ECO da campanha: na caça ao voto, esquerda faz alvo aos caças F-35

A campanha teima em fugir aos temas específicos dos 308 municípios. Agora, direita e esquerda digladiam-se com um tema que revelou brechas na comunicação entre ministérios no Governo.

Os motores da campanha rugem e nesta sexta-feira ouviu-se também o eco da passagem dos Lockeed Martin F-35 pelos Açores, permitindo o contra-ataque da esquerda ao ministro da Defesa, que é também líder do CDS-PP e anda em campanha pelo país.

O tema que separa os dois lados do espetro político é o mesmo – Israel-Gaza –, mas desta feita o PS não fica em cima do muro, como os partidos à sua esquerda o criticavam na quinta-feira devido à reação diplomática ao caso da prisão dos portugueses da flotilha. Já o Chega, que partilhou as ruas de Faro com o PCP, evita tocar no tema e, desta vez, alega preferir falar da campanha.

Nesta, Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, foi cáustico com o adversário mais à direita, à passagem por Moura, autarquia perdida para o PS em 2021 por menos de 100 votos.

Ali, prontificou-se “a falar dessa pessoa que está em todos os cartazes por esse país fora, que se apresenta, na prática, como candidato em todos os lugares, e a única vez que foi candidato por esse partido e a única vez que foi eleito como candidato autárquico por esse partido, foi exatamente aqui em Moura e entendeu que a melhor coisa que devia fazer era rasgar todos os compromissos com a população e faltar a 30 reuniões da Assembleia Municipal. Independentemente dos resultados, está tudo dito face à forma como se respeita o compromisso com as populações”. O alvo era, claro, Ventura.

Tema quente

Um dia após a prisão por Israel dos membros da flotilha para Gaza ter dominado a campanha autárquica, o conflito volta à agenda autárquica, mas desta vez pela passagem dos caças F-35 fabricados nos EUA pela Base das Lajes, Açores, a caminho de Israel, onde iam ser entregues ao Governo de Netanyahu.

Luís Montenegro, regressado à campanha no fato de presidente do PSD, lamentou “que tenha havido um erro processual no início, quando a questão foi suscitada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, que está neste momento identificado e não há mais nada a dizer sobre isso, porque tudo o resto foi uma tramitação perfeitamente normal”.

Certo é que o PS vai pedir para ouvir Nuno Melo e Paulo Rangel na Assembleia da República, depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros ter feito uma afirmação que, na ótica do secretário-geral do PS, tem “gravidade”. José Luís Carneiro referia-se à explicação de Rangel de que não foi informado atempadamente da presença dos caças americanos na Base das Lajes.

O caso motivou mesmo uma invulgar posição da bloquista Joana Mortágua, gémea da responsável máxima do Bloco de Esquerda, assumindo que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, agiu corretamente. Portugal “não pode ter um ministro da Defesa cuja lealdade e obediência é ao Governo de Israel e não ao Governo português”.

Por seu turno, numa visita à Quinta do Cabrinha, junto ao antigo Casal Ventoso, em Lisboa, Rui Tavares, líder do Livre, considera “de uma grande gravidade” a passagem dos F-35 por solo português e diz que Nuno Melo “tem explicações a dar” e será chamado ao Parlamento para tal. Aproveitando para responder às fortes declarações do líder do CDS na quinta-feira, quando deixou no ar que os membros da flotilha seriam cúmplices do terrorismo do Hamas, Tavares considera que “se calhar ele é que deve fazer a pergunta se cúmplice não é quem deixa passar F-35 pela Base das Lajes e não diz a ninguém, nem sequer aos seus colegas de Governo”.

Ao contrário de Joana Mortágua e também de Rui Tavares, Paulo Raimundo, em passagem pelo Algarve, quer explicações, mas não pede a demissão do ministro que é presidente do CDS: “Deixava de ter explicar aquilo que aconteceu e nós não queremos que ele deixe de explicar. Vai ter de explicar o ministro da Defesa e vai ter de explicar o ministro dos Negócios Estrangeiros”.

Montenegro, na Nazaré, considerou as reações com pedido de demissão “radicalizadas” e assegurou: “Era o que faltava que o Governo encarasse decisões que são normais com esse tipo de espírito, mas enfim, estamos em campanha eleitoral e se calhar também tem a ver com isso”.

Adicionalmente, Rui Tavares, líder do partido que forma várias coligações com o Bloco de Esquerda ao longo do país, designadamente na frente de esquerda liderada por Alexandra Leitão em Lisboa, considera necessário “perceber se as detenções foram em águas internacionais, porque nesse caso serão claramente ilegais e isso não pode passar em claro”. Ao reconhecer-se as fronteiras do Estado da Palestina de 1967, “as águas em frente à Faixa de Gaza são para Portugal águas territoriais palestinas e não israelitas”.

À direita, Mariana Leitão, presidente da Iniciativa Liberal, prefere esperar pelas averiguações, enquanto André Ventura, em Faro, desvalorizou a passagem dos caças americanos em direção a Israel, dizendo apenas que “o Governo deve evitar trapalhadas como esta que houve hoje”.

A figura

Nuno Melo

Na quinta-feira, o líder do CDS-PP, na rua em campanha eleitoral, apanhava boleia do tema da flotilha para dirigir um forte ataque à líder do Bloco de Esquerda, partido que com os centristas disputa, em coligações alargadas à esquerda e à direita, a maior Câmara do país.

Os ventos mudaram com a notícia relativa aos F-35 da fabricante norte-americana Lockheed Martin. Quando acabar a campanha, Melo poderá ter de ir ao Parlamento dar explicações. De pedidos de demissão já não se salva.

Nuno MeloLusa

Os números

Na corrida taco-a-taco entre Carlos Moedas e Alexandra Leitão para a presidência da Câmara de Lisboa há ainda 14,9% do eleitorado indeciso em quem votar. A sondagem da Pitagórica para TVI/CNN, ECO, TSF, JN e Nascer do Sol identifica a maior proporção na Classe A (20,5%) e na C2/D (16,8%). Por faixa etária, o máximo está nos 45–54 anos (19,2%), caindo nos 65+ (9,8%).

A frase

"O que eu acho que o André Ventura conquistou foi – se me permite a expressão um bocadinho à André Ventura – falta de vergonha, porque o que conquistou foi 30 faltas em Moura às Assembleias Municipais a que faltou depois de ser eleito. Há muitos cartazes espalhados com a figura da pessoa, não é candidato em lado nenhum. A única vez que foi candidato [pelo Chega] foi aqui em Moura, há quatro anos, foi eleito para a Assembleia Municipal e faltou 30 vezes. O exemplo fala por si.”

Paulo Raimundo, líder do PCP, falando em Moura após a viagem até ao Algarve, dois pontos do país onde o Chega tem ganho força eleitoral.

A surpresa

Não é todos os dias de campanha que 15 presidentes de Câmara de uma região se unem para tomar uma posição conjunta. Aconteceu no Alentejo, após associações de ambientalistas terem interposto uma providência cautelar para travar a Barragem do Pisão, no concelho do Crato, distrito de Portalegre.

 

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