Empresários “apreensivos” com reforço das tarifas sobre aço e alumínio que ameaçam exportações de 200 milhões

As tarifas de 50% no alumínio e aço ameaçam exportações de 200 milhões de euros. Associação teme que os compradores suspendam as remessas.

Os empresários portugueses estão “apreensivos” com a duplicação das taxas aduaneiras dos EUA sobre as importações de aço e alumínio, que ameaçam 200 milhões de euros de exportações da metalurgia nacional.

Já tínhamos ficado inquietos com as tarifas de 25%, agora com 50% mais inquietos ficamos”, diz Rafael Campos Pereira, vice-presidente executivo da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP).

O porta-voz da associação que representa o setor recorda ao ECO que “as tarifas não abrangem todo o setor, mas abrangem uma parte substancial — para além das matérias-primas, algumas estruturas metálicas e alguns tipos de equipamentos”, estimando um impacto de 200 milhões de euros na exportações diretas para os EUA.

“Quando foram aplicadas as tarifas de 25%, alguns dos nossos compradores pediram-nos para suspender a remessa dos nossos produtos e equipamentos e admito que agora continuará na mesma senda”, prevê Rafael Campos Pereira.

Quando foram aplicadas as tarifas de 25% alguns dos nossos compradores pediram-nos para suspender a remessa dos nossos produtos e equipamentos e admito que agora continuará na mesma senda.

Rafael Campos Pereira

Vice-presidente executivo da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal

Há mais de 25 anos que o Fapricela Group exporta para os Estados Unidos, o que torna esta questão das tarifas “um tema que preocupa”, disse Pedro Teixeira, CEO da Fapricela, no último episódio do Think Tank da Helexia Portugal.

Apesar de a Fapricela exportar apenas 6% da produção para o mercado norte-americano, Ivo Magalhães, diretor de operações da empresa, realça que o “tema das tarifas é muito preocupante“, apesar de enfatizar que não é isso que vai abalar a estrutura da empresa de trefilaria.

“Já da primeira vez, as tarifas dos 25% colocaram-nos alguns problemas, mas os nossos clientes locais, desde logo, assumiram esse diferencial, tendo em conta que o mercado local subiu os preços em 20% e do nosso lado ficou apenas um custo acrescido de 5%”, explica o diretor de operações da Fapricela, que emprega 400 pessoas e fatura 200 milhões de euros. No entanto, realça que, “agora com mais 25%, não há forma de acomodar”.

Quando Donald Trump impôs pela primeira vez tarifas sobre o aço e o alumínio, no seu primeiro mandato, em 2018, a Metalogalva foi uma das empresas apanhadas pelas taxas da nova administração norte-americana. Com a chegada de Joe Biden à Casa Branca, estas restrições foram retiradas, mas a empresa portuguesa especializada na engenharia e proteção de aço, que já chegou a exportar 70 milhões de euros para os EUA, preparou-se para não voltar a ser surpreendida. A abertura de uma unidade no Estado do Tennessee, em março de 2023, permitiu à empresa do VigentGroup proteger o grosso do negócio nos EUA das novas tarifas de Trump.

Com a construção da nova unidade no país, a empresa da Trofa consegue driblar as novas tarifas de 50% impostas pelos EUA sobre as importações de aço e de alumínio, que entraram em vigor esta quarta-feira.

Atualmente, a Metalogalva emprega 100 pessoas na fábrica dos EUA e fatura 60 milhões de euros. “O nosso produto é todo fabricado nos EUA e não somos afetados diretamente”, diz ao ECO o CEO da Metalogalva, António Pedro Antunes.

“O problema nesta guerra tarifária são os efeitos colaterais — quando há tarifas demasiado grandes nos Estados Unidos, a União Europeia, que tem um índice de exportação grande das siderurgias para os Estados Unidos, tem que proteger o seu mercado e ao proteger o seu mercado, vai pôr mais tarifas nas matérias-primas”, lamenta o líder da Metalogalva, destacando que “são as empresas que transformam o aço que compram matérias-primas mais caras e depois deparam-se com os produtos acabados iguais aos nossos a entrarem na UE sem serem taxados”, referindo-se aos produtos da China, Turquia e Índia. “É uma concorrência desleal”, lamenta António Pedro Antunes.

O problema nesta guerra tarifária são os efeitos colaterais.

António Pedro Antunes

CEO da Metalogalva

O vice-presidente executivo da AIMMAP corrobora a ideia do líder da Metalogalva e refere que o setor está “mais apreensivo ainda com o facto da União Europeia não taxar a importação de produtos acabados da mesma forma que taxa as matérias-primas”.

Segundo os dados mais recentes do INE, Portugal exportou, em 2024, cerca de 274 milhões de euros de produtos de aço e alumínio para o mercado norte-americano, o equivalente a 5,3% das exportações totais de aço e alumínio e a apenas 0,35% dos 79 mil milhões de euros de exportações de todos os bens e produtos exportados para todo o mundo em 2024.

A seguradora de crédito Coface acredita que “as empresas não vão voltar para os EUA”. Vão sim procurar outros mercados para fugir às taxas aduaneiras, promovendo uma reconfiguração do comércio mundial.

Temos de estar preparados para que haja mais tarifas” e “os EUA não vão ter acordos com todos os países, avisa Bruno de Moura Fernandes, head of macroeconomic research da Coface, na conferência Risco País.

No dia 31 de maio, Trump anunciou uma nova subida das tarifas sobre as importações de metais. Depois de ter fixado uma tarifa de 25% em março passado, comunicou que iria subir essas taxas para 50%, justificado com o objetivo de proteger a produção dos Estados Unidos.

“Vamos aumentar as tarifas sobre o aço nos Estados Unidos de 25% para 50%, o que dará ainda mais segurança à indústria do país”, anunciou o presidente num comício em Pittsburgh, na Pensilvânia, onde celebrou o acordo de investimento entre a siderurgia japonesa Nippon Steel e a empresa norte-americana U.S. Steel.

Ivo Magalhães considera que foi uma jogada estratégica de Trump anunciar o aumento das tarifas para 50% no dia em que celebrou o acordo entre a Nippon Steel e a U.S. Steel. O diretor de operações da Fapricela recorda que este investimento na siderurgia local “demorará dois a três anos a estar concluído”, e que apesar do presidente dos EUA quer proteger a indústria local, considera que “Trump vai voltar a recuar nas tarifas porque não tem alternativa”.

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