BRANDS' ECO “Há falta de literacia ambiental no país”

  • Conteúdo Patrocinado
  • 19 Setembro 2025

O preconceito em relação ao eucalipto e a falta de gestão das florestas foram os temas discutidos no terceiro episódio do podcast Da Floresta ao Futuro, powered by Navigator.

Em Portugal, o tema “floresta” é marcado por preconceitos em torno de espécies como o eucalipto e o pinheiro, bem como pela falta de literacia ambiental. Esta foi a conclusão de Maria José Roxo, geógrafa e professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e de Pedro Dionísio, Professor catedrático do ISCTE, que marcaram presença no terceiro episódio do podcast Da Floresta ao Futuro, powered by Navigator.

Nesta conversa, sublinhou-se a importância de olhar a floresta como um ecossistema, refletiu-se sobre os desafios da desertificação e da gestão territorial, e destacou-se a urgência de políticas de longo prazo que aproximem o poder local da gestão sustentável, de forma a valorizar o conhecimento existente e criando condições para fixar populações no interior.

Há um preconceito em relação ao eucalipto que fica muito mais evidente sempre que temos incêndios. Ou seja, quando se fala muito nos incêndios, há uma conexão imediata dos incêndios aos eucaliptos e aos pinheiros”, começou por dizer Maria José Roxo, que referiu a falta de informação com base científica como causa desta associação: “Convém dizer que a ciência evoluiu muitíssimo em relação ao comportamento das espécies, mas isso não passa com uma linguagem simples e coerente, para que as pessoas percebam que num território todas as espécies podem conviver e ter o seu espaço. Há falta de literacia ambiental no país“.

Esta perceção foi confirmada pelo estudo “Para Além das Perceções sobre a Floresta e o Eucalipto”, desenvolvido pelo FutureCast Lab, do ISCTE, no qual se identificou que a maioria das pessoas inquiridas defende a ideia de que não se deve cortar uma árvore. “Há o preconceito sobre não se dever cortar as árvores, esquecendo que existem vários tipos de árvores. Existem árvores autóctones e árvores de conservação, mas também existem árvores ligadas à produção, como é o caso do eucalipto e do pinheiro. Ainda assim, há a ideia de não usar folhas de papel porque mata as árvores, no entanto isso é um preconceito porque, por outro lado, ninguém diz para não comer milho, apesar de se ter de cortar a planta do milho para isso“, explicou Pedro Dionísio.

De acordo com o professor catedrático do ISCTE, este preconceito ganha força devido à má gestão da floresta que, afirma, se deve à existência de um círculo vicioso que não a beneficia: “A floresta não é bem gerida porque não se cria um ecossistema de círculo virtuoso. Pelo contrário, há um círculo vicioso, isto porque, se olharmos para Portugal, embora exista floresta em todo o território, ela é particularmente importante no interior, no entanto, o país está concentrado de Braga a Setúbal e da autoestrada A1 para o litoral. E isto tem a ver com a forma como o poder político central olha para o interior. Como os votos estão concentrados na zona litoral, cria-se aqui um círculo vicioso”.

A solução? Para Pedro Dionísio, é simples: “Se as decisões não estiverem ao nível do poder central, mas sim entregues ao poder local, nomeadamente aos municípios, e se houver incentivos positivos e negativos face à gestão do território, eu acho que isto muda”. “Aqueles proprietários que não são conhecidos e que não gerem os seus terrenos como deve ser, deveriam ser penalizados. Os que, pelo contrário, fazem uma boa gestão, deviam ter benefícios fiscais, na criação de infraestruturas, na facilitação de criação de mão-de-obra qualificada que os possa ajudar a fazer essa gestão“, continuou.

A mesma opinião foi partilhada por Maria José Roxo, que ainda destacou a importância de colocar decisores políticos com conhecimento de território à frente destas decisões: “No poder central é muito difícil haver verdadeiramente conhecimento do território. Mas quem decide precisa de ter esse conhecimento. Primeiro, é preciso dar incentivo às populações que lá estão para ficarem e, depois, há que ter incentivos para mais jovens quererem voltar. Mas a falta de conhecimento de território implica que as políticas, mesmo que sejam bem formuladas, não se apliquem ao todo“.

Esta falta de incentivo faz com que, na maioria das vezes, não haja transição de conhecimento para os mais novos, o que compromete ainda mais a eficácia da gestão das florestas. Por essa razão, a professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa alerta para a importância de se falar mais sobre este tema, não só quando existem incêndios, mas sim ao longo de todo o ano. “O que nos chega a toda a hora, principalmente em Julho, Agosto e Setembro, é tudo do pior. Falamos de floresta porque há os incêndios. Mas eu gostava que passassem os programas que mostram o que se faz no terreno, o que se faz de bom“, concluiu.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

“Há falta de literacia ambiental no país”

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião