Costa limita-se a ler “humildemente” relatório dos incêndios
António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa participam este sábado em iniciativas de limpeza de mato, num dia em que a associação de vítimas pede demissão de um ministro.
O primeiro-ministro, António Costa, disse este sábado no Algarve que não se devem desvalorizar os riscos de possibilidade de ocorrência de incêndios, mas considerou também que não se deve “ter medo” e afirmou que se limita a ler “humildemente” o relatório sobre os incêndios, adaptando as políticas necessárias.
“Nem desvalorizar os riscos, porque isso é um perigo, nem ficarmos paralisados com medo dos riscos. Quando há um risco nós devemos procurar identificá-lo, mitigá-lo diminuí-lo de forma aumentar a segurança de todos”, afirmou o primeiro-ministro em declarações aos jornalistas, no Serro dos Vermelhos, no concelho de Loulé.
António Costa chegou de helicóptero a esta zona isolada da serra algarvia, onde assistiu a uma das ações de limpeza de mato que hoje decorrem em todo o país, com a participação de membros do Governo, de forças militares, da Proteção Civil e das autarquias. Questionado pelos jornalistas, sobre a diferença entre os trabalhos de prevenção realizados este ano e no anterior, o primeiro-ministro sublinhou que existe “claramente” uma diferença, já que, há um ano, “não havia este movimento, esta azáfama” em todo o país, envolvendo proprietários e autarquias, entre outros.
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António Costa ressalvou ainda que, apesar de as medidas já estarem em vigor há quase doze anos, “pela primeira vez”, há uma “grande consciência” de que é necessário proceder à limpeza dos terrenos, sendo fundamental que todos se concentrem a fazer “aquilo que é essencial”. “É preciso termos em conta que estas normas já estão em vigor há quase doze anos e houve muito pouca consciência da necessidade de as cumprir”, sublinhou.
Relativamente ao relatório da comissão técnica independente sobre os grandes incêndios de 2017, conhecido esta semana, o primeiro-ministro referiu que se limita “humildemente a ler o que está escrito”, procurando interpretar os dados e adaptá-los às políticas necessárias. “Foi assim que fizemos com o primeiro relatório”, frisou, acrescentando que o Governo já tem “cerca de três quartos das medidas que foram recomendadas em execução”, trabalho que vai prosseguir, tendo em conta os “recursos existentes e o calendário adequado para tomar cada uma das medidas”.
Segundo António Costa, enquanto o risco de incêndio “não desaconselhar as limpezas”, deve limpar-se “o mais possível”, porque quanto mais se fizer agora “menor é o risco que teremos amanhã”. O primeiro-ministro iniciou hoje o dia a sul, visitando uma ação de limpeza organizada pelo município de Loulé (distrito de Faro), seguindo depois para Portalegre. No conjunto das ações, que visam também “clarificar que o trabalho de limpeza de terrenos decorrerá até 31 de maio”, participam o Presidente da República e cerca de 20 membros do Governo.
"Nem desvalorizar os riscos, porque isso é um perigo, nem ficarmos paralisados com medo dos riscos. Quando há um risco nós devemos procurar identificá-lo, mitigá-lo diminuí-lo de forma aumentar a segurança de todos.”
Marcelo considera limpeza das florestas uma “causa nacional”
Já o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou este sábado, no Parque Nacional Peneda-Gerês, em Terras de Bouro, distrito de Braga, que a limpeza da floresta para prevenir incêndios é uma “causa nacional”. “É uma causa nacional e esta proximidade da floresta e da importância da floresta é um salto qualitativo importante na nossa sociedade”, disse.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, “há hoje uma atenção e uma proximidade [à floresta] da parte dos portugueses, todos eles, que não houve no passado”. “Isso é muito bom”, sublinhou.
O Presidente reafirmou a sua disponibilidade para apoiar “todas as medidas” que o Parlamento entender tomar em termos de defesa da floresta e de prevenção de incêndios. Um apoio, sublinhou, “sem angústias, sem dúvidas e sem hesitações metafísicas”. Portanto, não vale a pena especular e tentar encontrar divisões onde não existem”, disse ainda.
Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que uma parte do país, que apelidou de “país metropolitano”, chegou tarde à compreensão desta “causa nacional”, mas “agora já a percebe melhor”. “O país metropolitano vive noutra onda, não percebe tão bem a floresta”, afirmou. O Presidente falava no Parque Nacional da Peneda-Gerês, onde se foi inteirar do trabalho feito e a decorrer para proteger a floresta, designadamente a limpeza das matas.
