Num debate que arrancou com ataques e acabou na Defesa, foi Seguro que ganhou terreno
Os candidatos tentaram 'desqualificar' o outro para o cargo, mas Seguro aproveitou deslizes do almirante, que não recuperou terreno nos temas da economia, da Justiça e da Defesa.
A primeira pergunta da jornalista Clara de Sousa fez referência às quedas de António José Seguro e de Henrique Gouveia e Melo nas sondagens no último mês e os candidatos entraram no debate na SIC esta terça-feira dispostos a recuperar terreno, ou seja, no contra-ataque e a apontarem os ‘buracos’ no currículo do adversário.
Seguro começou por bater na tecla já comum nestes debates contra o almirante, dizendo que o País “precisa de Presidente com experiência política, que não venha ao improviso e a aprender no cargo”. Gouveia e Melo acusou o ex-líder socialista de ser inseguro, citando até para o propósito Mário Soares, e a apontar para os 11 anos de Seguro fora da vida política, um período no qual no país aconteceram coisas graves (como os incêndios de Pedrógão Grande e a pandemia) e na qual ele próprio esteve presente. “É um candidato nem-nem”, concluiu.
Nesses momentos mais quentes do debate, o ex-secretário geral do PS aproveitou para sublinhar que a grande diferença entre os dois “é que não utiliza o poder para humilhar os seus subordinados” – referindo-se à intervenção pública de Gouveia e Melo no caso NRP Mondego, na Madeira, obrigando o almirante a dar uma resposta vaga à pergunta sobre se tem exemplos semelhantes do passado. “Liderar não é dar ordens”, vincou Seguro.
Aproveitando o embalo, António José Seguro atirou: “Votar em si é uma aventura, é um tiro no desconhecido”. O almirante levou a conversa para o período do adversário na liderança da oposição, lembrando a abstenção num Orçamento do Estado (OE) que fez danos ao País. Mas a ofensiva acabou por causar danos próprios, pois disse “leis” do OE, permitindo a Seguro esclarecer que é uma lei e criticar novamente a falta de qualificação para o cargo que quer atingir nas eleições de 18 de janeiro.
Na questão partidária, mais pontos para o socialista. O almirante tentou mostrar que Seguro representa só uma facção do PS, mas acabou por dizer que ele próprio representa o PS. Seguro atira que o almirante “que se dizia apartidário, agora diz que representa o PS”.
Findo o período de ataques, o debate acalmou com alguma convergência no cuidado que temos de ter em relação aos elogios da revista The Economist à economia portuguesa, na importância da coesão social no modelo de desenvolvimento, e nos números que o primeiro-ministro tem apontado para o salário mínimo nacional. O Governo “vem agora anunciar um salário mínimo de 1600 euros”, classificando como “muito estranho” este tipo de anúncio em momentos de campanha eleitoral.
Após uma troca (com pouca coisa de interesse) sobre a Justiça, a discussão terminou com o tema da Defesa. É território confortável para o almirante, mas não conseguiu (ou não quis) ‘desqualificar’ Seguro no assunto, destacando apenas que para ser Presidente, ajuda ter maior domínio das matérias militares. A diferença entre os dois candidatos acabou por ser a postura que Portugal deve ter no mundo: para Seguro mais europeísta, especialmente dado quem está na Casa Branca, e para Gouveia e Melo, foco na Europa “sem desenlaçar o Atlântico”. Um final interessante, mas a vitória já tinha sido garantida por Seguro nos primeiros momentos ao ataque.
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