Governo espanhol deixa via aberta para OPA da Bondalti sobre a Ercros
Operação segue agora para regulador do mercado de capitais espanhol, para aprovação do prospeto da oferta de 320 milhões lançada pela empresa do Grupo José de Mello em março do ano passado.
Tal como era esperado, o Ministério espanhol da Economia decidiu não remeter para conselho de ministros a Oferta Pública de Aquisição (OPA) da Bondalti sobre a espanhola Ercros, deixando caminho aberto para a oferta da química portuguesa prosseguir. Operação segue agora para a Comisión Nacional del Mercado de Valores (CNMV), o regulador do mercado de capitais espanhol, para aprovação do prospeto.
“Na data de hoje [24 de novembro], tornou-se firme e eficaz a resolução de autorização da concentração económica resultante da Oferta [da Bondalti sobre a Ercros], sujeita aos compromissos publicados como Outra Informação Relevante em 30 de outubro de 2025, concedida pela Comisión Nacional de los Mercados y la Competencia (“CNMC”) nessa mesma data, uma vez que o Ministro da Economia, Comércio e Empresa não considerou conveniente elevar a operação ao Conselho de Ministros”, adianta a Bondalti em comunicado.
A empresa do Grupo José de Mello acrescenta que, “consequentemente, a condição relativa ao direito da concorrência em Espanha à qual a Oferta estava sujeita foi cumprida“.
A autoridade da concorrência espanhola, a Comissão Nacional de Mercados e Concorrência (CNMC), aprovou a oferta da empresa do Grupo José de Mello sobre a Ercros no final de outubro, enviando o processo para o Ministério da Economia espanhol, que tinha de decidir se enviava ou não a operação para o Conselho de Ministros. Uma vez que não há oposição de Madrid, a OPA segue para o regulador do mercado, a CNMV, para aprovação do prospeto e publicação do anúncio da oferta, iniciando-se, posteriormente, o período de aceitação.
A Bondalti lançou em março do ano passado uma OPA sobre a totalidade do capital da Ercros, oferecendo uma contrapartida de 3,505 euros [ajustada ao pagamento de dividendos], um valor que avalia a empresa em 320 milhões de euros, e representa um prémio de cerca de 10% face à cotação atual, em torno de 3,20 euros por ação.
Uma vez aprovada a OPA, os cerca de 18.000 acionistas da empresa terão de decidir se aceitam ou não a oferta da empresa portuguesa. O sucesso da operação está condicionado ao “sim” de pelo menos 75% do capital, ainda que a Bondalti se reserve o direito de baixar esta percentagem.
Mais de ano e meio depois do anúncio da oferta, as perspetivas são hoje mais animadoras para a empresa portuguesa. Depois de uma primeira reação negativa por parte dos acionistas — um grupo de 150 acionistas, com cerca de 27% do capital da gigante espanhola, chegou a anunciar que não aceitava nem a oferta da Bondalti, nem da italiana Esseco, entretanto retirada –, os analistas defendem que as condições oferecidas pela companhia lusa beneficiam as duas empresas e os investidores, abrindo caminho a um desfecho positivo para o negócio.
A Bondalti tem resistido a subir o preço da oferta, argumentando que o preço [ajustado aos dividendos] de 3,505 euros “representa um prémio de 40,6% (incluindo dividendos) face ao preço de fecho de 2,56 euros em 5 de março de 2024”.
“O setor químico europeu exige investimentos significativos e a criação de grupos industriais de maior escala, com capacidade de atuar de forma integrada e enfrentar os grandes desafios que estão a transformar os sistemas de produção e distribuição: o aumento da concorrência internacional, a transição energética, a transformação digital e o enquadramento regulatório”, argumenta a Bondalti em comunicado.
O objetivo da Bondalti, uma vez concluída a operação, é promover a exclusão das ações da Ercros da bolsa, sendo que a oferta está condicionada à aceitação de mais de 75% do capital, “permitindo uma integração efetiva e a criação de um grupo industrial europeu com a dimensão necessária”.
O setor químico tem enfrentado grandes desafios, penalizado por custos crescentes e menor procura. Os resultados mais recentes, divulgados pela Ercros a 11 de novembro, mostram um agravamento dos prejuízos da gigante espanhola. A companhia fechou os primeiros nove meses deste ano com prejuízos de 41,2 milhões de euros, multiplicando por mais de cinco as perdas que tinha registado no mesmo período do ano passado (-7,8 milhões de euros).
A união das duas empresas iria permitir a criação de sinergias e reforçar a posição estratégica no setor. “Para a Bondalti, a aquisição tem uma forte lógica industrial: ambas as empresas operam no setor do cloro e seus derivados (hipoclorito de sódio e soda cáustica), e a combinação criaria um líder ibérico com maior escala, sinergias operacionais e complementaridade geográfica entre Portugal e Espanha“, sintetiza Pablo Victoria Rivera, analista sénior da Lighthouse – Instituto Español de Analistas, em respostas recentes ao ECO.
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