Da pandemia à Namíbia, os altos e baixos das ações da Galp com três CEO

Através dos gráficos, veja como as novas descobertas da Namíbia, a pandemia de Covid-19 ou decisões políticas envolvendo o negócio da Galp tiveram impacto nas ações da companhia desde 2015 até agora.

De 2015 a 2025, a Galp GALP 1,49% teve três presidentes executivos – Carlos Gomes da Silva, Andy Brown e Filipe Silva – e um histórico de momentos-chave para as ações da empresa, como as novas descobertas da Namíbia, a pandemia de Covid-19 ou decisões políticas que tiveram impacto no negócio, como as taxas sobre lucros excessivos e o regresso ao mercado regulado do gás. Veja cronologia com os maiores altos e baixos da cotada durante os mandatos dos três CEO.

Carlos Gomes da Silva

CEO da Galp de 16 abril de 2015 a 19 de fevereiro de 2021

  • Maior subida: +17,40% a 9/11/2020
  • Maior descida: -16,52% a 9/03/2020
  • Cotação mais alta: 18€ a 7/08/2018
  • Cotação mais baixa: 6,55€ a 29/10/2020

A Galp estreou na bolsa de Lisboa a 23 de outubro de 2006 e foi no ano seguinte que o então engenheiro eletrotécnico Carlos Gomes da Silva entrou para a administração da empresa sob proposta do grupo Amorim. Oito anos depois viria a assumir o cargo de CEO e entrou com honras de uma mensagem esperançosa do empresário Américo Amorim: O mandato de 2015-2018 viria a ser “um período de crescimento ímpar dos negócios, com especial enfoque nas atividades de exploração e produção petrolífera” e, simultaneamente, de “gestão sã, prudente e geradora de valor”.

A primeira semana de março de 2020 está na memória de muitos portugueses, mesmo os que não acompanham os mercados financeiros ou a atualidade económica: foi a crónica de um confinamento anunciado, o início do que viria a ser uma sociedade em suspenso à espera de que o vírus da Covid-19 estivesse de passagem. Precisamente no dia 9 de março de 2020, Portugal já contava com 30 casos de infeção e as primeiras escolas fechadas no Norte do país, as ações da Galp afundavam mais de 16%, acompanhando o sentimento pessimista do PSI, que teve a pior performance diária desde 2008.

Já o preço mais baixo dos títulos, durante a liderança deste CEO, aconteceu no início de agosto de 2018, um verão quente na companhia com o arranque de produção do projeto Kaombo em Angola e das conversações para a saída da Sonangol do capital. De facto, Carlos Gomes da Silva enfrentou anos de volatilidade nos títulos devido à pandemia, e viu-se inclusive obrigado a rever a estratégia de investimento, mas foi por alegadas divergências com Paula Amorim, chairwoman e maior acionista em nome da Amorim Energia (dona da 36,7% da empresa) que acabou por sair antes do fim do segundo mandato, em janeiro de 2021.

Andy Brown

CEO da Galp de 19 de fevereiro de 2021 a 31 de dezembro de 2022

  • Maior subida: +10,61% a 2/03/2022
  • Maior descida: -6,99% a 23/09/2022
  • Cotação mais alta: 13,06€ a 9/06/2022
  • Cotação mais baixa: 8,06€ a 20/12/2021

Quando Andy Brown entrou na comissão executiva da Galp, bastou uma semana até ter de dar a cara pelos prejuízos de 42 milhões de euros em 2020, que compararam em baixa com os lucros de 560 milhões de euros do ano anterior. O ano seguinte (2021) foi marcado pela aceleração do plano de investimento na descarbonização, no âmbito da transformação da Galp para um negócio mais verde – tanto que foi nessa altura que nasceu a parceria com a sueca Northvolt para projetos de lítio, que deveria representar até 700 milhões de euros de investimento e mais 1.500 empregos diretos e indiretos, mas acabou por cair. O foco estava nas emissões zero. Até ao eclodir de uma guerra na Europa, em fevereiro de 2022.

