Mais valiosa e menos endividada. O que mudou na EDP desde o lançamento da OPA?

A oferta pública de aquisição foi lançada há 11 meses e pode morrer esta quarta-feira. A elétrica liderada por António Mexia tornou-se mais valiosa, mas menos rentável desde então.

Passou quase um ano desde o maior acionista da EDP, a empresa estatal chinesa China Three Gorges, anunciou ao mercado a intenção de comprar a totalidade do capital da elétrica e, por consequência, da eólica EDP Renováveis. Dada a complexidade do processo, a empresa liderada por António Mexia não parou a atividade e muito mudou desde o lançamento da oferta pública de aquisição (OPA), a 11 de maio de 2018.

A EDP é hoje uma empresa mais focada na energia (e na dívida) verde, com maior capitalização de mercado e (ligeiramente) menos endividada. Apesar de os acionistas não terem sofrido na sua remuneração, é também, no entanto, menos rentável. A estrutura acionista também não é a mesma e, entre as novas adições, há maior ativismo.

Portugal trava recorde do Brasil e das Renováveis

No final de 2018, a EDP era uma empresa com menores lucros que um ano antes. No dia antes de ser lançada a OPA, foi conhecido que o lucro do primeiro trimestre de 2018 tinha caído 23% para 166 milhões de euros. Os dados do total do ano confirmaram a tendência, que a empresa atribui a questões regulatórias em Portugal, ou seja, à provisão de 285 milhões de euros devido às sobrecompensações dos CMEC.

Os lucros da EDP caíram para 519 milhões de euros em 2018, menos 53% que no ano anterior. A contribuir para a quebra nos resultados esteve a atividade em Portugal, que registou prejuízo pela primeira vez em mais de duas décadas (excluindo a EDP Renováveis). Em sentido contrário, os lucros recorde da EDP Brasil e da Renováveis travaram uma queda maior.

Dividendos estáveis com perspetiva de subida

A queda nos lucros não travou a remuneração dos acionistas. A EDP anunciou que irá manter o pagamento de 0,19 euros por ação em dividendos, igual ao valor entregue no ano anterior. E ainda foi mais longe. Na apresentação do plano estratégico 2019-2022, anunciou que este será o valor mínimo de dividendo nos próximos anos e subiu a meta para o rácio de payout (proporção dos lucros atribuída em remuneração aos acionistas) em 10 pontos percentuais para 75% a 85%. O objetivo é entregar três mil milhões de euros em dividendos até 2022.

Maior expansão na América do Norte, mini-hídricas saem do portefólio

O investimento da EDP ascendeu a 2.031 milhões de euros em 2018, especialmente focado na energia eólica e transmissão no Brasil. Em Portugal, o grande investimento da empresa é a central de energia eólica flutuante a 20 quilómetros da costa de Viana do Castelo. O projeto Windfloat Atlantic já era nascido quando a OPA foi lançada, mas entrou em 2018 na fase pré-comercial.

Lá fora, o investimento de 1.275 milhões de euros em expansão maioritariamente na América do Norte (59%), mas também na Europa (27%) e no Brasil (13%). Após a EDP ter ganho uma série de contratos ao longo do último ano, a capacidade eólica onshore em construção atingiu os 344 megawatts, dos quais 58% nos EUA. Em construção está também o parque eólico offshore Mayflower Wind Energy LLC, em consórcio com a petrolífera Shell.

Mas houve desinvestimentos e alienações ao longo do ano passado. O desinvestimento líquido atingiu 534 milhões de euros, no ano passado. Já entre as alienações, destacou-se a venda Small Hydro, que detém 21 centrais mini-hídricas, à empresa Aquila Capital por 164 milhões de euros. A empresa vendeu também, à Axium Infraestruture, 80% de ativos eólicos onshore nos Estados Unidos e Canadá, correspondestes a 499 megawatts de capacidade e a três parques eólicos.

Produção mais renovável para os mesmos clientes

A capacidade instalada total do grupo EDP atingiu 27,2 gigawatts em dezembro de 2018, 74% dos quais em energias renováveis, em resultado do comissionamento e 825 megawatts de nova capacidade eólica, aliado à venda de uma posição maioritária em parques eólicos e à venda de centrais mini-hídricas em Portugal e no Brasil.

Na produção total — que cresceu 3% para 71,9 gigawatts por hora –, o peso de renováveis aumentou 10 pontos percentuais em termos homólogos, para 66% em 2018. O portfólio de contratos com clientes manteve-se estável em 11,4 milhões, distribuídos entre a Península Ibérica e Brasil.

Dívida cai e torna-se mais verde

A EDP tem atualmente uma dívida de 13,5 mil milhões de euros, mas é menor que quando foi lançada a OPA. A quebra num ano foi de 400 milhões de euros (3%) e levou a uma redução do rácio da dívida face ao EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) para quatro vezes. A meta de Mexia é que a dívida líquida atinja os 11,5 mil milhões de euros em 2022 e um rácio de três vezes.

Além da redução do endividamento, a EDP também se focou em mudanças no perfil da dívida. No ano passado, tornou-se a primeira empresa em Portugal a emitir obrigações verdes (ou green bonds, em inglês) com a colocação de 600 milhões de euros. Já este ano, estreou no mercado português a dívida verde híbrida com a emissão de mil milhões de euros a 60 anos.

Acionistas mais interventivos

A 1 de outubro de 2018, o fundo norte-americano Capital Group, que era o segundo maior acionista da elétrica com quase 10% do capital, anunciou a redução da posição para menos de 3%. Duas semanas depois, informava o mercado tinha vendido a totalmente da participação na empresa. A saída do Capital Group deu espaço à entrada de um outro fundo norte-americano, mas com um carisma bem diferente.

O fundo Elliott, criado por Paul Singer, entrou no capital da EDP em novembro do ano passado e detém atualmente 2,45% das ações. Conhecido por ser um acionista ativista (o que lhe deu a alcunha de abutre) manifestou-se em fevereiro contra a OPA em curso e fez várias sugestões de mudanças. Mexia já respondeu a algumas no plano estratégico 2019-2022. Mais recentemente, fez uma proposta que será discutida na assembleia-geral desta quarta-feira e que pode ditar a morte da OPA.

Cotação acima da oferta

Cada ação da EDP valia 3,11 euros antes do lançamento da OPA, enquanto um título da EDP Renováveis negociava nos 7,845 euros. A CTG oferecia 3,26 euros por ação da primeira e 7,33 euros por ação da segunda. Assim que o anúncio foi feito, os investidores deixaram claro que queriam mais pelas ações. O valor disparou tendo atingido, no caso da elétrica, 3,55 euros, e no da eólica, 8,06 euros (máximos históricos). O ano de negociação em bolsa foi de altos e baixos, sendo que o plano do fundo Elliott — que considera que as ações podem atingir os 4,33 euros — voltou a dar um novo impulso.

Desde 11 de maio de 2018, a EDP valorizou mais de 10% para 3,44 euros por ação e uma capitalização de mercado de 12.593 milhões de euros (mais 1.358 milhões que antes do lançamento da OPA). A EDP Renováveis ganhou 11,5% para 8,75 euros por ação e 7.632 milhões de euros de capitalização de mercado (mais 788 milhões de euros).

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Mais valiosa e menos endividada. O que mudou na EDP desde o lançamento da OPA?

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião