Advogados no Web Summit. O que foram lá fazer?

Grandes sociedades portuguesas fizeram-se representar no Parque das Nações, nos passados dias 6 e 9 de novembro. Duas até foram parceiras. O que acharam desta edição? A Advocatus foi saber.

Um “evento muito interessante”, uma “montra extraordinária”, um mero “fenómeno cultural”. Concluída a segunda edição do Web Summit em Lisboa, as opiniões divergem mais no feitio do que na forma. Agora, é tempo de balanços e de colher os frutos daquela que é uma das maiores feiras de tecnologia do mundo. Vieram às dezenas de milhar, vindos dos quatro cantos do globo: empresários, investidores, voluntários e… advogados.

Grandes sociedades portuguesas fizeram-se representar no Parque das Nações, nos passados dias 6 e 9 de novembro. Duas até foram parceiras. O que acharam desta edição? “É como o fim do ano do empreendedorismo, um bom pretexto para festejar com os nossos clientes. Foram três dias em que estivemos lá, juntos, a acompanhá-los e também a aprender”, diz Segismundo Pinto Basto, da MLGTS, que lidera a Team Genesis, especializada no ecossistema empreendedor nacional.

Quanto a Nuno Mansilha, responsável pela área de startups da Miranda Law Firm, o principal fator atrativo é a “concentração” desse ecossistema num só local. “Foi muito interessante em termos de concentração de informação. Do ponto de vista dos nossos objetivos, a parte mais positiva a salientar é essa concentração de todo o fenómeno numa área relativamente reduzida. Permitiu fazer muitos contactos”, revela, em conversa com a Advocatus.

Mas será que esses contactos se traduzem em negócios, clientes, receita e geração de valor? Os cinco advogados sondados para este artigo têm opiniões diferentes. Em geral, Nuno Mansilha acredita que sim: “Já iniciámos vários contactos e apresentámos várias propostas na sequência do Web Summit.”

No entanto, Domingos Cruz, managing partner da CCA Ontier, sociedade parceira do evento, tem uma opinião diferente: “Não acredito que os contactos se materializem em dinheiro. Não meço tudo pela capacidade que uma oportunidade tem de gerar dinheiro – é importante, mas não é exclusivo.” E acrescenta: “Isto vive de sermos cada vez mais pessoas a conhecermo-nos umas às outras.”

À primeira vista, o mundo da advocacia, mais institucional, parece não ter paralelo com a postura irreverente de muitos empreendedores. Por isso, a abordagem das sociedades a estas empresas deve ser adaptada. “Não funciona da mesma maneira, não é o mesmo mindset. Temos de nos adaptar”, aponta Domingos Cruz. Mas como? “Tem de haver uma desconstrução total do conceito tradicional de advocacia para se adaptar num universo que vive, em si mesmo, do conceito da disrupção”, defende. A tendência no setor tem sido criar equipas especializadas. E aproveitar o Web Summit para lhes dar mais visibilidade.

Aliás, visibilidade foi coisa que não faltou na feira. Portugal esteve nas bocas do mundo. Não é todos os dias que Lisboa vira capital da tecnologia. A euforia foi grande e mereceu elogios e críticas. Duarte Schmidt Lino, da sociedade PLMJ, também parceira do Web Summit, considera que o evento é “obviamente bom” e “claramente positivo” para Portugal, mas também faz nota do clima de “sobre-excitação” associado à iniciativa.

Um clima que leva alguns a crer que o Web Summit é “a resolução de todos os problemas” da economia portuguesa. “É um evento com muita projeção, divulga o país, traz cá pessoas e discussões interessantes dentro daquele tema”, atira Duarte Schmidt Lino. Mas ressalva: “Acontece em Lisboa mas não é uma conferência sobre Portugal. A maior parte das pessoas que estão lá não tem nada a ver com Portugal, não quer investir em Portugal, não quer investir em empresas portuguesas.” E o mercado da PLMJ são “as pessoas ou investimentos que saem de Portugal, ou que vêm para cá ou para os países lusófonos” onde a sociedade está representada. “É mais interessante para nós como fenómeno cultural”, remata o advogado.

Paulo Bandeira, da SRS Advogados, é crítico das críticas. E vai direto ao assunto: “Acho que devemos deixar de ser provincianos. Saiu a notícia de que o Web Summit deixou em Portugal qualquer coisa como 300 milhões de euros. Só isso já é uma boa razão para se fazer. É extraordinário, antes de mais, sendo uma convenção de tecnologia com aquela dimensão”, diz. Ao mesmo tempo, reconhece que isso não significa que os negócios fiquem cá, mas existem “cada vez mais empresas de topo” a instalar no país centros de inovação e de inteligência. “Tudo isto ajuda a construir um ecossistema”, defende. E a SRS Advogados usou o evento “numa lógica de divulgação” da própria equipa especializada nesse meio e de “relacionamento com novos clientes”.

Mas, sobre esse clima, Segismundo Pinto Basto também tem uma ressalva a fazer. O advogado da MLGTS diz que, “com facilidade, passamos de estados de euforia para estados de depressão”. “Se dependermos do Web Summit estar cá para isto andar para a frente, é porque estamos a fazer tudo errado. Por isso, se se for embora daqui a um ano, deve ser um ato absolutamente normal e natural e não nos deixar depressivos por causa disso. Temos é de caminhar no sentido de criarmos as fundações que sobrevivam a estes eventos”, defende à Advocatus.

Este ano, a inteligência artificial foi a grande tendência tecnológica, tanto no evento como no setor das Tecnologias da Informação. A promessa é de mudança de paradigmas, de modelos de negócio e está já a impactar todos os cantos da economia mundial. Os advogados também já sentem isso. “Está a acontecer. Temos como certo que a digitalização vai ter um impacto na profissão. Por exemplo, toda a parte da gestão documental já é, hoje em dia, feita de forma absolutamente digitalizada e com o fenómeno da inteligência artificial muito presente”, reconhece Nuno Mansilha, da Miranda Law Firm.

Duarte Schmidt Lino, da PLMJ, alinha com a ideia e diz mesmo que “há áreas onde os algoritmos e as máquinas vão substituir quase totalmente os advogados”. Assim como Domingos Cruz, da CCA Ontier: “O desenvolvimento da inteligência artificial é um passo natural, que não sei se vai demorar dois ou dez anos, mas que está a acontecer”, frisa.

Certo é que o Web Summit deste ano dificilmente será esquecido. Dele, todos trouxeram ideias, contactos, histórias. Como a que aconteceu a um dos membros da equipa especializada da MLGTS. É Segismundo Pinto Basto quem a conta: “A Patrícia viu lá uma senhora agarrada às grades a chorar e foi lá consolá-la. Afinal, ela estava era radiante porque tinha vindo do Canadá e tinha acabado de ser financiada com o dinheiro que precisava para fazer o seu negócio. Estas iniciativas funcionam bem, mas funcionam depois também no concreto.” Porque o Web Summit, além da tecnologia, também foi feito de investimentos. E que deixou marca, lá isso deixou.

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