Viajámos até 2055 com ajuda da IA. Que futuro para o planeta Terra?

Experiência imersiva projeta quatro possíveis cenários para o planeta, e cada um varia consoante as decisões e o rumo que a humanidade seguir nas próximas décadas.

ECO Fast
  • A EY apresentou em Portugal a experiência imersiva “Four Futures”, apoiada por inteligência artificial, que projeta quatro possíveis cenários para o planeta Terra em 2055, variando entre o colapso ambiental total e uma transformação sustentável global.
  • Os cenários, baseados em dados científicos, ilustram diferentes graus de aquecimento e impacto social, desde regimes autoritários e escassez de recursos até sociedades colaborativas e neutras em carbono, refletindo as consequências das decisões tomadas nas próximas décadas.
  • Especialistas da EY sublinham que descarbonizar é necessário, mas insuficiente sem uma mudança estrutural nos modelos económicos e comportamentais, defendendo que o verdadeiro progresso exigirá redefinir o conceito de crescimento e bem-estar humano.
Pontos-chave gerados por IA, com edição jornalística

A sustentabilidade e o futuro do planeta Terra são temas que têm estado entre os mais debatidos nos últimos anos por nações e líderes de todo o mundo. Trata-se de uma questão que preocupa — ou deveria preocupar — a maioria da população global, pois está em causa o planeta que será deixado às gerações futuras.

A COP30, a maior cimeira climática mundial, está prestes a começar. E, este ano, terá lugar em Belém, no Brasil, de 10 a 21 de novembro de 2025. Contudo, há já um sinal claro de que este é também um tema político e que está longe de gerar consenso entre os grandes decisores. Prova disso é a ausência dos Estados Unidos, da China e da Índia, os três países mais poluidores do planeta, que não marcarão presença na COP30.

Neste contexto, para contribuir para a sensibilização da sociedade, a EY desenvolveu uma experiência imersiva suportada por inteligência artificial (IA), denominada “Four Futures” — no fundo, quatro cenários futuristas plausíveis, assentes em dados, que permitem visualizar como poderá ser a vida no planeta Terra daqui a três décadas, consoante as decisões que a população mundial e os governos venham a adotar.

Experiência imersiva “Four Futures”EY

A cenarização apresentada pela primeira na COP28, no Dubai, esteve recentemente em exibição inédita em Portugal, e o ECO teve a oportunidade de experienciar de perto os vários cenários possíveis desenvolvidos pela consultora. Num espaço imersivo com quatro ecrãs distribuídos pela sala, acompanhados por um ambiente visual e sonoro digno de uma produção cinematográfica, cada ecrã apresentava um cenário distinto. Em cada um deles, avatares ‘vindos do futuro’ explicavam o que estava a acontecer e os acontecimentos que levaram o mundo àquela realidade.

Em declarações ao ECO, à margem da apresentação, Norma Franco, Partner, Climate Change and Sustainability Services da EY, explica que “esta instalação é baseada em informação científica que permite ilustrar estas projeções e os cenários possíveis face àquilo que nós conhecemos à data de hoje”.

Os quatro cenários apresentados pela EY para 2055

Na pior das projeções, batizada de “Collapse”, o mundo entrou em autodestruição. O aumento médio da temperatura global vai atingir os quatro graus celsius em 2100 e a população encolheu para pouco mais de 6,4 mil milhões de pessoas. As catástrofes naturais sucedem-se sem pausa: ondas de calor, incêndios florestais e inundações varrem cidades inteiras, destruindo o que resta dos ecossistemas. A economia global ruiu sob o peso das crises sobrepostas — a escassez de recursos, as pandemias e os conflitos constantes. Milhões de pessoas vivem em deslocação permanente, enquanto governos e instituições deixaram de conseguir garantir o básico. A desigualdade disparou e as sociedades fragmentaram-se entre os poucos que conseguiram proteger-se e a maioria que luta diariamente pela sobrevivência.

Num cenário ligeiramente menos caótico, mas ainda marcado pela escassez de recursos, surge o “Constrain”. Aqui, prevê-se que planeta aqueça cerca de dois graus até ao início do próximo século e ‘restam’ 8,5 mil milhões de pessoas. O mundo tornou-se um lugar de restrições severas. Os bens essenciais — energia, alimentos, medicamentos — são racionados e fortemente controlados pelos Estados. Muitos países vivem sob regimes autoritários que sacrificaram liberdades em nome da estabilidade. As fronteiras fecharam-se, o comércio global entrou em colapso e a vida quotidiana é pautada por austeridade e vigilância. Apesar de tudo, há uma ténue esperança: os esforços de contenção começam a mostrar resultados e o declínio ambiental começa lentamente a inverter-se, embora o preço humano seja altíssimo.

