CGD pode rever contas. Lucro 157 milhões acima do anunciado
Paulo Macedo anunciou que a CGD aumentou os lucros para 282,5 milhões no semestre. Mas as contas devem ser revistas para contabilizar vendas em Espanha e África do Sul. Ainda falta 'ok' do regulador.
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) apresentou no final de julho um lucro de 282,5 milhões de euros relativo ao exercício da primeira metade do ano, mas as contas do semestre ainda não estão fechadas. O resultado final poderá ter de ser revisto em alta pelo banco público, estando em cima da mesa a possibilidade de engordar mais 157 milhões de euros, o que seria uma boa notícia para os dividendos do Estado.
Com o processo de venda das subsidiárias em Espanha e África do Sul perto do fim, caso os reguladores deem luz verde a ambas as transações até ao dia 30 de setembro, a CGD poderá ter de refletir o impacto das alienações dos dois bancos nas contas do primeiro semestre devidamente auditadas e fechadas.
Foi isto que explicou José de Brito, administrador financeiro da CGD, durante a conference call com os analistas do dia 31 de julho, um dia depois de Paulo Macedo ter anunciado uma subida de 45% do lucro no primeiro semestre.
“Como sabem, estas informações ainda não são auditadas, mas o processo de auditoria vai decorrer até final de setembro. Se a aprovação regulatória para a venda destas duas subsidiárias ocorrer antes do fecho do processo de auditoria, precisaremos de rever as contas do primeiro semestre dado que isto constitui um evento subsequente ajustável“, começou por dizer José de Brito aos analistas.
“Assim, no relatório final que vamos publicar até 30 de setembro, pode acontecer que esta alteração tenha de ser refletida. Se for esse o caso para ambas as subsidiárias, esperamos um impacto positivo no lucro dos primeiros seis meses de 157 milhões de euros, que tem a ver com a diferença entre o preço que será pago pelos compradores das duas subsidiárias e o preço que estava registado nas nossas contas, porque, como sabem, nós fizemos uma provisão muito substancial no final de 2017 relativamente a estes dois processos de venda”, completou o administrador na conference call.
Ao ECO, fonte oficial do banco confirmou este cenário, lembrando que “o valor pode ainda ser alvo de algum ajustamento até ao momento final da venda”.
“A Caixa continua à espera das autorizações regulamentares habituais nestes processos (concorrência e banco central) na expectativa que, em ambos os casos, os processos se concluam até final do ano”, acrescentou a mesma fonte.
Em contabilidade, são considerados eventos subsequentes aqueles que ocorrem entre o fim do período do exercício e o anúncio dos resultados finais. Em determinadas situações, um evento subsequente pode obrigar a empresa ou banco a alterar as contas.
No caso da Caixa, se obtiver nas próximas semanas as autorizações dos reguladores para a venda do espanhol Banco Caixa Geral ao Abanca, por 368 milhões de euros, e do sul-africano Mercantile Bank ao Capitec Bank, por 201 milhões, a mais-valia líquida das duas transações poderá traduzir-se num crescimento do lucro do semestre passado dos 285 milhões já anunciados por Paulo Macedo para perto dos 440 milhões de euros.
Numa altura em que a banca antecipa tempos difíceis devido aos juros baixos do Banco Central Europeu (BCE), incluindo o banco público, este encaixe extraordinário poderá ser boa notícia para as contas públicas. A Caixa pagou este ano os primeiros dividendos ao Estado desde 2010, no valor de 200 milhões de euros, após lucros de 500 milhões em 2018. Com os bons resultados no primeiro semestre, há sinais positivos para um dividendo mais “gordo” no próximo ano, mantendo-se um payout de 40%.
Primeira ida ao mercado já no início de 2020
A Caixa vai ter de emitir 2.000 milhões de euros em dívida subordinada até ao final de 2022 no âmbito do chamado MREL (requisito mínimo de fundos próprios e créditos elegíveis), que obriga os bancos europeus com importância sistémica a constituir uma almofada financeira adicional para fazer face dificuldades. E a primeira emissão pode acontecer já no início do próximo ano, revelou José de Brito, na mesma conference call com os analistas.
“Ainda estamos a trabalhar no tamanho e timing [da operação], mas a nossa expectativa é sermos capazes de talvez ir ao mercado no primeiro trimestre de 2020. Ainda não decidimos a subordinação da emissão. Ainda estamos a trabalhar nisso e, assim que tivermos um plano de financiamento mais claro, iremos divulgá-lo. Admito que isso poderá acontecer nas contas do terceiro trimestre”, referiu o administrador financeiro.
Sobre este tema, o banco adiantou ao ECO que a operação está “sujeita às condições de mercado”. Havendo condições, “à partida será um tamanho benchmark (mínimo 500 milhões de euros) de dívida senior preferencial ou não preferencial”. Mas “o montante e o formato não estão totalmente definidos”, disse a mesma fonte.
Na apresentação dos resultados, Paulo Macedo disse que o valor era “perfeitamente acomodável” com o plano de financiamento. Mas deixou críticas a esta imposição regulatória, referindo que a Caixa tem excesso de liquidez e “não precisa da dívida que vai emitir no âmbito do MREL”.
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