojamento Local em 10 dias. Eduardo Miranda prefere não se alargar em mais comentários, uma vez que “a informação é escassa.

“Vamos aguardar com serenidade para ver a proposta concreta“, indica, acrescentando que “o acordo que a associação fez com o PSD, no ano passado, envolvia ainda outros tópicos”, sublinhou, sem explicitar quais.

(Artigo atualizado às 18h47)

 

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Presidente do grupo Lusiaves absolvido do crime de branqueamento de capitais

  • Lusa
  • 10 Maio 2024

Avelino Gaspar foi julgado por um crime de branqueamento de capitais. A presidente do coletivo de juízes explicou que foi provada “a materialidade dos factos”.

O presidente do grupo Lusiaves, Avelino Gaspar, que estava acusado de ter planeado desmantelar o património da Avilafões, em Vouzela, para provocar a sua insolvência, foi absolvido esta sexta-feira pelo Tribunal de Viseu. Considerado um dos grandes empresários de Portugal, Avelino Gaspar foi julgado por um crime de branqueamento de capitais.

O processo envolveu ainda Mário Pinto, um gerente que, além do crime de branqueamento de capitais, estava acusado de insolvência dolosa e de abuso de confiança qualificado, e que também foi absolvido. A presidente do coletivo de juízes explicou que foi provada “a materialidade dos factos” (ou seja, questões relacionadas com a prova documental), mas frisou que o que estava em causa era “a prova da intencionalidade das ações” praticadas pelos dois arguidos.

Segundo a juíza, “não se verificaram os elementos objetivos e subjetivos” dos crimes que lhes estavam imputados, desde logo a data em que se conheceram e como planearam o desmantelamento do património da Avilafões. No que respeita à maquinaria que, de acordo com a acusação, foi levada para uma unidade da Figueira da Foz, referiu que, mesmo se isso tivesse acontecido, não teria sido a causa da falta de capacidade produtiva da Avilafões.

Isto porque, à data em que aconteceu, já não funcionavam duas linhas de produção, a terceira deixou de funcionar em 2009, após uma inspeção veterinária e, portanto, “já pouca atividade havia”, referiu. Em outubro, Avelino Gaspar tinha negado em tribunal a existência de algum plano para desmantelar a Avilafões, garantindo que a intenção era investir e levar a empresa a ter sucesso.

Nesse dia, depois de responder às perguntas do coletivo de juízes, da procuradora do Ministério Público e dos advogados, Avelino Gaspar rematou: “só estou aqui por causa de uma história mal contada e de gente que me enganou”. O grupo Lusiaves tem mais de 30 empresas, que operam em todas as etapas da cadeia de valor do setor avícola, desde a produção do milho até à transformação e valorização de subprodutos, passando pelo abate e comercialização de aves.

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Insolvências de empresas e particulares crescem há dois trimestres

  • Lusa
  • 10 Maio 2024

No primeiro trimestre de 2024 registaram-se 1.803 insolvências decretadas a pessoas singulares, mais do que as 1.721 no último trimestre de 2023.

As insolvências de particulares e de empresas mantêm uma tendência de crescimento há dois trimestres, registando nos primeiros três meses do ano um total de 2.339 processos de insolvências decretadas nos tribunais de primeira instância.

De acordo com dados estatísticos divulgados esta sexta-feira pela Direção-Geral da Política de Justiça (DGPJ), no primeiro trimestre de 2024 registaram-se 1.803 insolvências decretadas a pessoas singulares, mais do que as 1.721 no último trimestre de 2023 e do que as 1.551 do terceiro trimestre do ano passado.

Na comparação com o trimestre homólogo regista-se uma quebra, uma vez que nos três primeiro trimestre de 2023 houve 1.988 insolvências de pessoas singulares decretadas. Já no que diz respeito a empresas, no primeiro trimestre deste ano os tribunais decretaram 533 insolvências, mais do que as 484 do trimestre anterior e do que as 478 do terceiro trimestre de 2023.

Já a comparação com o trimestre homólogo aponta também para um aumento, face aos 504 processos de insolvência registados nos primeiros três meses de 2023.

Os processos de insolvência de empresas registados no primeiro trimestre deste ano abrangeram maioritariamente negócios nos setores das indústrias transformadoras, da reparação de automóveis, construção e alojamento e restauração.

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Galp aprova redução do capital social em até 9%

  • Lusa
  • 10 Maio 2024

Na assembleia-geral, o conselho de administração da Galp recebeu também os poderes necessários para, dentro do limite indicado, “proceder à fixação do número de ações a extinguir”.

Os acionistas da Galp aprovaram, em assembleia-geral, uma redução do capital social da petrolífera em até 9%, por extinção de ações próprias, e a distribuição estimada de 422 milhões de euros em dividendos, foi comunicado esta sexta-feira ao mercado.

De acordo com a proposta em causa, enviada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o Conselho de Administração da Galp recebeu também os poderes necessários para, dentro do limite indicado, “proceder à fixação do número de ações a extinguir”.

Este órgão foi delegado para praticar todos os atos para a concretização da redução do capital social e transferir o excesso da reserva legal nos capitais próprios para os resultados acumulados. Na reunião desta sexta, as contas da empresa também foram aprovadas, assim como a proposta de aplicação de resultados, que prevê a distribuição de mais de 422 milhões de euros em dividendos.

Em causa, está o pagamento de 0,27 euros por ação em circulação, que se somam aos 0,27 euros já pagos “a título de adiantamento de lucros do exercício de 2023”, perfazendo um total de 0,54 euros. O montante total a distribuir foi estimado, com base no capital social existente a 31 de dezembro de 2023, em 422.139.515,22 euros.

Da ordem de trabalhos fizeram ainda parte alterações à política de remuneração dos membros dos órgãos sociais e a concessão de autorização ao Conselho de Administração para a compra e venda de ações e obrigações próprias, que também receberam “luz verde”.

Os acionistas da Galp também procederam à apreciação do Conselho de Administração, do Conselho Fiscal e do Revisor Oficial de Contas. Na sessão de hoje da bolsa, as ações da Galp subiram 0,38% para 19,94 euros.

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Pedro Costa assume a direção geral do GCI Media Group

Filho do ex-primeiro-ministro António Costa, Pedro Costa tinha apresentado a renúncia ao cargo de presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique alegando divergências com Carlos Moedas.

Pedro Costa, até há dez dias presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, vai assumir as funções de diretor-geral do GCI Media Group. “Estou altamente confiante de que o Pedro Costa, assumindo a direção geral, vai contribuir fortemente para o elevar ainda mais do patamar de qualidade dos nossos serviços e potenciar novas oportunidades de desenvolvimento dentro das diferentes agências do grupo”, diz citado em comunicado André Gerson, CEO do grupo que agrega a GCI, a Media Consulting, a agência de eventos WMK, a Sonomage, a SSI – SustainableSocietyInitiative e a Meraki, agência de comunicação em Angola”.

Pedro Costa, filho do ex-primeiro-ministro António Costa, é licenciado em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa e pós-graduado em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação pelo ISCTE. “É com muito entusiasmo que aceito este desafio, como diretor-geral, colocar ao serviço do GCI Media Group a minha experiência em comunicação institucional, acompanhada do conhecimento que a atividade política me deu nos últimos anos. É um regresso ao mundo da consultoria de comunicação e relações-públicas focado no crescimento deste grande grupo que é o GCI Media Group”, refere Pedro Costa.

O agora diretor-geral renunciou recentemente ao cargo de presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, alegando ter chegado a um ‘limite’ nas relações políticas e institucionais com Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa. “Sinto que cheguei ao meu limite face ao silêncio da Câmara Municipal, disse o autarca através de uma carta dirigida aos munícipes de Campo de Ourique. “É difícil dar a cara junto dos eleitores com a falta de informação de que disponho e sinto que é impossível, com a energia que me resta, garantir as prioridades certas para a freguesia de Campo de Ourique. Este ponto de encontro entre a falta de condições pessoais e políticas é a pedra de toque da decisão que aqui partilho“, escreveu, numa mensagem aos munícipes no dia 30 de abril.

