Com “janela reduzida”, setor automóvel tem de agarrar oportunidade na Defesa
Não restam dúvidas que a Defesa constitui uma "verdadeira oportunidade" para as empresas de componentes automóveis, mas o Exército e a AED Cluster Portugal alertam que a "janela é reduzida".
A indústria da Defesa é uma “boa” oportunidade para o setor automóvel, mas a janela de tempo é reduzida face à concorrência, alerta o Exército Português e a AED Cluster Portugal. Uma opinião contrariada pelo presidente da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA) que considera que “há todo um percurso a ser feito” e que o setor “não se quer atemorizar por estes prazos”.
“Estamos aqui perante uma enorme oportunidade, mas a perceção que tenho é que é uma oportunidade com uma janela de tempo muito reduzida”, refere o brigadeiro-general do Exército Português, António Oliveira, antecipando que essa janela “se fechará em um ou dois anos”.
O diretor-geral da AED Cluster Portugal, Rui Santos, corrobora. “Há uma janela relativamente pequena, onde Portugal tem que saber posicionar-se”, referindo-se aos fundos da Comissão Europeia que visam alavancar a indústria da defesa europeia.
Uma opinião contrariada pelo presidente da AFIA. “A Europa está a projetar um investimento a dez anos, isso significa que há um período de conhecimento, de enamoramento”, justifica José Couto ao ECO, destacando que o setor “não se quer atemorizar por estes prazos”.
No debate sobre as oportunidades na área da defesa para o setor automóvel, durante a 12.ª Automotive Industry Week da AFIA, o brigadeiro-general recorda que, neste momento, o “exército português está a adquirir praticamente tudo no mercado externo”, mas está convencido que através de um esforço conjunto “é possível que sejam as empresas portuguesas a serem fornecedores, quer internos, quer externos”. No entanto, alerta, “há uma enorme competição neste momento nos fornecedores”.

Numa altura em que Portugal prevê gastar mais 772 milhões com Defesa no próximo ano, a Defesa é uma prioridade política em Portugal e na Europa e pode ser uma oportunidade para as empresas do setor automóvel.
O líder da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel assegura que “já existem muitas empresas do setor automóvel de componentes que estão neste momento a cotar projetos e a fazer testes de componentes para a indústria”.
O setor da indústria da Defesa constitui uma verdadeira oportunidade para as empresas da indústria de componentes automóveis (…) As empresas têm todas as condições do ponto de vista do chão de fábrica, da capacidade tecnológica, da investigação e desenvolvimento.
“Existe competências na indústria, capacidade de produção e conhecimento para pôr à disposição deste novo setor”, afiança José Couto, destacando que está na hora de “encontrar novos setores e novas oportunidades”, perante a crise que o setor atravessa.
“O setor da indústria da Defesa constitui uma verdadeira oportunidade para as empresas da indústria de componentes automóveis“, afirma o presidente da AFIA, considerando que as empresas têm “todas as condições do ponto de vista do chão de fábrica, da capacidade tecnológica, da investigação e desenvolvimento e dos processos de certificação”.

O brigadeiro-general do Exército considera que o setor automóvel pode contribuir para a produção de equipamentos, sistemas e componentes, assim como adaptar e desenvolver soluções. “O Exército está disponível para apoiar a inovação e desenvolvimento”, refere António Oliveira, recordando que “a ligação do mundo automóvel ao Exército tem mais de um século de história”.
Defesa é uma estratégia a longo prazo
Para a idD Portugal Defence e para a AED Cluster Portugal a Defesa é uma estratégia a longo prazo. “Existe uma janela de oportunidade, ela está aberta, mas isto é uma aposta estratégica e de longo prazo, não é uma aposta para entrar e sair rapidamente“, realça Luís Ribeiro, board member da idD Portugal Defence.
Uma opinião partilhada pelo diretor-geral da AED Cluster Portugal. “A Defesa é uma estratégia a médio longo prazo e não uma aposta circunstancial”, assegura Rui Santos. “Serão investimentos que dificilmente terão retorno a curto médio prazo”, refere.
A indústria da Defesa é uma indústria difícil, como outra qualquer, que no fundo necessita de tempo e energia, mas uma vez lá dentro as oportunidades são muito interessantes.
“A indústria da defesa é uma indústria difícil, como outra qualquer, que no fundo necessita de tempo e energia, mas uma vez lá dentro as oportunidades são muito interessantes”, refere o diretor-geral da AED Cluster Portugal.
Desafios de entrada para o setor automóvel
Luís Ribeiro, board member da idD Portugal Defence, considera que os principais desafios para a indústria automóvel é “responder às necessidades das forças militares” e “contribuir para o desenvolvimento sustentado da indústria de defesa nacional”.
O porta-voz da holding pública para a área da Defesa aconselha as empresas do cluster automóvel a “integrar consórcios em associações com empresas” e a “integrar cadeias de fornecimentos de grandes fabricantes”. Na ótica de Luís Ribeiro o grande desígnio “é passar da investigação/protótipo à produção e venda”.
Rui Santos, diretor-geral da AED Cluster Portugal, corrobora a ideia do board member da idD Portugal Defence e defende “a grande oportunidade está na colaboração industrial”.

Os números partilhados por Luís Ribeiro, board member da idD Portugal Defence, mostram que a Europa é responsável por 15% do volume de negócios da Defesa a nível mundial, estando o velho Continente a investir nas suas capacidades de Defesa face às alterações geopolíticas mundiais.
A União Europeia aprovou um fundo de 150 mil milhões de euros para conceder empréstimos aos 27 Estados-membros interessados na compra conjunta de equipamentos militares e, através do programa Safe, Portugal terá acesso a 5,8 mil milhões para investir na Defesa. A Polónia é o país que pode contrair o empréstimo mais avultado (43,73 mil milhões de euros), seguido da Roménia e França com 16,68 e de muito perto pela Hungria (16,21 mil milhões).
Quais os passos para entrar no setor
Um volume de capital disponível que traz consigo oportunidades para as empresas já no setor ou que queiram apostar nele. Mas há vários passos que as empresas devem seguir para entrarem no setor da defesa, avisa Luís Ribeiro, board member da idD Portugal Defence. Inscrição na BTID, credenciação de segurança, licenciamento junto do Ministério da Defesa nacional, qualificação de áreas e equipamentos militares são passos que vão dar acesso a concursos geridos pela NATO, garante Luís Ribeiro.
“Entrar neste sistema, neste universo, sem fazer todos estes passos, é estar apenas em órbita e não propriamente dentro do sistema e aí perderão algumas das vantagens e das oportunidades que esse sistema proporciona”, afirma o board member da idD Portugal Defence.

O presidente da AFIA considera fundamental as empresas do setor “conhecerem o mercado, estabelecerem relacionamentos com as empresas e estarem presente”, acrescentado a importância de “evidenciar as potencialidades das empresas” e “fazer as certificações necessárias”.
Rui Santos, diretor-geral da AED Cluster Portugal, aconselha as empresas a “perceber quais são as cadeias de fornecimento mais alinhadas”, “perceber se existe um modelo de negócio sustentável”, “fazer formações” e ir “a feiras internacionais”.
“O setor tem mostrado ser capaz de entrar em áreas muito difíceis, como por exemplo a aeronáutica ou a indústria do espaço, portanto, se somos bons para vários outros setores, também seremos de certeza absoluta para a defesa”, conclui o líder da AFIA.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Com “janela reduzida”, setor automóvel tem de agarrar oportunidade na Defesa
{{ noCommentsLabel }}