CFP avisa para risco de lay-off e despedimentos com paralisação de empresas por falta de ‘chips’
Nazaré da Costa Cabral considerou que dificuldades no abastecimento pode afetar a breve trecho a atividade económica das empresas, com consequências para o emprego.
A presidente do Conselho das Finanças Públicas (CFP), Nazaré da Costa Cabral, alertou esta quinta-feira para o risco de lay-off ou despedimentos coletivos, na sequência das dificuldades sentidas pelas empresas no acesso a chips e matérias-primas.
Nazaré da Costa Cabral respondia aos deputados numa audição parlamentar na Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública (CFP), no âmbito da apreciação na especialidade do Orçamento do Estado para 2026 (OE2026), quando identificou três principais riscos para a economia portuguesa: a alteração da política comercial e constrangimentos na cadeia de abastecimentos; o impacto da Inteligência Artificial (IA) e a exposição ao turismo.
No primeiro caso, aludiu a um risco associado à “alteração da política comercial” e às “dificuldades em termos de reconfiguração das cadeias de abastecimento”.
“O que se está a passar, neste momento, com as dificuldades de fornecimento de chips, matérias-primas e outros componentes que vêm em grande medida da China para as empresas europeias pode afetar a breve trecho a atividade económica das empresas e, portanto, a capacidade de laboração dessas mesmas empresas, com risco de impactos sociais, lay-offs ou até de despedimentos coletivos”, apontou, acrescentando: “É algo que deve estar debaixo de atenção”.
O caso mais recente é o do lay-off da Bosch na fábrica de Braga, com início em novembro e que poderá prolongar-se até abril de 2026, afetando cerca de 2.500 trabalhadores dos 3.300 que emprega em Braga. A multinacional alemã justifica os ajustes no tempo de produção com a escassez de componentes.
Existe atualmente uma disputa com a fabricante de chips Nexperia, que é uma subsidiária da chinesa Wingtech. O Governo holandês, no dia 30 de setembro, assumiu o controlo da empresa, alegando preocupações com a propriedade intelectual. Em resposta, o Governo chinês proibiu as exportações dos produtos acabados da empresa. Uma crise ao qual Portugal também fica exposto. Como o ECO conta aqui, também a Autoeuropa não descartou impactos de curto prazo devido ao problema de fornecimento de semicondutores da empresa Nexperia.
“Acho que, neste momento, o setor produtivo está de facto a sofrer já os efeitos quer das alterações de tarifas, da reconfiguração da política comercial e destas dificuldades muito particulares de abastecimento das várias empresas“, assinalou Nazaré da Costa Cabral.
Por outro lado, a presidente do CFP destacou “o impacto que se começa a fazer sentir das alterações em termos de Inteligência Artificial e de robotização das empresas”. “Há empresas que já estão a antecipar esses efeitos, de novo, com o aumento dos despedimentos, e isso já vem sido notado em certos setores“, disse.
Paralelamente, alertou para a própria “vulnerabilidade” da economia portuguesa, “muito exposta” ao setor do turismo. “Qualquer agudizar da situação geopolítica que possa afetar de facto as deslocações das populações ou dos cidadãos em geral, pode ter impactos ao nível do turismo, da atividade turística”, apontou.
“É preciso no próximo ano ter muito cuidado com aquilo que vão ser as dinâmicas de crescimento económico da economia portuguesa, e ser capaz de fazer assentar o seu crescimento económico pela sua capacidade exportadora“, aconselhou. Ou seja, que o país cresça “pela capacidade não apenas de aproveitar a procura externa dirigida às exportações portuguesas, mas também a capacidade de diversificar mercados, de encontrar novos mercados” e “não tanto pelo aumento do consumo“.
A presidente do CFP pediu ainda prudência na gestão orçamental, deixando o aviso que a perceção de risco da dívida francesa pode vir a contagiar uma economia como a portuguesa, pelo que não se deve estar “relaxado” face à situação orçamental.
“França está numa situação de grande dificuldade financeira, tem uma dívida pública enorme que não pára de crescer, não tem tido capacidade de controlo das contas públicas e o que é a perceção de risco da República francesa pode vir a ter contágio para uma economia como a portuguesa, que está também muito dependente da francesa”, disse.
A responsável considerou, assim, que o país não pode “estar descansado nem relaxado em relação à situação orçamental e financeira”, porque apesar de tudo “não é tão forte como França”.
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