Vieira Monteiro comprou dois bancos. E deu lucros de 2.000 milhões ao Santander desde 2012

Desde 2012 à frente do Santander Totta, Vieira Monteiro comprou dois bancos e ainda deu 2.000 milhões de euros de lucros aos espanhóis. Pelo meio travou batalhas com BCP e Governo. Mas sai a sorrir.

Vieira Monteiro será substituído por Pedro Castro e Almeida na liderança do Santander Totta. Portugueses vão continuar a liderar o banco dos espanhóis.Paula Nunes / ECO

Não há muitos banqueiros que podem dizer que compraram dois bancos. Mas António Vieira Monteiro pode. Comprou os problemáticos Banif e o Popular e com essas duas aquisições transformou o Santander Totta, de onde se prepara para dizer adeus ao cargo de presidente executivo, no maior banco privado em Portugal. Miguel Maya, CEO do BCP, tossiu…

Um dia, Ana Botín disse que o Totta é um exemplo para o grupo Santander e para ela própria. “A forma de gerar resultados é a correta. Parabéns!”, exclamou a todo-poderosa banqueira espanhola no início do ano passado, durante a inauguração da nova sede do banco em Lisboa. E percebe-se.

Vieira Monteiro, 72 anos, iniciou funções de CEO no banco em 2012, substituindo Nuno Amado que tinha ido para o BCP, isto numa altura em que Portugal já se encontrava numa situação de emergência económica e financeira. Mas a crise portuguesa não o impediu de entregar resultados aos espanhóis. E foram muitos. De lá para cá, o Santander Totta acumulou lucros de mais de 1.700 milhões de euros, mil milhões dos quais foram distribuídos pela casa-mãe sob a forma de dividendo. Nenhum outro banco em Portugal lucrou tanto neste período.

“Ao longo destes sete anos nós distribuímos mais de dois ‘bi’ de dividendos aos acionistas e isto passou pela época da crise, isso tudo. Isto significa que o banco não teve ajuda de ninguém, teve a capacidade de poder comprar duas instituições de crédito, o que resultou do banco ter capitais próprios suficientemente fortes que permitiram fazer essas operações sem ajuda de ninguém”, assinalou o próprio depois de se saber que iria ser substituído na liderança do banco por Pedro Castro e Almeida.

As mudanças no conselho de administração do Santander Totta foram aprovadas esta quinta-feira em assembleia geral de acionistas, ficando à espera da autorização do Banco Central Europeu (BCE). Além de Pedro Castro e Almeida, a nova comissão executiva será composta ainda por Manuel Preto será vice-presidente deste órgão, mantendo-se como CFO), Inês Oom de Sousa, Amílcar Lourenço, Isabel Guerreiro e Miguel Belo de Carvalho. Os três últimos nomes são novidade, embora todos venham de dentro do banco.

Lucros sobem

Fonte: Santander Totta

Soube conduzir o banco no meio da turbulência. Mais do que isso, enquanto umas instituições faliam ou tentavam não falir, Vieira Monteiro conseguiu passar por entre os pingos da tempestade no sistema financeiro nacional para fazer do Santander Totta um banco ainda maior, sabendo que tinha o amparo da casa-mãe, o maior banco da Zona Euro em termos de valor de mercado. E fê-lo não só por via orgânica. Também deve a expansão no mercado nacional às aquisições da parte boa do Banif, em 2015, por 150 milhões de euros, e do Popular Portugal, em 2017, incluído na compra do Popular España pelo Grupo Santander por apenas um euro.

"Ao longo destes sete anos nós distribuímos mais de dois ‘bi’ de dividendos aos acionistas e isto passou pela época da crise, isso tudo. Isto significa que o banco não teve ajuda de ninguém, teve a capacidade de poder comprar duas instituições de crédito.”

