Viticultores deixam carrinhas e tratores e a pé bloqueiam ponte da Régua
Objetivo era fazerem uma marcha lenta pela cidade, mas a GNR não os deixou entrar e, por isso, estão a tentar bloquear a ponte da Régua.
Viticultores deixaram carrinhas e tratores numa das principais entradas da Régua, e pelas 7h50 foram a pé bloquear a ponte rodoviária que dá acesso à cidade para chamar a atenção para a crise no Douro.
No local, a agência Lusa observou que as viaturas foram deixadas pela avenida que desce até à rotunda conhecida como dos armazéns do Corgo e os manifestantes juntaram-se em cima do tabuleiro da ponte ao som da música “Grândola Vila Morena” de Zeca Afonso e do hino nacional.
O objetivo era fazerem uma marcha lenta pela cidade do distrito de Vila Real, mas como a GNR não os deixou entrar, começaram por deixar alguns tratores e carrinhas em Godim, Peso da Régua, junto à rotunda dos quatro caminhos, de onde um grupo seguiu a pé para se juntar a outros produtores que estavam na entrada do lado aposto da Régua.
“Fomos até onde nos deixaram, as autoridades cercaram a Régua e não nos deixaram passar e agora estamos a tentar bloquear a ponte ver se somos ouvidos e alguém define a nossa vida”, afirmou Jorge Teixeira, produtor e comerciante de Poiares.
O viticultor reclamou medidas concretas. “O senhor ministro da Agricultura fez anúncios, mas sem dados concretos. Concordou na destilação, mas ainda ninguém definiu, e o agricultor não quer andar aqui às cegas, quanto nos pagam pelas uvas para destilação que é para nós sabermos se é rentável ou não continuar a granjear o Douro, se é rentável viver no Douro, se é rentável dizer aos meus filhos que o Douro vale a pena. Nós não queremos um ‘x’, queremos valores concretos, do abstrato estamos nós fartos. Vivemos há mais de 30 anos no abstrato”, salientou.
O Ministério da Agricultura e Mar anunciou um plano de ação para o Douro e uma das medidas que está em cima da mesa é a de usar “uvas para vinho a destilar” e tem como objetivos reduzir os excedentes de vinho na RDD, através do escoamento de uvas excedentárias, e assegurar diretamente um rendimento mínimo ao viticultor.
Porque não se sabe a adesão dos produtores, a quantidade de uvas que poderá ir para destilação e o montante final, a medida ainda tem que ser ajustada, mas será operacionalizada pelo Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), mediante contrato prévio entre viticultor, vinificador e destilador e prevê a submissão da candidatura até 15 de setembro.
Jorge Teixeira disse que o “Douro é vinha, não é o turismo”. “E sem nós isto não existe e a economia não anda. Tudo à volta do Douro gere-se com vinho”, sublinhou.
Tiago Fonseca é de São João da Pesqueira e disse também que a GNR barrou aos manifestantes com tratores e veículos de tração “qualquer entrada no Peso da Régua”, sejam entradas principais ou secundárias.
“É difícil. O Governo não está a olhar para isto com olhos de ver e estamos a poucos dias da vindima e ainda não temos comunicado de vindima, ainda não sabemos o que vamos fazer às nossas uvas e queremos soluções porque vai haver miséria social no Douro, sem precedentes”, salientou.
Tiago Fonseca era emigrante na Suíça e regressou há três anos para tomar conta da vinha. “Não estou arrependido, estou junto da família e a lutar pelo que eu quero. Só temos é que nos fazer ouvir”, afirmou, defendendo medidas concretas a curto, médio e longo prazo. Salientou que os produtores precisam de saber a que preço vão vender as uvas, quem lhes fica com as uvas e se vai haver ou não corte no benefício.
O benefício, que é a quantidade de mosto que cada produtor pode destinar à produção de vinho do Poro, foi de 90.000 pipas (550 litros cada) em 2024 e 104.000 em 2023 e, para este ano, o comércio propôs, no conselho interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, a redução para as 68.000 pipas.
“Se tivermos corte no benefício é a morte do viticultor. Vai haver muito viticultor a largar vinha, a vender e a cometer loucuras, há muita gente no limite”, sublinhou Tiago Fonseca.
Também proveniente de São João da Pesqueira, Diogo Cardoso veio protestar contra os cortes de benefício e de não saber onde por as uvas. “Parte delas sei onde as por, as uvas beneficiadas, mas o resto não. São mais de 70 pipas que tenho e não sei onde as por”, lamentou.
O viticultor Albano Fernandes manifestou-se para reclamar uma fiscalização forte no Douro para que o vinho “seja mais genuíno”. “Temos um representante do IVDP que não nos defende”, referiu o agricultor de São João da Pesqueira.
De Valença do Douro, Tabuaço, João Paulo alertou para a perda de rendimentos dos produtores. “Mais benefício, escoamento de uvas e prelos justos” são as suas principais reivindicações.
Gonçalo Rodrigues veio de Cambres, Lamego, porque disse que querem cortar no benefício. “E não pode ser assim, como é que vamos granjear o Douro? As coisas estão caras, a mão-de-obra também e o vinho está cada vez mais barato e ainda querem cortar o benefício e assim não pode ser”, realçou.
Pelas 8h30, os manifestantes saíram do tabuleiro da ponte e colocaram-se logo a seguir, na rotunda, à entrada da cidade.
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