Apanhados de surpresa, portugueses no Luxemburgo fazem fila para levantar dinheiro da CGD
O encerramento dos balcões da Caixa Geral de Depósitos no Luxemburgo está a obrigar os portugueses a transferirem o seu dinheiro para outras contas e a deixá-los preocupados com as alternativas.
A notícia do encerramento dos balcões da Caixa Geral de Depósitos (CGD) no Luxemburgo apanhou os portugueses de surpresa, e muitos estão a transferir o dinheiro para outras contas, preocupados com a situação.
“Estive ontem a fazer uma transferência para pagar umas obras lá em baixo e não me disseram nada”, queixou-se Júlia, que só soube quando o filho lhe ligou a dar a notícia que leu nos jornais online, depois de os sindicatos terem denunciado o encerramento.
Esta manhã, a imigrante, de 65 anos, era uma das duas dezenas de clientes que aguardavam na agência da Avenida da Liberdade, na cidade do Luxemburgo, para serem atendidos. “Tenho de tirar o dinheiro todo de uma vez, porque vão fechar e não me deram solução, e eu tenho um homem doente”, queixou-se a portuguesa, a viver no Luxemburgo há 48 anos.
O marido está internado para fazer quimioterapia, contou Júlia, e recebe a pensão na conta do banco do Estado português no Grão-Ducado. Além de transferir o dinheiro para outra conta, Júlia também vai ter de “tratar dos papéis” para alterar a transferência mensal da reforma do marido, explicou, e a doença do português, impossibilitado de ir ao banco, torna tudo mais difícil.
Arlindo Gonçalves soube pelas redes sociais do encerramento das agências da CGD no país, depois de os sindicatos luxemburgueses que estão a negociar a compensação dos 23 trabalhadores do banco terem denunciado o fecho. “Vi no Facebook. Pensei logo em vir tirar o dinheiro todo daqui”, contou o reformado. “Ele veio cá ontem ao meio-dia fazer uma transferência e não lhe disseram nada, soubemos pela internet”, queixou-se a mulher.
Ao balcão da CGD, duas funcionárias repetem a mesma informação em resposta às perguntas. “A mensagem que nos foi dada para transmitir aos clientes é que podem estar descansados. Quando houver uma data para [o banco] fechar, vão ser avisados”.
Alcindo veio levantar dinheiro para as férias mas saiu do banco sem perceber que o banco vai fechar, e só quando a Lusa o questionou é que ficou a saber. “O meu dinheiro está todo aqui”, queixou-se o imigrante cabo-verdiano, com voo marcado para Cabo Verde este domingo.
Para abrir uma conta bancária no Luxemburgo é necessário apresentar um certificado de residência, que tem de ser pedido no ‘Biergercenter’ (loja do cidadão), e uma cópia do contrato de trabalho, mas esta sexta-feira Alcindo, que trabalha na construção com contrato temporário, já não vai ter tempo para tratar da papelada necessária. “Agora, só depois das férias”, lamentou o imigrante, acrescentando que vai partir “preocupado”.
As férias coletivas da construção civil, um setor que emprega muitos portugueses, começaram esta sexta-feira, e muitos já partiram ontem à noite. Caso contrário, a fila no banco seria muito maior, explicou um português à Lusa.
José viaja esta noite de carro, mas antes de arrancar veio à Caixa transferir a maior parte do dinheiro. “Também não tenho muito, e o que deixei também não é assim tanto para ficar preocupado. Mas quando voltar [de férias] vou resolver a situação, para ficar descansado”.
Maria pediu para falar com um dos diretores da agência e saiu tranquila. “Ele disse-me que podemos estar descansados. Ainda não há prazo [para fechar] e quando chegar a altura vamos ser avisados. A gente não pode entrar em pânico”.
Muitos nunca tiveram outra conta no país – caso de uma portuguesa que pediu para não ser identificada, com conta aberta na CGD há 21 anos, desde que o banco se instalou no Luxemburgo. Hoje foi transferir parte das poupanças para Portugal e o restante para a conta de uma pessoa amiga, até conseguir abrir conta noutro banco. Depois de preencher e assinar as transferências, agradeceu à funcionária da CGD que a atendeu e desejou-lhe “boa sorte”.
A Caixa Geral de Depósitos vai fechar as duas agências que tem no Luxemburgo, uma decisão que afeta 23 trabalhadores, segundo informação avançada na passada quinta-feira num comunicado conjunto do sindicato bancário do Luxemburgo (Aleba) e das centrais sindicais OGB-L e LCGB.
Na nota, os sindicatos lamentam que, “após quase dez dias de negociações”, a proposta apresentada pelo banco seja “desrespeitosa” para os trabalhadores, “que vão perder o emprego e encontrar-se em situações financeiras difíceis”, ficando “nitidamente abaixo do que se pratica habitualmente em situações similares”.
A Lusa tentou ouvir na quinta-feira os responsáveis da CGD no Luxemburgo e em Lisboa, sem resultado.
Em comunicado divulgado ontem à noite, já depois das notícias do encerramento, a CGD confirmou que “irá encerrar as suas sucursais de Nova Iorque e do Luxemburgo até ao final de 2018, cumprindo as determinações do Plano Estratégico negociado com as autoridades europeias e que incluem um redimensionamento da atividade internacional da Caixa”.
No Luxemburgo, o banco tem como clientes “cerca de 5% da população portuguesa aí residente, dos quais 40% são igualmente clientes em Portugal”, pode ler-se na nota.
No Luxemburgo vivem cerca de 96 mil portugueses, segundo dados do Statec.
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