Debaixo de fogo, Zuckerberg explica aos jornais o que se passou no Facebook
Quantas entrevistas são precisas para explicar o que se passou, afinal, com o Facebook e a Cambridge Analytica? Zuckerberg precisou de quatro. Saiba o que disse o líder da maior rede social do mundo.
Depois de reagir no Facebook ao polémico dossiê “Cambridge Analytica”, Mark Zuckerberg também deu entrevistas a quatro jornais norte-americanos, todas publicadas à mesma hora durante a madrugada desta quinta-feira. O presidente da maior rede social veio finalmente a público mostrar-se disponível para testemunhar perante o Congresso norte-americano, reconhecendo também que o caso representa um “enorme problema de confiança” na empresa. Alterações na plataforma para evitar casos semelhantes no futuro irão custar “muitos milhões de dólares”, admitiu também.
As entrevistas surgem vários dias depois da publicação de investigações jornalísticas que mostraram que dados de 50 milhões de utilizadores do Facebook terão sido usados por uma empresa privada, a Cambridge Analytica, para ajudar a pôr Donald Trump na Casa Branca. Além disso, mostraram que o Facebook manteve a situação em segredo por vários anos. Investigações às quais a empresa de Mark Zuckerberg se quis antecipar e, até, impedir a sua publicação, mediante ameaças de processos legais aos jornais The New York Times e The Observer.
Num comunicado partilhado ao final desta quarta-feira, Mark Zuckerberg admitiu que foram cometidos “erros” e afirmou: “Temos a responsabilidade de proteger os vossos dados e se não conseguimos então não merecemos servir-vos.” O presidente executivo da companhia tem vindo a ser pressionado para testemunhar perante o Congresso, algo que, em entrevista à CNN, quis deixar em aberto. Questionado sobre a sua disponibilidade para falar no Congresso, o fundador do Facebook respondeu: “A resposta curta é que ficarei contente se for a coisa certa a fazer.” Mas acrescentou: “Vamos tentar enviar a pessoa no Facebook que tiver mais conhecimento [sobre o assunto]. Se for eu, ficarei contente em ir.”
À revista Wired, Mark Zuckerberg reconheceu também negligência no que tocou a certificar-se que os dados pessoais de utilizadores do Facebook, recolhidos pela Cambridge Analytica, tinham sido eliminados pela consultora, por terem sido indevidamente recolhidos. Questionado acerca deste ponto, o gestor disse: “Acho que isso a que se refere foi um dos maiores erros que cometemos.” Em causa, o facto de o Facebook ter solicitado à Cambridge Analytica que os dados fossem destruídos sem, desde logo, contratar uma auditoria externa para o confirmar — algo que só agora decidiu fazer.
Mark Zuckerberg confirmou também, numa outra entrevista ao site de tecnologia Recode, que os utilizadores afetados pelas ações alegadamente praticadas pela Cambridge Analytica serão notificados. Em relação às medidas que ainda faltam ser tomadas pela rede social para prevenir futuros casos semelhantes, o presidente do Facebook referiu que será feita uma análise ao tipo de dados recolhidos por dezenas de milhares de aplicações que funcionam na rede social. É algo que o gestor admite que vai custar “muitos milhões de dólares”.
Ficarei contente [em testemunhar perante o Congresso] se for a coisa certa a fazer. Vamos tentar enviar a pessoa no Facebook que tiver mais conhecimento [sobre o assunto]. Se for eu, ficarei contente em ir.
Por fim, ao The New York Times, jornal norte-americano que esteve envolvido na investigação inicial a este assunto, Mark Zuckerberg encarou as críticas vindas de vários quadrantes, devido ao facto de não ter vindo a público falar mais cedo. “Primeiro, quis realmente certificar-me de que sabíamos com certeza e precisão tudo o que se passou. Sei que houve muita pressão para que tivesse falado mais cedo, mas na minha forma de ver as coisas, o mais importante era que o que disséssemos tivesse total precisão”, justificou-se o presidente executivo da empresa.
O uso indevido de dados pessoais de utilizadores do Facebook assentou, numa primeira fase, no preenchimento voluntário de um inquérito por parte de cerca de 300.000 utilizadores. No entanto, não só esses utilizadores acreditavam que o inquérito tinha fins académicos como essa informação foi, depois, usada para alargar a recolha de dados aos amigos e amigos dos amigos de quem participou nesse “estudo”, num total estimado de cerca de 50 milhões de utilizadores. Os dados terão sido usados na campanha eleitoral de Donald Trump, que venceu a corrida à presidência dos Estados Unidos em 2016.
Face a estas acusações, foram criadas campanhas noutras redes sociais a incentivar a população a deixar de usar o Facebook. No entanto, um dos principais impactos diretos desta polémica foi mesmo a desvalorização da empresa em Wall Street. Num par de sessões, a empresa perdeu mais de 54 milhões de dólares em bolsa. Entre 19 de março e 20 de março, dia em que as ações atingiram o mínimo, os títulos perderam 12% de valor. Entretanto, esta quarta-feira, recuperaram cerca de 3,53% face ao mínimo. Cada ação da empresa está a valer 169,39 dólares.
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