Ercros. Sucesso da OPA da Bondalti depende do “sim” dos pequenos investidores
Ações dispararam 23% após aval da OPA pela concorrência. Química portuguesa espera agora decisão do ministério da Economia, antes de operação regressar à CNMV, para aprovação do prospeto.
A oferta pública de aquisição (OPA) da Bondalti sobre a Ercros deu mais um passo para avançar com a operação lançada em março do ano passado, após a “luz verde” da Comissão Nacional de Mercados e Concorrência (CNMC), a autoridade da concorrência espanhola. Uma decisão que foi aplaudida pelos investidores, com as ações a escalarem mais de 23%. Um sinal positivo para a empresa portuguesa que precisa convencer os pequenos investidores, com quase 77% do capital, a aceitarem os 3,505 euros que oferece por cada ação da empresa espanhola.
Mais de um ano e meio depois de ter anunciado a sua oferta por 100% do capital da Ercros, a Bondalti continua a aguardar o desfecho de um moroso processo de decisões e aprovações até que os acionistas sejam chamados a decidir o futuro da química espanhola, que faturou 643 milhões de euros em 2024.
Após a decisão da CNMV, que aceitou com compromissos a OPA, o processo segue para o ministério da Economia espanhol, que tem agora 15 dias úteis para decidir se remete, ou não, a operação ao conselho de ministros. Segundo a imprensa espanhola, não é esperada a oposição à oferta, que deve seguir para o regulador do mercado, a quem caberá a aprovação do prospeto e documentação. Uma vez aprovada, será publicado o anúncio da oferta e, posteriormente, iniciado o período de aceitação.
Os novos desenvolvimentos levaram os títulos da empresa espanhola a escalar 23,3% para 3,20 euros por ação, no final da semana passada. Um desempenho que aproxima os títulos da contrapartida de 3,505 euros [ajustada aos dividendos pagos entretanto] oferecida pela Bondalti. Face à cotação atual, o preço da oferta implica um prémio de 9,5%.
Após um período no qual as ações chegaram a superar o valor da OPA, nos meses que se seguiram ao anúncio do negócio, os títulos têm vindo a recuar e transacionam abaixo do valor da oferta, um sinal que a intenção dos acionistas em relação a aceitar a oferta poderá ter-se alterado, após a retirada da OPA da Esseco e perante o desafiante ambiente que afeta o setor químico na Europa e que tem deteriorado as contas da empresa espanhola.
Ações descem 26% em 2025

Com 76,9% do capital da empresa disperso em pequenas posições no mercado, serão estes investidores minoritários a decidir o destino da Ercros e determinar se a Bondalti alcança os 75% definidos para que a OPA seja bem-sucedida. De acordo com a estrutura acionista da companhia, relativa ao final de 2024, o advogado Víctor Rodríguez Martín é o maior acionista, com 6,09% do capital, seguindo-se o empresário Joan Casas Galofré, com 6,02%. Contudo, Galofré, juntamente com a sua mulher Montserrat García Pruns (6,015%+3,61%), controla junto perto de 10% do capital.
Há ainda uma posição de 4,99% do fundo norte-americano Dimensional Fund. O fundo Samson Rock Event Driven e a BlackRock detêm 1,39% e 1,01%, respetivamente. Tudo somado, estas participações acima de 1% totalizam 23,11% do capital, estando o restante disperso em bolsa.
Depois de uma primeira reação muito negativa à oferta, com um grupo de acionistas que representa 27% do capital a afirmar que rejeitava a OPA e do maior acionista da empresa ter considerado a oferta “baixa”, as condições alteraram-se e, face à evolução do mercado, as perspetivas são mais animadoras para a química portuguesa.
É evidente que as incertezas são muito elevadas, mas o preço atual [da OPA] parece mais uma (grande) oportunidade do que um risco.
Numa nota publicada após a retirada da oferta da italiana Esseco, o analista Alfredo Echevarría Otegui, da Lighthouse, argumenta que a Ercros oferece à Bondalti “uma opção única de crescimento inorgânico verdadeiramente sinérgico”. Em relação aos acionistas, o especialista refere que “é evidente que as incertezas são muito elevadas, mas o preço atual parece mais uma (grande) oportunidade do que um risco”.
“Acreditamos que o preço da oferta representa uma oportunidade para os acionistas da Ercros. Além disso, a aliança com a Bondalti é muito benéfica para a Ercros e para os seus colaboradores, face ao crescente nível de competitividade no setor”, defendeu João de Mello, presidente da Bondalti, em comunicado, após a decisão da CNMV na última quinta-feira.
“Com a integração, esperamos criar as condições necessárias para que as duas empresas, combinadas, possam superar os grandes desafios que enfrentamos”, afirmou João de Mello, Presidente da Bondalti.

“O setor químico europeu exige investimentos significativos e a criação de grupos industriais de maior escala, com capacidade de atuar de forma integrada e enfrentar os grandes desafios que estão a transformar os sistemas de produção e distribuição: o aumento da concorrência internacional, a transição energética, a transformação digital e o enquadramento regulatório”, argumenta a Bondalti em comunicado.
O objetivo da Bondalti, uma vez concluída a operação, é promover a exclusão das ações da Ercros da Bolsa de Valores, sendo que a oferta está condicionada à aceitação de mais de 75% do capital, “permitindo uma integração efetiva e a criação de um grupo industrial europeu com a dimensão necessária”.
O setor químico tem enfrentado grandes desafios, penalizado por custos crescentes e menor procura. Enquanto os lucros da Bondalti baixaram para 41 milhões de euros no ano passado, com um EBITDA de 71 milhões de euros, a Ercros passou de lucros de 27,6 milhões em 2023 a prejuízos de 12 milhões de euros, em 2024.
A união das duas empresas iria permitir a criação de sinergias e reforçar a posição estratégica no setor. Com unidades industriais em Estarreja (Portugal) e Cantábria (Espanha) e instalações logísticas em Aveiro, Barreiro (Portugal) e Vigo (Espanha), a Bondalti, caso consiga comprar a Ercros, garante que vai manter a sede da empresa em Barcelona, bem como os postos de trabalho e a presença local nas comunidades onde a empresa opera.
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