China “preparada” para guerra comercial. EUA garante tarifas em vigor “durante semanas”

  • ECO e Lusa
  • 8:08

Pequim assegura que “já tinha previsto esta nova ronda repressão económica e comercial” por parte dos EUA e que “preparou planos de resposta com tempo de antecipação e reservas suficientes".

O jornal oficial do Partido Comunista Chinês (PCC) admitiu esta segunda-feira que as taxas impostas por Washington terão impacto na economia chinesa, mas ressalvou que a liderança em Pequim já vinha a preparar-se para este momento.

“Embora os mercados internacionais considerem, de modo geral, que os abusos tarifários dos Estados Unidos excederam as expectativas, o Comité Central do Partido [Comunista] já tinha previsto esta nova ronda de contenção e repressão económica e comercial contra a China, estimou plenamente o seu potencial impacto e preparou planos de resposta com tempo de antecipação e reservas suficientes”, afirmou o Diário do Povo.

Reconhecendo que a aplicação de taxas alfandegárias adicionais de 34% sobre as importações oriundas da China, além das taxas de 20% impostas anteriormente, resultará numa “redução do comércio bilateral com os EUA” e num “impacto negativo a curto prazo para as exportações”, o jornal lembrou que “muitos produtos dos EUA têm elevada dependência da China”.

“Os EUA dependem da China não só para muitos bens de consumo, mas também para investimento e produtos intermédios, com uma dependência superior a 50% em várias categorias, o que torna difícil encontrar alternativas no mercado internacional a curto prazo”, lê-se no editorial.

A percentagem das exportações da China para os Estados Unidos, em relação ao total das suas vendas externas, caiu de 19,2%, em 2018, para 14,7%, em 2024. Parte desta queda deve-se ao ‘comércio triangular’, no qual os produtos são exportados quase concluídos da China para outros países, incluindo Vietname, Tailândia ou Camboja, onde é acrescentado um componente ou acabamento, visando alterar o local de fabrico, visando contornar as taxas. O jornal não refere este fenómeno.

O Diário do Povo lembrou que, nos últimos anos, “apesar das pressões internas e externas”, Pequim “tem persistido em fazer coisas difíceis, mas corretas”, incluindo desalavancar o setor imobiliário e reduzir o endividamento das administrações locais e das pequenas e médias instituições financeiras. “Estes três grandes riscos foram eficazmente controlados e contidos e estão a diminuir”, assegurou.

Apontando a “grande dimensão” da economia chinesa, o jornal lembrou que a China dispõe de instrumentos de política monetária, como a redução do rácio de reservas obrigatórias e das taxas de juro, para estimular o consumo interno com uma “força extraordinária”, o que permitiria ao país asiático reduzir a sua dependência das exportações.

“O mercado interno tem uma ampla margem de manobra”, afirmou o jornal oficial do Partido Comunista Chinês. E sublinhou ainda a capacidade do país para transformar o efeito adverso das medidas dos EUA num “impulso” para acelerar a transformação económica e a “inovação industrial”. “Estrangular, reprimir e restringir apenas forçará a China a acelerar os avanços tecnológicos fundamentais em áreas-chave”, avisou.

Pequim lançou na passada sexta-feira várias contramedidas às taxas anunciadas pelo Presidente dos EUA, Donald Trump. As medidas de Pequim incluem taxas de 34% sobre produtos oriundos dos EUA, sanções contra empresas norte-americanas, restrições à exportação de certas terras raras ou a abertura de investigações antimonopólio e ‘antidumping’ contra empresas e produtos norte-americanos.

“Perante a inconstância e a pressão extrema dos Estados Unidos, não fechámos a porta às negociações”, apontou o Diário do Povo. “Mas também não alimentamos esperanças, tendo feito vários preparativos para responder aos impactos”, esclareceu.

EUA avisam que tarifas vão manter-se em vigor “semanas”, apesar das negociações

O secretário do Comércio dos Estados Unidos afirmou, por outro lado, que as tarifas anunciadas por Donald Trump não serão adiadas, mas manter-se-ão em vigor “durante dias e semanas”, apesar das possíveis negociações com os países afetados pelas taxas.

“O Presidente precisa de reequilibrar o comércio global. Todos têm um excedente comercial, e nós temos um défice comercial (…). Os países de todo o mundo estão a roubar-nos, e isso tem de parar”, disse Howard Lutnick, citado pela CBS News.

A declaração surge momentos depois de o diretor do Conselho Económico Nacional da Casa Branca, Kevin Hassett, e o secretário do Tesouro, Scott Bessent, terem dito que mais de 50 países afetados pela política tarifária de Trump falaram com o Presidente para discutir as negociações sobre as tarifas. Segundo Lutnick, isto só mostra que “todos estes países sabem que nos estão a enganar”.

O secretário do Comércio afirmou que os EUA dependem de medicamentos e semicondutores fabricados no estrangeiro e realçou que o país deve começar a defender-se e deixar de ser “enganado por todos os países do mundo”.

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