Tanto Marcelo Rebelo de Sousa como o primeiro-ministro António Costa participam este sábado, em diferentes zonas do país, em várias iniciativas de limpeza de mato e defesa da floresta organizadas em parceria com a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP).
"O país metropolitano vive noutra onda, não percebe tão bem a floresta.”
Vítimas dos fogos querem demissão do ministro da Agricultura e da direção da CCDR Centro
Também este sábado, o Movimento Associativo de Apoio às Vítimas dos Incêndios de Midões (MAAVIM) exigiu que o ministro da Agricultura e que a direção da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) se demitam.
Em causa está, de acordo com o movimento, o facto de o ministério e a comissão não estarem a conceder apoios da mesma forma que aconteceu nos fogos de junho de 2017 em Pedrógão Grande e não “conhecerem a realidade resultante dos incêndios de 15 de outubro”, também em 2017, que provocaram 48 mortos e milhões de euros de prejuízo, além da destruição de centenas de empresas, milhares de casas e uma vasta área florestal.
Esta associação tem reivindicado celeridade nos processos de pagamento nas indústrias ou habitação, a reabertura de linhas de apoios para os lesados agrícolas ou novas oportunidades de candidatura e ainda ajudas para a floresta, entre outras temáticas. O movimento vai igualmente avançar com um processo conjunto contra o Estado português, pedindo por isso a todos os lesados pelos fogos que peçam junto das autoridades o “estatuto de vítima”.
“A MAAVIM está a avançar com uma petição para a abertura dos apoios aos lesados dos incêndios, para que todos tenham acesso, sem burocracias, aos apoios aprovados em Assembleia da Republica, pela portaria 347/2017. Contamos já com 1.000 assinaturas, mas queremos 4.000 assinaturas para levarmos o assunto à Assembleia da República”, informou, em comunicado.
“Efetuámos cerca de uma centena de candidaturas aos projetos simples de restituição produtiva, num valor aproximado de 400.000 euros, e elaborámos 12 candidaturas ao Programa de Desenvolvimento Regional 2020, sem qualquer custo, num valor de mais de três milhões de euros”, acrescentou.
O movimento sublinhou que isto só foi possível com os donativos de mais de 100 grupos de voluntários: “Os vários grupos de voluntários organizados e privados, onde a MAAVIM está incluída, como a associação que mais distribuiu ajuda nas zonas afetadas, ajudaram as mais de 300.000 pessoas afetadas pelos incêndios de outubro”.
O movimento, que fez este sábado um balanço da sua atividade, iniciativa que serviu igualmente para reivindicar apoios, vai enviar para a Presidência da República, para a Assembleia da República, para a Comissão Europeia e demais órgãos sociais um caderno reivindicativo com diversos documentos que comprovam a ausência de apoio estatal e com os diversos problemas que atingem os lesados pelos fogos de há cinco meses. O extenso documento aponta problemas no setor da primeira habitação, floresta, segunda habitação, indústria, agricultura, nos canais de informação e ainda as dificuldades com que se deparam os emigrantes e os deslocados.
Entre várias outras exigências, pede-se ainda que o sistema de apoio dado após os incêndios de Pedrógão Grande, que mataram pelo menos 66 pessoas, seja replicado na região Centro, a mais atingida em outubro de 2017.
A MAAVIM já distribuiu mais de 60 toneladas de batatas, 45 toneladas de alimentos, mais de 6.000 produtos de higiene, mais de 20.000 peças de roupa, diversos brinquedos, 25.000 quilos de ração, 13.000 árvores (carvalhos, azinheiras, sobreiros, oliveiras, entre outras), 500 toneladas de material de construção (destacando-se 100 paletes de tijolo, 10 paletes de cimento e 15 toneladas de ferro), dezenas de alfaias e pequenas máquinas agrícolas, que se adquiriram com os donativos para os casos mais urgentes.
O movimento entregou ainda diverso mobiliário e centenas de eletrodomésticos, assim como distribuiu mais de 200 toneladas de palha para alimentação animal, sementes para semear os campos, 500 cabazes de Natal e, hoje, mais de 1.000 árvores de fruto, 500 oliveiras, 1.000 quilos de maçã e 1.000 compotas.
Através da MAAVIM, foram sinalizadas mais de 3.000 famílias, que foram ajudadas com diversos bens nos concelhos de Tábua, Oliveira Do Hospital, Arganil, Góis, Seia, Gouveia, Nelas, Carregal do Sal, Tondela, Santa Comba Dão, Mangualde, Penacova, Vila Nova de Poiares e Lousã.
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