As mudanças no GCI Media Group incluem também a nomeação de Carlos Gouveia Martins para desempenhar a função de corporate communications manager de forma transversal a toda a estrutura do grupo. Licenciado em Administração Pública e Políticas do Território pelo ISCSP da Universidade de Lisboa, é mestre em Ciências Farmacêuticas e pós graduado em Marketing e Comunicação.

Em abril, o GCI Media Group integrou a APECOM – Associação Portuguesa das Empresas de Comunicação e aderiu ao Código de Conduta de Assuntos Públicos para a Representação Legítima de Interesses, subscrevendo a missão da Associação em avançar para a autorregulação do lobbying enquanto Portugal permanecer sem legislação nesta matéria.

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Montenegro está “de mente e peito aberto” para avaliar propostas da oposição para a habitação

Governo reúne-se na próxima semana com os partidos da oposição para ouvir “contributos positivos” que possam somar às 30 medidas apresentadas pelo Executivo para o setor da habitação.

O primeiro-ministro anunciou esta sexta-feira que “na próxima semana” o Governo vai encetar no Parlamento contactos com todos os grupos parlamentares com vista a aproveitar as iniciativas e os contributos que todos os partidos possam apresentar para a execução da estratégia” para a habitação. “Estamos abertos a enriquecer esta estratégia com contributos positivos”, frisou.

Em conferência de imprensa no Porto, onde apresentou um plano com 30 medidas para a habitação, Luís Montenegro garantiu que está “de mente e peito aberto” para acolher propostas da oposição. No entanto, salvaguardou que o Executivo “não está disponível para simular diálogos e concertações”. “Estamos disponíveis para acolher ideias de quem quer construir; [não] para quem quer fazer de conta que dialoga, mas depois está sempre nas costas a tentar minar o trabalho do Governo”, assinalou.

Acompanhado pelos ministros das Infraestruturas e da Habitação, Miguel Pinto Luz, e dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, durante uma intervenção no Salão Nobre da Câmara do Porto, em que deixou promessas ao autarca Rui Moreira de uma “parceria estratégica com os municípios” nesta área da habitação, o chefe do Executivo sublinhou que o tema da habitação “afeta todo o território português, com algumas especificidades em cada local”.

“Há hoje grandes dificuldades no acesso à habitação, com consequências para a atração de recursos humanos para as empresas e para a administração pública, com implicações nas condições de vida dos portugueses”, sublinhou o chefe do Executivo, para quem o acesso a uma habitação digna “não pode ser apenas uma formulação jurídica [e] para ser um verdadeiro direito fundamental tem de ser um exercício pleno”, referiu.

Para Luís Montenegro, “uma pessoa que não tenha uma habitação digna está em conduções de desigualdade flagrante à partida, e isso é uma circunstância que não podemos tolerar”. O primeiro-ministro notou ainda que “obviamente não foi feito tudo mal” pelo anterior Executivo socialista e que “o que está bem feito é para continuar”. “Mas há muito que não foi feito ou que foi feito erradamente. Por isso há que atalhar caminho”, concluiu.

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Manutenção das taxas decidida “por amplo consenso” dos membros do BCE

  • Lusa
  • 10 Maio 2024

As atas do BCE referem que alguns membros estavam “suficientemente convencidos” de que a inflação, a inflação subjacente e a transmissão da política monetária “justificavam uma redução das taxas".

A manutenção das taxas de juro da zona euro em 4,5% foi decidida “por amplo consenso” do BCE, embora “alguns membros se sentissem suficientemente confiantes” para baixá-las, devido ao risco de um efeito maior que o desejado.

