Europa responde com pacote de 26 mil milhões às tarifas americanas
Bruxelas retalia contra tarifas dos EUA do aço e alumínio que entram em vigor esta quarta-feira, com um pacote de contramedidas de 26 mil milhões de euros que será repartido em duas fases.
A União Europeia anunciou esta quarta-feira um pacote de contramedidas no valor de 26 mil milhões de euros sobre produtos importados dos EUA, em resposta direta às tarifas de 25% sobre o aço e alumínio europeus impostas pela Administração de Donald Trump que entraram em vigor esta quarta-feira, e que terão um impacto de cerca de 28 mil milhões de euros.
As contramedidas reveladas pela Comissão Europeia surgem após semanas de negociações infrutíferas de Bruxelas com Washington. Maroš Šefčovič, comissário europeu do Comércio, reuniu-se em meados de fevereiro com três membros da Administração norte-americana para tentar encontrar uma solução para esta “guerra comercial” transatlântica, que não teve frutos.
Em comunicado, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, manifestou-se firmemente contra as tarifas americanas, lamentando profundamente a decisão dos EUA de impor direitos aduaneiros sobre as exportações europeias de aço e de alumínio, sublinhando que “os direitos aduaneiros são impostos. São maus para as empresas e ainda piores para os consumidores” e que “estas tarifas estão a perturbar as cadeias de abastecimento, trazem incerteza para a economia” coloca “em causa postos de trabalho” e irão gerar uma subida de preços na Europa e nos EUA.
Estaremos sempre abertos à negociação. Acreditamos firmemente que, num mundo repleto de incertezas geopolíticas e económicas, não é do nosso interesse comum sobrecarregar as nossas economias com tarifas.
As contramedidas da União Europeia serão introduzidas em duas fases, sendo que a primeira inicia-se a 1 de abril, entrando plenamente em vigor a partir de 13 de abril.
- Numa primeira fase, a Comissão Europeia vai permitir que a suspensão das contramedidas existentes de 2018 e 2020 contra os EUA expire a partir de 1 abril. Estas medidas tinham como alvo diversos produtos americanos, como bourbon, motos e sumo de laranja, e foram implementadas em resposta ao prejuízo económico causado sobre oito mil milhões de euros de exportações europeias de aço e alumínio na altura.
- Numa segunda fase, em resposta às novas tarifas americanas que afetam mais de 18 mil milhões de euros de exportações da União Europeia, a Comissão Europeia vai “apresentar um novo pacote de contramedidas sobre exportações dos EUA”, que entrarão em vigor até meados de abril, após consulta aos Estados-Membros e partes interessadas.
Apesar da firmeza, Bruxelas mantém a porta aberta ao diálogo: “Entretanto, estaremos sempre abertos à negociação. Acreditamos firmemente que, num mundo repleto de incertezas geopolíticas e económicas, não é do nosso interesse comum sobrecarregar as nossas economias com tarifas”, refere Ursula von der Leyen em comunicado.
Longo historial de tarifas aduaneiras
Este conflito comercial entre os dois blocos económicos não é novo. As primeiras tarifas americanas sobre o aço e o alumínio europeus foram introduzidas em junho de 2018, durante a primeira Administração de Donald Trump, afetando 6,4 mil milhões de euros de exportações europeias (o equivalente a oito mil milhões com base nos fluxos e valores de 2024).
Em janeiro de 2020, seguiram-se tarifas adicionais, afetando cerca de 40 milhões de euros de exportações da UE de certos produtos derivados de aço e alumínio. Em resposta, a União Europeia introduziu contramedidas sobre 2,8 mil milhões de euros de exportações americanas para o bloco europeu, seguidas de uma resposta semelhante ao segundo conjunto de tarifas americanas em 2020.
Deveríamos estar a fortalecer esta grande relação, não a enfraquecê-la. Infelizmente, as tarifas impostas pelos EUA hoje vão firmemente na direção errada.
As restantes medidas de reequilíbrio, que afetavam exportações avaliadas em até 3,6 mil milhões de euros, estavam programadas para entrar em vigor a 1 de junho de 2021. No entanto, após discussões com os EUA sobre um sistema de quotas baseado em tarifas para os exportadores da União Europeia, estas medidas foram suspensas até 31 de março de 2025, para dar espaço às partes para desenvolverem uma solução de longo prazo, mas que agora foram suspensas.
“As relações comerciais entre a União Europeia e os EUA estão atualmente bem equilibradas, bem como são extremamente lucrativas para ambas as partes. Deveríamos estar a fortalecer esta grande relação, não a enfraquecê-la. Infelizmente, as tarifas impostas pelos EUA hoje vão firmemente na direção errada”, destaca Maroš Šefčovič, Comissário europeu do Comércio em comunicado.
O executivo de Ursula von der Leyen tem salientado que “tomará medidas para salvaguardar os seus interesses económicos” e que “protegerá os trabalhadores, as empresas e os consumidores europeus” reafirmando a sua determinação em defender os interesses do bloco, mesmo que isso implique um agravamento das tensões comerciais com os EUA.
“Embora a União Europeia continue a procurar acordos vantajosos para ambas as partes, deixámos claro desde o início que tarifas injustificadas sobre as nossas exportações não ficarão sem resposta, e não hesitaremos em proteger os nossos interesses económicos legítimos”, volta a lembrar o comissário europeu esta quarta-feira.
No ano passado, os países da União Europeia exportaram para os EUA o equivalente a 5,4 mil milhões de euros em ferro e aço. Os norte-americanos foram o segundo maior parceiro comercial do bloco no que diz respeito a estes materiais, atrás da Turquia, recordou esta quarta-feira o Eurostat. Os EUA foram ainda o principal cliente dos produtos feitos de ferro e aço exportados pelos países europeus, equivalendo a 8 mil milhões de euros em exportações.
Na nota divulgada pelo gabinete oficial de estatística europeu lê-se ainda que a União Europeia exportou 77,8 mil milhões de euros de ferro e aço e produtos relacionados em 2024, tendo registado um excedente da balança comercial de 4,7 mil milhões. As exportações destes metais e produtos cresceram mais de 15% em comparação com 2019, principalmente devido ao aumento dos preços.
(Notícia atualizada às 10h58 com dados do Eurostat)
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Europa responde com pacote de 26 mil milhões às tarifas americanas
{{ noCommentsLabel }}