Norma Franco, Partner, Climate Change and Sustainability Services da EYEY

Num futuro mais próximo da continuidade daquilo que se vive atualmente, o chamado “Business as Usual”, a temperatura média global sobe três graus até 2100 e a população mundial ultrapassa os 9,5 mil milhões de pessoas. É o cenário da inércia — aquele em que o mundo tentou adaptar-se sem realmente mudar. As economias continuam a crescer e a colapsar em ciclos sucessivos, enquanto as crises ambientais se tornam rotina. Secas, cheias e tempestades são parte do quotidiano e a desigualdade social atinge níveis históricos. Os governos adiam metas de neutralidade carbónica, as empresas avançam lentamente nas transições energéticas e a sensação global é de desgaste: um planeta cansado, a tentar resistir à própria indiferença.

Mas há também uma visão de esperança. No cenário “Transform”, o aquecimento global é travado nos 1,5 graus (meta definida no “Acordo de Paris”) e a população estabiliza em 8,4 mil milhões de cidadãos. Após décadas de crises e mobilização, o mundo consegue reinventar-se. A economia passa a medir-se pelo bem-estar e não apenas pelo lucro; as cidades tornam-se verdes e sustentáveis; os cidadãos voltam a sentir-se parte de um propósito comum. O consumo excessivo dá lugar à partilha e a cooperação global substitui o conflito. O planeta começa a recuperar — e, pela primeira vez em muito tempo, a humanidade volta a acreditar no futuro.

Descarbonizar, mas não só

Perante estes cenários e os riscos que projetam para o futuro do planeta, Norma Franco, Partner da EY, sublinha que a descarbonização é essencial, mas está longe de ser suficiente. “É apenas uma parte de um processo muito mais amplo, que implica uma transformação profunda — económica, social e comportamental”, explica. Para que os objetivos sejam atingidos, acrescenta, “é preciso um verdadeiro alinhamento de vários astros”.

A responsável destacou que esta mudança implica repensar os modelos de negócio, mas também transformar atitudes e comportamentos, tanto a nível individual como coletivo. “Temos de mudar o nosso negócio, o nosso comportamento, a nossa forma de estar”, afirmou. Vivemos, lembrou, “num ecossistema onde tudo está interligado” e é precisamente dessa interligação que surgem “as sinergias e as parcerias que são fundamentais para a transformação”.

Além da cooperação entre empresas, instituições e governos, Norma Franco realçou a importância das linhas de financiamento, que funcionam como catalisadores da ação climática. “Podem acelerar a ação, mas serão suficientes? Estarão acessíveis a todos, sobretudo a quem quer implementar novas tecnologias ou soluções inovadoras?”, questionou. Para a Partner da EY, a inovação tecnológica é outro pilar essencial neste processo — não apenas aproveitando as soluções já existentes, mas também investindo no desenvolvimento de novas respostas capazes de enfrentar os desafios do futuro.

O crescimento económico não é ‘sustentável’?

Na mesma linha de reflexão, Manuel Mota, Partner e Climate Change and Sustainability Services Leader da EY, reforçou que a descarbonização é essencial, mas, por si só, “não basta”. Defendeu que é necessário olhar também para o modelo económico global e questionar o próprio conceito de crescimento. “O tema da descarbonização tem uma relevância climática enorme quando falamos do aquecimento global e das várias crises que vão surgindo”, afirmou, sublinhando que parte da solução pode passar por repensar a forma como as economias e as empresas medem o sucesso.

Manuel Mota, Partner, Climate Change and Sustainability Services Leader da EYEY

Atualmente, observou, o sistema económico assenta numa lógica de crescimento contínuo, em que “todos têm de crescer mais para sobreviver”. Essa dinâmica, explicou, está associada a uma população em constante aumento e a necessidades cada vez mais amplas, o que leva o mercado a expandir-se de forma permanenteaté um ponto em que tal se torna insustentável. “O planeta tem limites físicos. No limite, teríamos pessoas por todo o lado”, alertou.

Nos cenários futuros projetados pela EY, os mais positivos não correspondem necessariamente a economias maiores. “O PIB previsto para o cenário mais inspirador, o “Transform”, comparado com o PIB global atual, é cinco vezes mais pequeno”, destacou. Para o Partner da EY este dado obriga a repensar o que se entende por progresso e bem-estar. “O conceito de bem-estar que temos hoje, em 2025, pode ser muito diferente daquele que teremos em 2055.”

Manuel Mota concluiu lembrando que esta transformação é também pessoal. “Antes de sermos consumidores, somos pessoas. E a forma como nos vamos comportar enquanto tal será decisiva para construir um futuro mais sustentável.”

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Viajámos até 2055 com ajuda da IA. Que futuro para o planeta Terra?

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião