Banco Montepio fecha 31 balcões. Gestão justifica encerramentos com “novo ciclo”

Banco liderado por Pedro Leitão vai ajustar rede de distribuição com a fusão de 31 balcões redundantes geograficamente para responder aos desafios do novo contexto e acelerar a digitalização.

Banco Montepio é liderado por Pedro Leitão.DR

O Banco Montepio vai reduzir a sua rede de agências naquilo que considera ser um “ajustamento a um novo ciclo”. Já foi mesmo anunciado aos trabalhadores que vai avançar com a fusão de 31 balcões “redundantes” geograficamente. Com esta medida, o banco liderado por Pedro Leitão pretende responder aos desafios do novo contexto, impactado pela pandemia, tendo como objetivo de acelerar a digitalização e de aumentar a eficiência da instituição. Trabalhadores foram apanhados de surpresa com a decisão.

O banco já confirmou ao ECO essa medida, mas sem adiantar quais as agências em causa nem o número de trabalhadores que poderão ser afetados com a redução de balcões.

“A dinâmica competitiva na banca alterou-se de forma substancial nos últimos anos”, começa por justificar a instituição financeira depois de questionada pelo ECO. “Além da constante produção regulamentar, ou das taxas de juro historicamente baixas, servir bem os clientes constitui o maior desafio para os bancos. A dinâmica da relação e as expectativas dos clientes sobre o serviço prestado evoluíram de forma acelerada, marcadas pela evolução tecnológica e pelo espaço ocupado pelo digital, onde os bancos têm sido followers”, acrescenta.

Neste cenário, o Banco Montepio diz que pretende “acelerar o passo rumo a um novo paradigma de relação, ao mesmo tempo que se ajusta aos desafios de um novo contexto, tendo como objetivos acelerar a transição digital, ajustar o modelo de serviço e aumentar a eficiência”. E isto “a bem da sustentabilidade da operação“.

O banco chegou a março deste ano com 328 balcões, pelo que com esta medida irá reduzir em cerca de 10% a sua rede. Do ponto de vista operacional, já vinha enfrentando um contexto desafiante que se tornou ainda mais evidente com a pandemia de Covid-19. Viu os lucros caírem 17% no primeiro trimestre para 5,4 milhões de euros, com as imparidades para fazer face à crise a ascenderem a mais de 15 milhões.

Além do ajustamento da rede de balcões, com a fusão de 31 agências redundantes “devido à sua proximidade geográfica”, o Banco Montepio anunciou esta manhã aos trabalhadores, através de uma comunicação interna com o título “Ajustamento a um novo ciclo”, que vai avançar com mais ações no mesmo sentido:

  • Robustecer o modelo de negócio, reforçando a aposta em produtos com maior valor acrescentado para o cliente;
  • Acelerar a transição digital, tanto nos processos internos, como nas plataformas de relação com clientes;
  • Aumentar a eficiência, nomeadamente através da revisão dos processos e dos normativos internos;
  • Implementar novos conceitos e novas formas de trabalhar, que valorizem a colaboração e a flexibilidade, promovendo um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

“Quando a incerteza é o traço dominante do novo normal, a única certeza é a de que não vamos baixar os braços”, refere a comissão executiva liderada por Pedro Leitão, recém-chegado ao banco, no comunicado enviado aos trabalhadores.

Reforça ainda que está trabalhar no sentido de construir um “Banco Montepio mais forte e mais sustentável, capaz de enfrentar o futuro”.

Ao ECO, o banco frisa que a transição digital que agora quer acelerar é um processo que já foi iniciado, “com impactos bastante positivos na vida financeira dos seus clientes”, destacando-se a abertura de contas online para as empresas, a plataforma para pedidos de moratórias 100% digital e ainda a assistente virtual M.A.R.I.A..

Trabalhadores surpreendidos e perplexos

A notícia da redução de balcões apanhou a comissão de trabalhadores e o sindicato de surpresa. “Não deixamos de revelar a nossa perplexidade porquanto estas propostas não foram previamente enviadas à comissão de trabalhadores para análise ponderada, com tudo o que esta estrutura de trabalhadores pode contribuir para a construção e análise destas ou de outras propostas que possam constituir um incentivo em inovação, mas nunca em prejuízo dos trabalhadores”, refere a comissão de trabalhadores em comunicado a que o ECO teve acesso.

Esta estrutura de trabalhadores questiona se não existirão “outros planos” de ajustamento no banco que desconhece, perguntando ainda se já se pode antecipar qual o desfecho da assembleia geral no ponto sobre a “política de implantação geográfica”.

O Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) adianta que tomou conhecimento da reestruturação do banco através da comunicação social, “facto e prática que, obviamente, não podemos deixar de repudiar”.

“Num momento em que os bancários estiveram e estão sempre na linha da frente, ao longo de todo o estado de emergência e da atual situação de calamidade, não podemos deixar de salientar que é particularmente injustificável que, neste grave período da história do nosso país, os trabalhadores sejam alvo de tentativas palacianas que pretendem fazer tábua rasa da dedicação, empenho e profissionalismo dos bancários”, refere o sindicato em comunicado.

“Desenganem-se todos os que pensam aproveitar a pandemia para, no recato dos seus gabinetes de administração, ignorarem ou menosprezarem os legítimos interesses dos trabalhadores (…) desenhando reestruturações que transferem de forma assimétrica os custos para os outros“, sublinhou o sindicato liderado por Paulo Gonçalves Marcos.

(Notícia atualizada às 17h20 com reação da comissão de trabalhadores e do SNQTB)

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