Portugal concorre com Lisboa e, a seu favor, tem três edições anteriores bem concretizadas. Mas o espaço limitado da FIL pode fazer os irlandeses optar por outra localização: Web Summit quer crescer.
Em setembro de 2018, em Berlim e Amesterdão. Em dezembro, em Milão. Depois, em Paris. Parece a Volta à Europa em menos de 80 dias, as viagens que Paddy Cosgrave, cofundador e CEO do Web Summit, tem feito nos últimos tempos. Tudo porque a última edição do maior evento de tecnologia e empreendedorismo do mundo garantida em Lisboa está à porta — decorre entre 5 e 8 de novembro, no Altice Arena e na FIL, no Parque das Nações –, e há que procurar localização para o evento nos próximos anos.
“Milano for a day!”, escrevia Paddy no seu perfil de Facebook a 15 de dezembro de 2017. Dois dias antes, a 13 de dezembro, Paddy era fotografado em frente à porta do número 10 de Downing Street, residência oficial da primeira-ministra britânica. No final do ano passado, o CEO e cofundador do Web Summit andou em périplo por várias cidades da Europa. Agora, sabe-se, a organização tem várias opções em cima da mesa para a próxima cidade a acolher o evento.
Quando, em 2015, Paulo Portas, na altura vice-primeiro-ministro do Governo, anunciou que o evento ia mudar-se de Dublin para Portugal, os argumentos foram revelados: “a atividade no Twitter e nas comunidades” surpreendeu Paddy Cosgrave e Portugal permitia que o evento crescesse. “Em cada 100 tweets, 95 defendiam Lisboa”, explicou na altura o irlandês, sublinhando que “coisas pequenas como estas acabam por pesar na decisão”.
Na altura, Paddy anunciava que o Web Summit deveria crescer até às 80 mil pessoas nos anos em que estivesse por Lisboa — no ano passado, o evento contou com mais de 59 mil pessoas e, este ano, a organização espera chegar às 70 mil.
“Portugal como país, Lisboa como cidade, foram escolhidas como sede oficial do Web Summit nos próximos três anos, havendo a possibilidade de o acolher por mais dois”, disse na altura Portas. A candidatura, organizada pelo Turismo de Portugal, Associação de Turismo de Lisboa e Aicep (Agencia de Investimento de Portugal) levou Lisboa a integrar primeiro a short list de candidaturas — lista em que concorria com Paris, Barcelona, Dublin e Amesterdão — para, depois, vencer.
De acordo com o anúncio feito em Lisboa, nesse mês de setembro, a capital portuguesa ainda tem dois anos opcionais que podem juntar-se aos três acordados mas será que a equipa irlandesa quer continuar na capital portuguesa? Em cima da mesa, além de Lisboa, há várias opções: Espanha concorre com um pacote triplo — Madrid, Valência e Bilbau -, o Reino Unido vai a jogo com Londres, França concorre com Paris e a Alemanha, além da óbvia Berlim, oferece ainda Munique e Hamburgo.
“Há negociações sobre onde vamos estar no próximo ano e o que eu posso dizer é que essas negociações estão a decorrer”, disse a 15 de maio o diretor de comunicação estratégica do Web Summit, Mike Harvey.
Lisboa concorre, assim, com cidades tão atraentes como ela. Tome nota das vantagens e desvantagens de cada uma e faça as suas apostas: a organização deverá anunciar a localização para 2019 no final de agosto.
No início de julho, o ECO noticiou que o Governo estaria a negociar com a organização do maior evento de tecnologia e empreendedorismo do mundo a continuidade do evento por mais 10 anos, numa lógica de cinco fixos mais cinco opcionais. De acordo com o Ministério da Economia, o Governo tem investido 1,3 milhões de euros por ano no evento. Já em termos de retorno, o evento trouxe mais de 300 milhões de euros por ano, só em serviços relacionados com alojamento e transportes prestados aos participantes.