Poucas semanas depois, a 2 de março de 2022, a Galp emitiu um comunicado a informar que repudiava a agressão russa contra a Ucrânia e, nesse sentido, tinha decidido suspender quaisquer novas aquisições de produtos petrolíferos provenientes, quer da Rússia, quer de empresas russas. Os investidores aplaudiram a decisão e as ações dispararam cerca de 10%.

Por outro lado, em plena crise energética nacional, os títulos desvalorizaram mais de 6% a 23 de setembro de 2022, dois dias após o então ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro afirmar que Portugal não se iria opor a uma taxa sobre lucros extraordinários de energéticas. Nessa mesma semana a Galp criticou a decisão do Governo de permitir que as famílias possam passar para o mercado regulado no gás. “Não é uma medida eficiente”, atirou Andy Brown.

Filipe Silva

CEO da Galp de 1 de janeiro de 2023 a 7 de janeiro de 2025

  • Maior subida: +20,64% a 22/04/2024
  • Maior descida: -7,42% a 15/03/2023
  • Cotação mais alta: 21,41€ a 30/04/2024
  • Cotação mais baixa: 9,60€ a 20/03/2023

A liderança de Filipe Silva, ainda que curta comparativamente aos antecessores, destacou-se por fortes subidas da Galp em bolsa e pelos maiores lucros de sempre até setembro. Nos primeiros nove meses de 2024, o lucro da petrolífera aumentou 24%, em termos homólogos, para 890 milhões de euros, o que correspondeu a um recorde neste período. Certo é que Andy Brown também tinha conseguido que a Galp atingisse o resultado líquido mais alto até à data (420 milhões de euros), catapultado pela subida dos preços do petróleo, mas outros fatores negativos acabaram por se sobrepor e levar à saída do gestor britânico. Neste caso, verificou-me a mesma situação: o brilho das contas não foi suficiente e uma questão de governance e ética terá ditado este desfecho.

Foi também no ano passado, com Filipe Silva aos comandos da Galp, que cada ação teve o valor mais elevado (24,54 euros) e houve a segunda maior subida de sempre, após o histórico 9 de novembro 2007, onde os títulos dispararam 24% estimulados pelo anúncio da descoberta de petróleo no campo de Tupi, localizado na Bacia de Santos, no litoral do Rio de Janeiro. Dezassete anos mais tarde, foram as notícias vindas da Namíbia que animaram os investidores: a 21 de abril de 2024, pouco antes do fecho do mercado, a empresa indicava à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) que havia feito uma “importante descoberta comercial” de petróleo leve.

“Só no complexo de Mopane e antes de perfurar poços adicionais de exploração e avaliação, as estimativas de hidrocarbonetos no local de hidrocarbonetos no local são de 10 mil milhões de barris de petróleo equivalente, ou mais”, previa a empresa. O facto encaminhou as ações para um disparo de 20,63% no dia seguinte devido ao potencial de negócio que se avizinhava e, desde então, a Galp fez sete atualizações ao mercado sobre a Namíbia. A mais recente foi mesmo antes de virar a página do calendário para 2025, indicando que perfurou “com sucesso” o quarto poço no país e que detetou mais dois reservatórios de “boa qualidade”.

Já a desvalorização superior a 7% em meados de março de 2023 esteve alinhada com a correção do petróleo e gás. “Nessa sessão a Total Energies caiu -5,63%, ENI -5,6%, Shell -7,86%, Repsol -6,95% e BP -8,29%. Os contratos de crude também sofreram: WTI caiu -5,22% para 67,61 dólares e Brent -4,85% para 73,69 dólares, enquanto o gás natural recuou -5,21% para 2,43 dólares por milhão de unidades térmicas britânicas (mmBtu) e o contrato europeu ajustou -2,9% para 42,90 euros/MWh, após já ter perdido -10,89% no dia anterior”, afirmou ao ECO o responsável de Trading do Banco Carregosa, João Queiroz.

Segundo o analista, esse contexto foi influenciado por fatores macro, portanto conjunturais e não intrínsecos, como a fusão do Credit Suisse com o UBS, os impactos da invasão da Ucrânia e a logística energética, além das trajetórias das taxas de juro.

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