AllianzGI desafia remuneração milionária de Carlos Tavares na Stellantis
Apesar de já não liderar a empresa, Carlos Tavares e os rendimentos que auferiu em 2024 serão os temas centrais na assembleia-geral de acionistas agendada para a próxima semana.
A Allianz Global Investors (AllianzGI) anunciou a sua intenção de votar contra o relatório de remuneração do antigo CEO da Stellantis, Carlos Tavares, na assembleia-geral da empresa marcada para 15 de abril, referente às contas de 2024.
O pacote salarial proposto para Tavares em 2024, que ascendeu a 23,1 milhões de euros sem direito a bónus de desempenho, gerou forte controvérsia entre os acionistas e especialistas em governança. Recorde-se que Carlos Tavares deixou a liderança da empresa em dezembro e recebeu uma indemnização que deverá ascender a 60 milhões de euros.
Matt Christensen, responsável global pela área de investimento sustentável e de impacto na AllianzGI, justifica a decisão com base nos princípios de governança e sustentabilidade que a gestora defende. “Estamos comprometidos em impulsionar mudanças positivas através do voto por procuração e práticas de investimento responsável”, refere Christensen em comunicado, acrescentando ainda que “os padrões elevados de governança devem refletir-se na remuneração dos executivos, especialmente em tempos de desafios económicos e sociais”.
A oposição da AllianzGI ao pacote salarial de Tavares não é isolada. A gestora tem historicamente demonstrado resistência a remunerações executivas que considera desproporcionais. Em 2024 votou contra ou absteve-se em 41% das propostas relacionadas com remuneração em assembleias gerais globais
No caso da Stellantis, a remuneração do CEO (que mesmo assim teve uma correção de 37% face aos valores de 2023) ocorre num contexto marcado por cortes laborais e transição para veículos elétricos, o que levanta questões sobre o alinhamento entre os interesses dos executivos e dos restantes stakeholders.
Os padrões elevados de governança devem refletir-se na remuneração dos executivos, especialmente em tempos de desafios económicos e sociais.
Embora a AllianzGI não figure entre os 20 maiores acionistas da Stellantis — detendo menos de 0,6% do capital — a sua posição é simbólica e reflete uma crescente pressão sobre empresas para justificar remunerações elevadas.
Paralelamente à polémica na Stellantis, Carlos Tavares está envolvido na privatização da AzoresAirlines. O ex-CEO juntou-se ao consórcio Newtour/MS Aviation como acionista minoritário numa proposta que prevê adquirir 76% da companhia aérea açoriana por 15,2 milhões de euros. A entrada de Tavares foi vista como um reforço estratégico para desbloquear um processo atribulado e garantir um futuro sustentável para a empresa.
A ligação ao setor aéreo pode ser interpretada como uma tentativa de diversificação por parte do gestor português. Contudo, esta nova etapa levanta questões sobre como equilibrará as suas responsabilidades enquanto figura pública num momento em que enfrenta críticas sobre a sua liderança anterior na Stellantis.
A controvérsia em torno da remuneração de Carlos Tavares evidencia um dilema recorrente nas grandes empresas: como justificar pacotes salariais milionários num cenário económico onde trabalhadores enfrentam cortes e desafios operacionais? A decisão da AllianzGI é um lembrete poderoso sobre o papel dos acionistas na promoção de práticas empresariais mais justas e sustentáveis.
Com a Assembleia Geral da Stellantis à porta e negociações cruciais na Azores Airlines em curso, Carlos Tavares encontra-se no centro das atenções — dividido entre críticas ao seu passado recente e expectativas para o futuro.
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