Na reunião de política monetária de 10 e 11 de abril, o conselho do Banco Central Europeu (BCE), decidiu manter, pela quinta vez consecutiva, as taxas de juro em 4,5%, a facilidade de crédito – que empresta aos bancos durante a noite – em 4,75% e a facilidade de depósito – que remunera as reservas excedentárias durante a noite – em 4%. Uma decisão que, de acordo com a ata da reunião publicada esta sexta-feira pelo organismo, foi tomada “por amplo consenso”, depois de “uma grande maioria dos membros” ter concordado com a proposta do economista-chefe do BCE, Philip R. Lane.

No entanto, alguns membros estavam “suficientemente convencidos” de que a inflação, a inflação subjacente e a transmissão da política monetária “justificavam uma redução das taxas diretoras” na reunião. A ata reflete, assim, o início do debate sobre uma eventual redução no seio do Conselho, depois de as autoridades bancárias terem decidido por unanimidade manter a orientação restritiva nas reuniões anteriores à realizada em abril.

Nesta ocasião, os defensores de uma redução recordaram que, desde a última subida oficial das taxas, em setembro de 2023, as taxas de juro reais tinham estado perto do seu pico, considerando provável que os efeitos da política de aperto persistissem mesmo que o preço do dinheiro fosse reduzido. Salientaram também que a redução do balanço do Eurossistema estava a comprimir a economia e que havia o risco de a inflação cair ainda mais se a fraqueza económica persistisse.

Neste contexto, consideraram que, atualmente, o risco de baixar as taxas demasiado tarde era, “pelo menos, tão elevado” como o risco de baixar as taxas demasiado cedo, uma vez que poderia ter “um preço demasiado elevado em termos de diminuição da atividade”. Em todo o caso, “chegou-se a um consenso alargado” em que os membros concordaram em manter as taxas nos níveis atuais, enquanto se aguardam “novos sinais de um regresso atempado e sustentado da inflação ao objetivo de 2%”.

“Os membros sublinharam a conveniência de aguardar até junho por novos indícios que confirmem ou indiquem uma alteração das perspetivas”, refere a ata, salientando que serão também avaliados os novos riscos decorrentes de uma eventual escalada das tensões geopolíticas.

Os decisores de política monetária concordaram que a economia tinha permanecido fraca no primeiro trimestre e que os dados mais recentes davam sinais “mistos”, uma vez que, embora alguns indicadores suaves se tivessem tornado mais favoráveis, outros indicadores duros apontavam persistentemente para um crescimento mais lento. Em particular, foi referido que, embora as despesas com serviços fossem resistentes, as empresas da indústria transformadora enfrentavam uma procura fraca e uma produção moderada, especialmente nos setores com utilização intensiva de energia.

No que diz respeito à inflação, consideraram que esta flutuaria em torno dos níveis atuais a curto prazo, embora esta irregularidade na sua descida fosse “consistente com um regresso” ao objetivo em meados de 2025.

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Assembleia-Geral da ONU concede novos direitos à Palestina e apoia adesão plena

  • Lusa
  • 10 Maio 2024

O projeto de resolução obteve 143 votos a favor – incluindo de Portugal –, nove contra e 25 abstenções dos 193 Estados-membros da ONU.

A Assembleia-Geral da ONU aprovou esta sexta-feira, com apoio esmagador de 143 países, uma resolução que concede “direitos e privilégios adicionais” à Palestina e apela ao Conselho de Segurança que reconsidere favoravelmente o seu pedido de adesão plena à organização. O projeto de resolução, apresentado pelos Emirados Árabes Unidos em representação do Grupo de Países Árabes, e copatrocinado por cerca de 40 países, obteve 143 votos a favor – incluindo de Portugal –, nove contra e 25 abstenções dos 193 Estados-membros da ONU.