Na moda, a capital portuguesa encheu os olhos da equipa de Paddy Cosgrave desde os primeiros tempos. Mas, a primeira vez que o Web Summit olhou para Lisboa foi por causa da Codacy. A startup liderada por Jaime Jorge saiu vencedora do Beta Award, o concurso de startups que a organização promove durante os dias de evento na edição de 2014, entre outros 199 projetos.
Paddy terá ficado mais atento ao que se passava em Lisboa e esse olhar coincidiu com os primeiros resultados da estratégia do país em constituir-se como um hub de inovação e empreendedorismo na Europa. Entretanto, desde o anúncio, a exposição das startups nacionais tem crescido e multiplicado a abrangência de iniciativas como a Startup Portugal, a estratégia nacional para o empreendedorismo. Outra das vantagens para a organização será o histórico dos eventos que, nos três anos, poucos problemas registaram.
Com o tempo, o Web Summit transformou-se numa enorme montra de Portugal para o mundo. E numa oportunidade de desenvolver a economia do país. “Penso que os responsáveis pelo Web Summit, que mudaram para Portugal a sede da organização, querem cá continuar. E penso que vamos conseguir um bom resultado”, disse o ministro da Economia Caldeira Cabral, em declarações aos jornalistas à margem do evento de apresentação do Startup Portugal+, a renovada estratégia nacional para o empreendedorismo, a 9 de julho.
Quanto ao ecossistema empreendedor português, a favor da escolha temos o desenvolvimento exponencial dos últimos anos: de acordo com dados avançados pela Rede Nacional de Incubadoras (RNI), encarregada de fazer o mapeamento de incubadoras a nível nacional, existiam, em meados de 2018, 135 incubadoras e aceleradoras de empresas em todo o território continental e ilhas. E todos os anos, desde 1990, o número aumenta. Se, no início dos anos 90, a média era de duas novas incubadoras por ano, este número chegou a 15 em 2013 e disparou para 19 em 2016, o ano mais bem-sucedido nesta matéria.
Espanha começou por anunciar, a nível local, a candidatura de Valência mas, entretanto, a estratégia de nuestros hermanos mudou. Na semana passada, e tal como o ECO noticiou, a candidatura espanhola passou a ser feita por três cidades — Valência, Madrid e Bilbau –, em bloco, suportada pelo Governo central e com um argumento de peso: o Mobile World Congress, maior evento de tecnologia de comunicações, em Barcelona, que costuma acontecer no final de fevereiro (a edição de 2019 é entre 25 e 28 desse mês).
Com uma assistência de mais de 107 mil participantes, o congresso é um dos trunfos espanhóis neste duelo ibérico. “O Governo apoia as três candidaturas para trazer para Espanha o maior congresso europeu de tecnologia digital”, segundo a informação à imprensa, acrescentando o “empenho total e apoio institucional” do executivo, sublinhando que Espanha aspira tornar-se numa “referência mundial nas novas tecnologias”, visto que já acolhe o Mobile World Congress anualmente.
Em 2016, Madrid contou com 3,36 mil milhões de euros de financiamento em startups, segundo o Financial Times, tendo a Google e a Amazon reforçado a sua presença na capital espanhola, nos últimos anos. Uma das referências dadas por Madrid para ilustrar a sua “startup scene” é a Cabify, empresa de transportes concorrente da Uber e que, em seis anos de existência, conta com mais de 900 colaboradores e presença em mais de 40 mercados.
Londres segue à frente nos rankings de melhores cidades para criar e fazer crescer startups na Europa. No top 15 do EU-Startups, a capital britânica é a melhor localização possível desde há anos e 2017 não foi exceção. O ranking é organizado com base na presença digital de cada cidade, o que pode ser um dado relevante para o Web Summit, já que o evento quer crescer ainda mais nos próximos anos.
Contra a escolha pode estar o iminente Brexit, que já levou algumas startups a reconsiderarem a sua presença em Londres. Mas, a favor, muitos números que fazem da capital britânica o grande hub tech do velho continente. É que só no Silicon Roundabout, o coração da techscene londrina que começou a desenvolver-se em 2008, há mais de 50.000 empregados, 30 aceleradoras e mais de 2.000 startups.
