Herdeiros tomam conta do clube dos multimilionários

O clube dos ultra-ricos é cada vez mais feito de heranças. Só este ano foi alimentado por quase 300 mil milhões de dólares transferidos, a que se juntam 5,9 biliões que mudarão de mãos até 2040.

ECO Fast
  • O relatório do UBS revela que surgiram 196 novos multimilionários em 2025, impulsionados por inovações empresariais e heranças.
  • Portugal também acompanha esta tendência, com um aumento de 3.200 milionários em 2024, totalizando já cerca de 175 mil fortunas.
  • A transferência de riqueza intergeracional está a acelerar, prevendo-se que 5,9 biliões de dólares sejam herdados nos próximos 15 anos, principalmente nos EUA e Europa Ocidental.
Pontos-chave gerados por IA, com edição jornalística.

Uma vaga renovada de milionários está a emergir globalmente, impulsionada pela inovação empresarial e pelo maior volume de heranças alguma vez registado, revela o relatório “Billionaire Ambitions Report 2025” do UBS, publicado esta quinta-feira, a que o ECO teve acesso.

Este fenómeno ocorre num contexto em que Portugal também viu o seu clube de milionários crescer em 2024, com mais 3.200 pessoas a ultrapassar a fasquia do milhão de dólares em património líquido, totalizando cerca de 175 mil milionários no país, segundo dados divulgados anteriormente pelo banco suíço.

O estudo global, que acompanha a evolução da riqueza dos mais abastados do planeta, mostra que em 2025 foram registados 196 novos multimilionários (detentores de fortunas acima de mil milhões de dólares) que construíram as suas fortunas do zero — o segundo número mais elevado da história do relatório, apenas superado pelo ano de 2021.

Contudo, o clube dos multimilionários, que este ano agrega quase três mil pessoas numa fortuna global recorde de 15,8 biliões de dólares (um crescimento de 13% em apenas 12 meses), é cada vez mais um espaço construído por herdeiro e não por empreendedores.

Do ponto de vista setorial, os multimilionários ligados à tecnologia reforçaram a sua posição ao longo deste ano, beneficiando da valorização das ações de empresas que lideram a revolução da inteligência artificial, como Meta, Oracle e Nvidia. Os seus ativos cresceram quase um quarto (23,8%) — mais 583,5 mil milhões de dólares — para três biliões de dólares, rivalizando com o consumo e o retalho como o maior setor.

Os seis multimilionários tecnológicos dos EUA cujas fortunas mais aumentaram tornaram-se 171 mil milhões de dólares mais ricos comparativamente ao ano passado, um aumento de mais de um quarto”, refere o UBS, explicando ainda que “esta subida está intimamente ligada às capacidades da inteligência artificial (IA) das suas empresas, desde a produção de chips fundamentais até à infraestrutura de computação em nuvem alimentada por IA”, explica o documento.

Em 2025, 91 pessoas tornaram-se multimilionárias através de heranças, recebendo em conjunto 297,8 mil milhões de dólares, um aumento de mais de um terço face aos 218,9 mil milhões de dólares registados em 2024.

Contudo, contrariamente à ideia de que apenas a inteligência artificial está a gerar novos multimilionários, o relatório do UBS mostra que a criação de riqueza em 2025 foi “mais diversa” do que em anos anteriores, alargando-se a setores tradicionais, principalmente nos EUA e na China.

Os 196 novos multimilionários empreendedores acumularam, em conjunto, 386,5 mil milhões de dólares (cerca de 355 mil milhões de euros) em património. Entre os setores representados estão desde software de marketing, genética e restauração, até infraestruturas e gás natural liquefeito.

Os EUA lideraram esta tendência de aumento do número empreendedores com fortunas acima de mil milhões de dólares, com 87 dos 92 novos multimilionários das Américas a residirem no país. Na Ásia-Pacífico, 61 pessoas têm atualmente fortuna acima de mil milhões de dólares, somando 124,4 mil milhões de dólares.

A Europa Ocidental, por seu turno, ficou para trás, contando com apenas 43 empreendedores a tornarem-se novos multimilionários, agregando uma fortuna total de 82,2 mil milhões de dólares, segundo dados do banco suíço.

Transferência de riqueza acelera para níveis históricos

Mais do que o crescimento do número de fortunas globalmente, o grande destaque do relatório do UBS deste ano centra-se na aceleração da transferência intergeracional de riqueza.

Só este ano, 91 pessoas tornaram-se multimilionárias através de heranças, recebendo em conjunto 297,8 mil milhões de dólares, um aumento de mais de um terço face aos 218,9 mil milhões de dólares registados em 2024. Este é “o maior montante na história do nosso relatório”, sublinha o UBS.

A Europa Ocidental é o epicentro desta tendência: 48 europeus ocidentais herdaram 149,5 mil milhões de dólares, impulsionados por 15 membros de duas famílias alemãs do setor farmacêutico, com idades entre os 19 e os 94 anos. Este valor é mais do dobro dos 86,5 mil milhões herdados por 18 pessoas na América do Norte e quatro vezes superior aos 24,7 mil milhões recebidos por 11 herdeiros no Sudeste Asiático.

Mas esta tendência não ficará apenas restringida a 2025. “Pelo menos 5,9 biliões de dólares serão herdados por filhos de multimilionários nos próximos 15 anos”, vaticinam os analistas do UBS. A maior parte desta transferência ocorrerá nos EUA, onde quase metade da riqueza global a ser transferida — pelo menos 2,8 biliões de dólares — passará para herdeiros ao longo dos próximos 15 anos.

Mais de oito em cada dez (82%) dos afortunados com filhos que participaram no estudo dizem que “aspiram a ver os seus filhos desenvolver as competências e os valores para terem sucesso de forma independente, em vez de dependerem apenas da riqueza herdada”.

Na Europa Ocidental, a tradição de transferência de riqueza multigeracional continuará, antecipam os técnicos do UBS. França, Alemanha, Suíça, Reino Unido e Espanha surgem como os mercados onde mais riqueza será transferida. “Coletivamente, a Europa Ocidental prepara-se para uma transferência de riqueza de 1,3 biliões de dólares ou mais”, estima o relatório.

Apesar do volume impressionante de heranças, o inquérito do UBS realizado junto de 87 clientes com mais de mil milhões de euros revela uma mudança de mentalidade significativa. Mais de oito em cada dez (82%) dos afortunados com filhos que participaram no estudo dizem que “aspiram a ver os seus filhos desenvolver as competências e os valores para terem sucesso de forma independente, em vez de dependerem apenas da riqueza herdada”. Além disso, mais de dois terços (67%) esperam ver os filhos “a perseguir as suas próprias paixões”.

“Há algumas décadas, a sucessão no negócio familiar era a norma porque os mercados eram mais lentos a mudar e a continuidade proporcionava estabilidade”, refere um multimilionário europeu citado no relatório. “Hoje, a globalização, ciclos de disrupção mais rápidos e o maior risco de que os negócios existentes possam não perdurar na sua forma atual mudaram as prioridades. Com a gestão profissional a ser mais comum, as famílias veem agora mais valor em que os filhos desenvolvam resiliência, educação e adaptabilidade em vez de herdarem um papel”.

Mapa global de fortunas em mutação

O relatório do UBS destaca ainda a elevada mobilidade das pessoas mais ricas do planeta. O estudo revela que 36% dos clientes multimilionários inquiridos pelo UBS já se relocalizaram pelo menos uma vez para um país diferente da sua origem, enquanto outros 9% estão a considerar fazê-lo. Os multimilionários mais jovens são os mais propensos a mudar-se: 44% dos que têm até 54 anos já se mudaram pelo menos uma vez.

As principais razões para a relocalização incluem “a procura de uma melhor qualidade de vida (36%), preocupações geopolíticas (36%) e a capacidade de organizar os assuntos fiscais de forma mais eficiente (35%)”.

Esta elevada mobilidade pode alterar significativamente o mapa da transferência de riqueza prevista. “Embora a transferência de riqueza pareça estar concentrada num pequeno número de mercados, os elevados níveis de migração podem mudar o panorama”, alerta o relatório.

O mundo está perante uma nova era na distribuição global da riqueza, marcada simultaneamente pela inovação empresarial e pela maior transferência intergeracional de fortunas alguma vez registada.

O contexto português, se bem que noutra escala, integra-se nesta tendência global de crescimento patrimonial. Segundo dados anteriormente divulgados pelo UBS no “Global Wealth Report 2025”, Portugal registou um aumento de 1,9% no número de milionários em 2024, passando de cerca de 171,8 mil em 2023 para aproximadamente 175 mil pessoas com património líquido superior a um milhão de dólares.

Este crescimento, embora a um ritmo mais moderado do que em anos anteriores, consolida uma tendência de expansão do clube dos mais afortunados. Os cerca de 175 mil milionários portugueses detinham no final do ano passado aproximadamente 376 mil milhões de dólares em património, cerca de 2,15 mil milhões de euros por milionário.

O “Billionaire Ambitions Report 2025” do UBS, baseado numa base de dados que acompanha bilionários em 47 mercados desde 1995, confirma assim que o mundo está perante uma nova era na distribuição global da riqueza, marcada simultaneamente pela inovação empresarial e pela maior transferência intergeracional de fortunas alguma vez registada.

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