Votaram contra este texto países como Israel, Estados Unidos ou Hungria e entre os países que se abstiveram estão Ucrânia, Itália, Reino Unido, Alemanha ou Canadá. “A Assembleia-Geral determina que o Estado da Palestina está qualificado para ser membro da ONU em conformidade com o artigo 4.º da Carta das Nações Unidas e deve, portanto, ser admitido como membro das Nações Unidas”, sustenta a resolução.

O texto pede também ao secretário-geral da ONU, António Guterres, “que tome as medidas necessárias para implementar a presente resolução”. Entre os novos direitos concedidos aos palestinianos nesta resolução estão o seu assento entre os estados-membros por ordem alfabética, a apresentação de propostas individualmente ou em nome de um grupo perante a Assembleia-Geral, a solicitação do direito de resposta, fazer declarações ou solicitar modificações na agenda, entre outros.

A resolução pede ainda que os direitos reivindicados para a Palestina – e que representam uma melhoria no seu estatuto de Estado Observador – sejam considerados “uma exceção e não tomados como um precedente”. “O Estado da Palestina, na sua qualidade de Estado Observador, não tem o direito de votar na Assembleia-Geral ou de apresentar a sua candidatura aos órgãos das Nações Unidas”, frisa a resolução.

Antes da votação, os Estados Unidos, inabalável aliado de Israel, já haviam anunciado que iriam votar contra a resolução, tendo instado os restantes estados-membros a fazerem o mesmo. “Os esforços para fazer avançar esta resolução não mudam a realidade de que a Autoridade Palestiniana não cumpre atualmente os critérios para adesão à ONU ao abrigo da Carta da ONU”, indicou hoje, antes da votação, o porta-voz da missão dos Estados Unidos junto da ONU, Nate Evans.

O porta-voz alertou que caso o pedido de adesão palestiniano seja reenviado ao Conselho de Segurança da ONU, será esperado um “resultado semelhante ao que ocorreu em abril”, quando Washington vetou o projeto.

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Da habitação pública ao arrendamento, conheça as 30 medidas do Governo para “construir Portugal”

Com um prazo de execução que vai de dez dias a quatro meses, o programa “Construir Portugal: Nova Estratégia para a Habitação” promete dar “resposta imediata” à crise de oferta. Confira as 30 medidas.

Pouco mais de um mês depois de tomar posse e dois dias após ver o Parlamento chumbar a revogação de várias medidas do programa Mais Habitação do anterior Executivo, como os limites no Alojamento Local ou o arrendamento coercivo – a única proposta aprovada foi a subida das deduções com rendas no IRS para 700 euros já em 2025 –, o Governo apresentou esta sexta-feira o programa “Construir Portugal: Nova Estratégia para a Habitação”. Com um prazo de execução que vai de dez dias a quatro meses, engloba 30 medidas para dar “resposta imediata” à crise de oferta habitacional, que diz estar a “alimentar uma preocupante divisão na sociedade”.

Incentivar a oferta com a disponibilização de imóveis e redução de custos; promover a habitação pública; devolver a confiança no arrendamento; simplificar a legislação; fomentar a habitação jovem; e assegurar a acessibilidade na habitação. São estes os seis capítulos em que se divide o plano apresentado esta tarde pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, e pelo ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, durante uma conferência de imprensa no Salão Nobre da Câmara Municipal do Porto. Confira as 30 medidas.

Incentivar a oferta (disponibilização de imóveis e redução de custos)

– Disponibilização de imóveis públicos para habitação (build-to-rent) com renda/preço acessível, em regime de Parceria Público-Privada (90 dias);

– Regime legal semiautomático de aproveitamento de imóveis públicos devolutos ou subutilizados por apresentação casuística de projeto de habitação, a executar pelos municípios e, se necessário, com parceiros privados (10 dias);

– Alteração da lei dos solos para permitir o uso de solos rústicos para soluções sustentáveis de habitação (a custos controlados, para arrendamento acessível, para alojamento temporário ou oferta para casas de função para professores, forças de segurança, trabalhadores agrícolas, industriais e setor do turismo (60 dias);

– Criação de bónus construtivo para aumento dos índices e limites de densidade urbanística em projetos de habitação a custos controlados, arrendamento acessível ou alojamento temporário (90 dias);

– Novas centralidades urbanas na envolvente das zonas de pressão urbanística, com planos urbanísticos sustentáveis e em coordenação com a oferta de transportes (estudo em 120 dias);

– Garantia do Estado a crédito para construção de cooperativas com entrega de terreno público (90 dias);

– Linhas de crédito para promoção do build-to-rent (60 dias);

– Pacto com agentes do setor para aumento da capacidade construtiva, envolvendo estabilidade da capacidade produtiva, industrialização do processo, e atração e qualificação de mão-de-obra residente;

– Redução de IVA para a taxa mínima de 6% para as obras de reabilitação e construção de habitação, com limites em função dos preços (até ao fim da legislatura);

Promover a habitação pública

– Desbloqueio de 25.000 casas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) com adoção de termo de responsabilidade das câmaras municipais, de modo a acelerar os processos (10 dias);

– Reforço de financiamento para viabilizar o desenvolvimento de milhares de outros fogos candidatos, mas não financiados no PRR (30 dias);

– Robustecer a capacidade de promoção do IHRU, através da Construção Pública EPE (antiga Parque Escolar), na realização dos fogos do Programa de Arrendamento Acessível (10 dias);

Devolver a confiança no arrendamento

– Revogação do arrendamento forçado, em respeito pelo direito de propriedade (10 dias);

– Revogação da medida do Mais Habitação de garantia e substituição do Estado como arrendatário (30 dias);

– Correção das distorções introduzidas ao Regime de Arrendamento Urbano nos últimos oito anos para devolver flexibilidade e confiança ao mercado de arrendamento (nomear grupo de trabalho);

– Criação do contrato de investimento para built-to-rent e available-to-let;

Simplificação legislativa

– Possibilitar a constituição de um ou mais contratos de seguro através de um prestador que não seja o da preferência do mutuante, promovendo a saudável concorrência no mercado;

– Revisão do Simplex Urbanístico, com regulamentação, aprofundamento e aperfeiçoamento da legislação de desburocratização e simplificação administrativa urbanística (90 dias);

– Aprovar o Código da Construção;

– Implementação da utilização da metodologia BIM (Building Information Modeling) e aproximação das plataformas municipais de licenciamento de interface com os agentes económicos (120 dias);

– Adequar o conceito de custos controlados e renda acessível para refletir o segmento de habitação acessível em cada local e momento, gerando maior previsibilidade e perenidade ao mercado (120 dias);

– Revogação da Contribuição Extraordinária sobre o Alojamento Local (CEAL), da caducidade da licença e transmissibilidade, e da alteração ao coeficiente de vetustez, descentralizando a regulação para os municípios (10 dias);

– Criação do Portal do IHRU (Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana) para acompanhamento dos processos de candidaturas com o objetivo de reforçar a transparência (120 dias);

Fomentar a habitação jovem

– Garantia pública aos jovens para viabilizar o financiamento bancário na compra da primeira casa (15 dias);

– Isenção de IMT e Imposto de Selo na compra da primeira casa para os jovens até aos 35 anos nos imóveis até ao 4º escalão de IMT, ou seja, até 316 mil euros (15 dias);

– Reformulação do programa de apoio ao arrendamento Porta 65, para colocar a realidade económica do jovem em primeiro lugar, acabando com exclusões em função de limites de rendas (15 dias);

– Programa de Emergência para o Alojamento Estudantil (15 dias):

– Implementação do “Plano Nacional Alojamento 2025-26” para os estudantes, com a oferta de mais 18 mil camas (30 dias);

Assegurar a acessibilidade na habitação

– Agilização dos programas de subsídio de renda, eliminando as restrições, designadamente nas caducidades (30 dias);

– Criação de regulamento de transição entre as rendas apoiadas e a renda acessível, por forma a garantir a não existência de descontinuidades nos apoios (120 dias).

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“Comunicar com propósito não pode significar aborrecer as pessoas”, diz Susana Albuquerque

O "cross-fire" da APAN contou também com Teresa Burnay (media director da Unilever), Ricardo Domingues (senior marketer no Betclic Group) e Nuno Jerónimo (fundador e diretor criativo d’O Escritório).

Ricardo Domingues, Nuno Jerónimo, Ricardo Torres Assunção, Teresa Burnay e Susana Albuquerque.

Comunicar com propósito não pode significar aborrecer as pessoas”, afirmou Susana Albuquerque, diretora criativa da Uzina e presidente do Clube da Criatividade de Portugal, acrescentando que “se o propósito aposta em definirmos a nossa marca em função do que as pessoas querem, quando vamos comunicar não as podemos aborrecer“.

A ideia foi defendida num “cross-fire” no Better Marketing, conferência organizada pela Associação Portuguesa de Anunciantes – APAN, onde Susana Albuquerque e Teresa Burnay (media director da Unilever) foram convidadas a defender a ideia de que a comunicação fica chata quando o tema é o propósito. Ricardo Domingues (senior marketer no Betclic Grou) e Nuno Jerónimo (fundador e diretor criativo d’O Escritório) tiveram de sustentar a ideia contrária.

Ainda segundo Susana Albuquerque para uma marca ter um propósito, isso significa sobretudo ser relevante para os consumidores: “A única coisa que o propósito de uma marca quer dizer é que é muito clara a razão pela qual a marca existe segundo as pessoas“.

Concordante com esta ideia, Teresa Burnay defendeu que “colocar em primeiro lugar as pessoas como foco é fundamental para definir um propósito que seja relevante“. E isso passa por “conhecê-las a fundo, as suas necessidades, o que as entusiasma, e para isso é preciso colocarmo-nos [marketeers] num contexto exterior”, que é de onde vêm “as melhores soluções e as melhores ideias”, argumentou.

Segundo a media director da Unilever, para ter escala e relevância, a marca não se pode focar em “problemas de nicho”, pois aí sim, “torna-se chato”. “Temos que encontrar um propósito – que até pode ser individual – mas que atinja várias pessoas diferentes, para ter a certeza que quando comunicamos estamos a ter a escala suficiente”, disse.

É importante apaixonarmo-nos pelo problema, e não partir logo para as soluções. Só percebendo o problema é que vamos conseguir falar a linguagem dessa audiência a que nos queremos dirigir e só assim chegamos a um propósito que seja relevante”, defendeu ainda Teresa Burnay, acrescentando que foi isso que aconteceu há 20 anos com a Dove, quando a marca percebeu que apenas 2% das mulheres se consideravam bonitas, o que levou a uma aposta num propósito de fazer da beleza uma fonte de confiança e não de ansiedade.

No entanto, um propósito não tem de ser necessariamente sinónimo de uma causa, “não tem de estar ligado a um flagelo”, disse, referindo que pode ser tão simples quanto promover o bem-estar individual ou das famílias, algo que a Ikea tem vindo a fazer. O propósito não tem de ser comunicado de forma “séria” mas pode ser comunicado de forma “divertida”, acrescentou.

Já Nuno Jerónimo quis fazer a distinção entre “marketing de causas” e propósito, referindo que são coisas diferentes e que para se desenvolver este último é preciso consistência, acrescentando que por vezes as marcas se apropriam de causas para fazer conversa.

Um princípio não é um princípio até custar alguma coisa”, foi a frase de Bill Bernbach que Nuno Jerónimo escolheu para defender a ideia de que as marcas têm realmente de fazer alguma coisa e não apenas dizerem que têm um propósito quando comunicam. Por vezes o que as marcas comunicam não são princípios ou propósitos, mas sim “coisas que ficam bem”, defendeu.

A marca não pode só falar, tem de ter ações consequentes”, concordou Teresa Burnay, ao que Nuno Jerónimo acrescentou que “tem de ser sempre consequente”.

Susana Albuquerque fez ainda menção a uma “distorção” que tem acontecido nos últimos anos, onde as agências recebem briefings por parte das marcas para a criação de um propósito.

O propósito ou existe na empresa desde a sua essência, nas suas decisões fundamentais, ou é uma coisa postiça que não serve para nada. Ou pior, serve para ficar igual aos outros e para ser ainda mais invisível, que é aquilo que andamos todos a lutar contra“, afirmou a também presidente do Clube da Criatividade de Portugal.

Concordante com esta ideia, Ricardo Domingues defendeu que quando o propósito surge através de um pedido para uma agência, este “nunca pode ter consistência porque é fabricado”. “Ou está na génese da empresa e é consistente, ou é algo acrescentado para tentar vender mais“, referiu, acrescentando ainda que “o propósito custa dinheiro”.

Teresa Burnay rebateu, dizendo não concordar com a ideia de que uma marca tenha de nascer com propósito e referindo que isso tem a ver com evolução. Segundo a media director da Unilever, no século XIX as marcas fundamentavam-se na funcionalidade dos produtos, enquanto no século XX começaram a ser um sinónimo de estatuto social, sendo que “só desde há duas décadas é que o propósito começou a ganhar uma grande relevância e a ser comunicado pelas marcas”.

“Isto tem a ver com a evolução dos tempos e das pessoas. As pessoas estão cada vez mais informadas, há uma transparência cada vez maior, os consumidores esperam que as marcas tenham uma razão de investir e que intervenham na sociedade. Hoje em dia, o propósito já não é uma escolha, este tem de existir. Podemos é chamar-lhe outra coisa. Tem de haver uma razão de existir, se não [as marcas] não são aceites pelo público“, afirmou.

Nuno Jerónimo concordou, mas disse que a diferença está em as pessoas exigirem que as marcas façam e não que digam que fazem. “Acho que todas devem ter propósito. Se devem comunicar é que por vezes levanta dúvidas”, acrescentou.

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Apple pede desculpa por anúncio ao iPad Pro depois de críticas

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  • 10 Maio 2024

A maioria das críticas apontou que o anúncio parecia demonstrar que a tecnologia tem força para destruir a parte humana envolvida na criação criativa. O spot não vai passar em televisão.

A Apple pediu desculpa pelo seu recente anúncio de promoção do iPad Pro, depois das várias críticas que surgiram online, principalmente por parte de criativos. O anúncio mostra várias ferramentas como um piano ou uma câmara a serem esmagados para dar origem ao gadget da marca.

“A criatividade está no nosso ADN e é extremamente importante para nós desenhar produtos que capacitem criativos em todo o mundo. O nosso objetivo é sempre celebrar a infinidade de maneiras que os utilizadores usam para se expressarem e dar vida às suas ideias através do iPad. Errámos o alvo com este vídeo e lamentamos por isso“, refere Tor Myhren, vice-presidente de marketing da Apple, num comunicado citado pela Ad Age.

Segundo este meio, em virtude da polémica, a campanha da Apple não vai marcar presença no meio televisivo.

Lançado na terça-feira, o spot mostra uma compressora industrial a esmagar utensílios, principalmente analógicos – desde um piano, a câmaras, latas de tinta, uma câmara ou uma consola – que depois dão origem ao iPad Pro. Como música de fundo ouve-se “All I Ever Need Is You” (tudo o que eu preciso és tu, em português).

A maioria das críticas apontou que, embora a intenção possa ter passado por sublinhar as várias capacidades do dispositivo, o anúncio parecia demonstrar que a tecnologia tem força para destruir a parte humana envolvida na criação.

O próprio Tim Cook, CEO da empresa tecnológica, partilhou o anúncio no X (ex-Twitter), escrevendo “imaginem todas as coisas que poderá ser usado para criar”, publicação onde as críticas rapidamente se multiplicaram.

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