O ano passado, apesar das perspetivas de Brexit, a economia digital da capital europeia das startups continuou a desenvolver-se a passos largos e, só em 2017, o investimento de venture capital no Reino Unido alcançou o maior valor de sempre: 4,41 mil milhões de dólares, igualando as rondas de financiamento fechadas por startups na Alemanha, Espanha, França e Irlanda… todas juntas.
Paris reúne na cidade cerca de 35% das cerca de 10.000 startups existentes no país. Em 2016, o país contava com 233 incubadoras e 51 aceleradoras. Segundo dados de 2017, as startups francesas levantaram rondas de investimento no valor de 3,185 milhões de euros, em 743 acordos. Além disso, tem instalado na cidade o maior campus para startups do mundo: a Station F conta com cerca de 360 mil metros quadrados de espaço para pensar, criar e desenvolver ideias de negócio.
Outro dos grandes chamarizes para o Web Summit em relação à capital francesa pode ser a existência do La French Tech, estratégia do Estado para o empreendedorismo tecnológico.
A comunidade tecnológica organizada de startups francesas está, desde o ano passado, também em Portugal. Além de Lisboa, La French Tech está em países como o Brasil, os Estados Unidos, África do Sul, Rússia, Espanha e Reino Unido, entre outros.
Berlim é outra das opções que estão na mira da organização do evento de tecnologia e empreendedorismo. A capital alemã é exemplar no que toca à fundação e desenvolvimento de startups, sendo há anos uma das principais referências europeias no que toca a este setor de atividade económica.
Considerada um dos hubs mais fervilhantes da Europa — a cidade conta com mais de 50 aceleradoras e incubadoras, mais de uma centena de espaços de cowork e mais de 500 startups criadas por ano –, Berlim atrai talento do mundo inteiro e, dentro das startups, 43% dos trabalhadores já são estrangeiros. Este fator de atratividade faz da cidade um local aberto e diverso, sendo este um dos principais fatores de atração que o Web Summit poderá considerar na candidatura.
E se, em 2017, as novas empresas do Velho Continente conseguiram 16,1 mil milhões de euros de investimento (de acordo com o State of European Tech Report, da Atomico), só na primeira metade de 2017, investiram-se 1,58 mil milhões de euros em startups na Alemanha: 68% nasceram e vivem em Berlim. “Não há melhor sítio para captar dinheiro na Europa do que em Berlim”, garante Carl-Philipp Wackernagel, da Berlin Partner.
Segundo a Lusa, as cidades alemãs de Hamburgo e Munique também aparecem nas candidatas a acolher o evento. Até ao momento não se sabe de qualquer estratégia concertada do Governo alemão em fazer uma candidatura conjunta.
A possibilidade pode parecer a mais desfasada quando consideradas as anteriores mas, segundo um artigo publicado em março na revista Forbes, o Dubai é o novo “place to be” quando se fala no ecossistema empreendedor tecnológico. Num artigo publicado por um especialista em tendências de Silicon Valley na Ásia, a região do Dubai é o novo “céu” para as startups. O crescimento do golfo é comparado à ascensão de Singapura devido ao “ecossistema emergente” e ao “enorme potencial” além de, tanto a cidade do Dubai como a capital, Abu Dabi, se constituírem como enormes centros de inovação.
Este ecossistema fervilhante é justificado pela forte presença de cidadãos estrangeiros, um garante de inovação (tal como acontece em Singapura): diferentes backgrounds garantem diferentes soluções para problemas existentes. De acordo com um estudo da National Foundation for American Policy, divulgado pelo The Wall Street Journal, 51% dos unicórnios norte-americanos foram fundados por estrangeiros no país: casos como a Uber, a Tesla, o YouTube ou a Google são exemplos disso.
E há mais: ultimamente, os Emirados Árabes Unidos têm feito esforços mais estruturais para atrair e manter talento e startups: o parque de tecnologia Dubai Silicon Oasis é exemplo disso, com programas de apoio para empresas, capital seed e ainda uma “zona livre” de impostos. O que é que o Web Summit dirá desta concorrência de luxo?
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Londres, Berlim, Madrid ou Lisboa. Onde será o Web Summit em 2019?
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