Facebook pisa território da Amazon. Vem aí um duelo no e-commerce
O lançamento do Facebook Shops colocou a maior rede social do mundo em rota de colisão com a gigante Amazon. Mas enquanto o Facebook vence na conveniência, a Amazon ganha na perceção.
O Facebook oficializou a entrada no negócio do e-commerce. Com o Facebook Shops, a maior rede social do mundo passou a permitir às empresas criarem uma “montra virtual” para exporem e venderem os seus produtos. O que passaria despercebido como mera novidade representa, na verdade, mais do que isso. Isto porque as novas “lojas” do Facebook poderão desencadear um duelo de titãs.
Desde logo, Mark Zuckerberg está de olho na Amazon. Apesar de o grupo ainda não estar formalmente presente em Portugal, disponibilizando produtos aos portugueses apenas através dos armazéns em países como Espanha e Alemanha, a Amazon é reconhecida mundialmente como o sítio onde ir por quem procura comprar online. É no marketplace da Amazon que milhões de comerciantes apresentam e vendem os seus produtos, pagando uma taxa à Amazon pela intermediação.
Já o Facebook é visto pelos utilizadores como uma ferramenta de conexão à família e aos amigos, um local para ver as últimas notícias ou, cada vez mais, um ponto de contacto com as marcas. A empresa espera, por isso, aproveitar a vasta audiência da plataforma para tentar ajudar os comerciantes a escoarem os stocks, ao mesmo tempo que impulsiona o tempo de utilização das suas aplicações e recolhe informação sobre os hábitos de consumo, dando ainda mais fôlego ao modelo de negócio que a tornou numa das maiores empresas do mundo.
É na relação dos utilizadores com as marcas presentes na plataforma que surge a nova aposta do Facebook. Com o Facebook Shops, o mercado passa a dispor de um novo local para impulsionar a visibilidade dos produtos perante um audiência potencial de cerca de 2,6 mil milhões de pessoas em todo o mundo, que corresponde ao número de contas mensais ativas no Facebook. Assim, numa altura em que o comércio online está em alta por causa da pandemia, a empresa fundada por Mark Zuckerberg propõe-se a desempenhar o mesmo papel de intermediação da Amazon. E sem cobrar taxas aos vendedores.
Segundo explicou fonte da rede social ao ECO, as lojas do Facebook já estão disponíveis para as pequenas e médias empresas (PME) também em Portugal. A funcionalidade permite mostrar e vender produtos através da plataforma do Facebook, mas remete para a loja online do próprio comerciante, onde os clientes podem depois concluir a compra. A novidade no mercado português fica, por isso, aquém do que foi anunciado nos EUA, em que a rede social passa agora a disponibilizar uma experiência de compra total, sem sair da plataforma, cobrando uma taxa aos clientes pelo processamento da transação e para suportar um sistema antifraude.
Assim sendo, o Facebook Shops vai colocar a rede social gerida por Mark Zuckerberg em concorrência direta com marketplaces como a Amazon e até o eBay, sobretudo nos EUA e na Europa ocidental. Isto porque, disse o fundador ao Financial Times, um dos obstáculos ao lançamento desta novidade é o combate à contrafação. E, quanto a isso, o Facebook admite ser capaz de garantir mais facilmente a integridade dos comerciantes nestas regiões, onde dispõe também de mais recursos.
Facebook Shops é solução “chave na mão”. Mas Amazon tem vantagem
Filipe Carrera, coordenador da pós-graduação em marketing digital do Instituto, não acredita que o Facebook Shops se revele um game changer no imediato. Em conversa com o ECO, o professor argumenta que a novidade do Facebook é “o revamp [renovação] de um produto já existente há vários anos”, referindo-se ao Facebook Marketplace, uma área de classificados na rede social que emula o que faz, por exemplo, o OLX.
“É um produto que já existia há muito tempo”, prossegue Filipe Carrera. Mas “não havia massa crítica”, reconhece. Na visão do professor do IPAM, a nova área de lojas no Facebook “vai funcionar mais como uma montra” e deve agora atrair mais comerciantes, independentemente de já estarem ou não presentes na plataforma concorrente, da Amazon. “O comerciante tem de estar onde estão os consumidores. Se há consumidores na Amazon, tem de estar na Amazon. Se há no Facebook, tem de estar no Facebook”, salienta, lembrando que, por exemplo, no setor hoteleiro, os estabelecimentos estão presentes em diversas plataformas de booking.
O Facebook Shops deverá, assim, ser também mais apelativo às PME, que são o foco da empresa nesta altura, e não tanto às grandes empresas, aponta Filipe Carrera. “Fundamentalmente, é uma forma de melhorar o acesso a um conjunto imenso de pequenos negócios”, aponta, sobretudo nesta fase, em que a pandemia criou condições para impulsionar o comércio eletrónico em todo o mundo. “Acelerámos um processo de transformação digital de cinco anos em dois meses”, refere.
[O Facebook Shops] é uma solução chave na mão muito conveniente para empresas.
Contas feitas, para o especialista, o Facebook Shops beneficia as PME por ser uma “solução chave na mão”. A palavra-chave é “conveniência”, assim como a possibilidade de aceder a um público e a um tipo de funcionalidade que, vulgarmente, apenas está ao alcance de grandes grupos.
Ainda assim, para Filipe Carrera, a Amazon parte em vantagem nesta luta de titãs. E tudo por uma questão de perceção da plataforma: “O Facebook sempre teve dificuldades em fazer vendas. Nunca foi associado como uma comunidade de venda de produtos. Foi sempre associado como comunidade de elementos pessoais, de opiniões, não uma comunidade onde se pode comprar e vender”, indica. Por isso, “a Amazon tem uma vantagem”: “A primeira coisa que nos vem à cabeça é que é uma loja gigante”, conclui.
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