António Vieira Monteiro

Presidente executivo do Santander Totta

Adeus BPI, olá BCP

Com a aquisição do Popular Portugal, o Santander Totta “matou dois coelhos de uma cajadada” naquilo que é a sua presença no mercado nacional: descolou do BPI (que ameaçava o seu lugar após ter sido comprado pelos espanhóis do CaixaBank) e passou a discutir com o BCP o título de maior banco privado a operar por cá — o maior de todos continua a ser a Caixa Geral de Depósitos, o banco público.

Logo no dia em que foi anunciada a incorporação do Popular Portugal no Santander Totta, a 7 de junho de 2017, Vieira Monteiro reclamou o estatuto de “maior banco privado português em termos de crédito”. Não tardou a resposta dos rivais: “Somos o maior banco privado com base em Portugal”, ripostou Nuno Amado, então CEO do BCP, em fevereiro deste ano.

Totta ganha no crédito

Fonte: APB

Mas os números mostram como Santander Totta e BCP ombreiam pela liderança no mercado nacional, numa luta em que ambos os bancos podem dizer que são líderes: o primeiro ganha no capítulo do crédito concedido a clientes (40 mil milhões versus 33 mil milhões); o segundo bate o rival nos ativos (53,5 mil milhões versus 52,9 mil milhões).

O próprio Vieira Monteiro reclama louros com a sua aposta nos empréstimos às empresas, uma marca pessoal daquilo que foi a sua passagem pelo banco. Quando entrou em 2012, “as empresas representavam qualquer coisa como 10% no balanço do banco e os particulares 80 e tal por cento. Hoje as empresas representam 45% do nosso balanço, isso significa uma inversão daquela que foi a nossa política”, disse recentemente.

No final do ano passado, o banco tinha uma rede comercial composta por mais 600 balcões em Portugal, dos quais mais de uma centena vieram com a integração do Popular. E também aqui o Vieira Monteiro pode dizer que é líder. Trabalhavam na instituição mais de 6.700 funcionários, um incremento de 600 trabalhadores face ao ano anterior que se deve à compra daquele banco.

E perde nos ativos

Fonte: APB

O BCP não foi a única batalha que teve de travar. Durante anos manteve um braço-de-ferro com o Governo por causa dos contratos swaps vendidos a várias empresas públicas, num litígio iniciado em 2013 pela antiga secretária de Estado do Tesouro e Finanças, Maria Luís Albuquerque, e que terminou em abril de 2017 com uma dupla vitória para Vieira Monteiro.

Não só conseguiu um acordo com o Executivo de António Costa para que o Estado desistisse dos processos que corriam nos tribunais, e onde pedia a anulação dos contratos, como estes mantiveram os mesmos termos em vigor.

Por outro lado, no âmbito do mesmo acordo, o Santander Totta assinou um financiamento de longo prazo de 2,3 mil milhões de euros ao Estado para pagar os swaps. No fundo, aproveitou uma dor de cabeça para aumentar ainda mais o negócio do banco com um cliente que tem fama de bom pagador. Discreto como sempre, Vieira Monteiro disse na altura que o acordo não trouxe ganhos para o seu banco.

Vieira Monteiro prepara-se para passar a pasta a Pedro Castro e Almeida. Apesar da mudança na cúpula do banco, a liderança do Santander Totta vai continuar a falar português, a mesma língua que falaram os CEO do banco que é dos espanhóis desde 2000.

Aos 51 anos, Pedro Castro e Almeida vai assumir a presidência executiva de uma casa que conhece muito bem. É membro do conselho de administração há mais de uma década, tendo sido responsável no mandato que termina este ano pela rede de empresas e negócio tradicional, bem como pela gestão de ativos e seguros. Casado e com uma família numerosa (tem cinco filhos e dois enteados), nasceu num berço ligado à banca. O pai foi quadro do Totta e o irmão Luís Castro e Almeida lidera o negócio do espanhol BBVA em Portugal.

De saída da liderança executiva do banco, Vieira Monteiro assegura ao seu sucessor que deixa um Santander Totta preparado para o futuro e bem maior do que quando assumiu a batuta da instituição em 2012 . “Há sete anos quando entrei o banco não era quase nada“, afirmou.

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