Tecnologia, luxo e saúde. As apostas para investir na recuperação pós-Covid
Bancos e gestoras de ativos apontam para as ações que consideram ter maior potencial de ganhar com as alterações no trabalho, entretenimento ou consumo que a pandemia está a causar.
A pandemia de Covid-19 já está a afetar profundamente as economias e, consequentemente, as empresas e investidores. Apesar da recuperação das últimas semanas, os mercados financeiros continuam sob forte pressão. No entanto, há setores que poderão beneficiar da retoma após a crise, com os bancos a olharem especialmente para a tecnologia, luxo e (sem surpresas) saúde.
Se há consenso entre os analistas é que a saúde é um dos setores que sai por cima da pandemia. “A saúde ganha protagonismo durante a crise do Covid-19. As empresas reorganizaram o seu posicionamento, desinvestindo de subsetores mais maduros e posicionando se noutros com maior potencial“, explica João Pisco, analista financeiro do Bankinter, na apresentação da plataforma de negociação de ativos Bankinter Broker.
“A esta rotação benéfica, soma-se a evolução favorável dos pipelines de produtos em desenvolvimento que dão uma boa visibilidade em termos de receitas nos próximos anos”, diz o analista, referindo que as ações favoritas para o banco são a francesa Sanofi e as alemãs Bayer e Fresenius.
A perspetiva positiva sobre o setor é partilhada pelo Novo Banco. No caso da instituição financeira, a aposta levou à criação de um novo produto: o depósito estruturado NB ESG Inovação Biofarmacêutica, que tem como ativos subjacentes empresas que dedicam a atividade à investigação e desenvolvimento do setor farmacêutico e da biotecnologia.
"A indústria farmacêutica, através da inovação tecnológica, nomeadamente a biotecnologia, apresenta-se como o setor na linha da frente para liderar a almejada recuperação económica pós-Covid19.”
Em especial, está indexado à cotação da alemã Merck, da norte-americana AbbVie, da suíça Novartis e da norte-americana Amgen. “A indústria farmacêutica, através da inovação tecnológica, nomeadamente a biotecnologia, apresenta-se como o setor na linha da frente para liderar a almejada recuperação económica pós-Covid19“, sublinha o Novo Banco.
Apesar das dúvidas que persistem sobre a forma como irá decorrer o regresso à normalidade (ou a adaptação a uma nova normalidade), é unânime que estará intimamente dependente da evolução da ciência. Mas a saúde não é a única área que o vírus alterou. Toda a forma de viver, em particular com o teletrabalho, se alterou profundamente durante o confinamento pondo em foco a importância da tecnologia.
“Em todo o mundo, os bloqueios e quarentenas estão a ser levantados lentamente, mas os consumidores e a atividade comercial permanecem numa posição frágil. Acreditamos que os investidores devem jogar de forma tanto ofensiva como defensiva durante esta nova fase de reabertura. Na ofensiva, o setor tecnológico deve continuar a liderar“, diz Mona Mahajan, estratega de investimento da Allianz Global Investors.
"Acreditamos que os investidores devem jogar de forma tanto ofensiva como defensiva durante esta nova fase de reabertura. Na ofensiva, o setor tecnológico deve continuar a liderar.”
Ainda antes do vírus, a tecnologia já era um setor em forte ascensão e com um desempenho em bolsa acima do mercado. E quando a pandemia deitou os mercados por terra, mostrou-se mais resiliente.
O Bankinter concorda com a recomendação, dizendo que o setor tem sido um “insólito ativo de refúgio” na pandemia. E aponta que as empresas preferidas são: Amazon, Microsoft e Alphabet por serem líderes mundiais; Salesforce por ganhar com o teletrabalho; e ainda Netflix, Facebook, Apple e Activision Blizzard por beneficiarem da procura por entretenimento online. A estas juntam-se ainda ASML e TSMC no setor de semicondutores (devido à forte procura por chips) e a Intuitive Surgical, empresa de biotecnologia líder em cirurgia robótica.
Da mesma forma, as mudanças que a Covid-19 geram na sociedade não se prendem apenas com o teletrabalho ou o entretenimento, mas também com o consumo. “Tendências estruturais da população, fatores sociais e novos padrões de consumo suportam o crescimento do setor do consumo de luxo”, diz Pisco.
"Tendências estruturais da população, fatores sociais e novos padrões de consumo suportam o crescimento do setor do consumo de luxo. O impacto da Covid 19 será temporário e gera uma oportunidade de investimento atrativa.”
“O impacto da Covid 19 será temporário e gera uma oportunidade de investimento atrativa”, sublinha. No segmento do consumo de luxo, as ações onde o analista vê maior potencial de valorização são a LVMH (holding francesa dona da Louis Vuitton), a Kering (detentora de marcas como Gucci ou Yves Saint Laurent), a Adidas (o segundo maior grupo de roupa desportiva, com posição dominante na UE e crescente nos EUA e China) e a L’Oreal (líder em cosmética com 36 marcas).
Apesar de verem potencial de crescimento nestes setores, os analistas também sublinham que poderá haver oportunidades em comprar títulos mais penalizados pela crise. “Os mercados já começaram a refletir o longo prazo e as oportunidades de crescimento que a tecnologia ou a saúde poderiam oferecer num mundo pós-coronavírus”, refere Mahajan.
“Os investidores poderão encontrar as oportunidades mais atraentes de recompensa face ao risco em certos ativos de rendimento fixo, incluindo obrigações convertíveis em ações e high yield (“anjos caídos”), bem como nos setores de ações cíclicas mais atrasados (incluindo energia, finanças e até viagens) e lazer”, acrescenta a estratega de investimento da Allianz Global Investors.
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