Três testes a vacinas contra a Covid-19 pararam, mas há mais 200 a serem desenvolvidas

Há quase 200 vacinas a serem desenvolvidas contra a Covid-19, sendo que algumas estão na fase 3 dos ensaios. Contudo, há pelo menos três que já foram suspensos, uma das quais retomada entretanto.

Uma vacina pode levar anos a ser desenvolvidas, mas a urgência da descoberta da vacina contra a Covid-19 fez acelerar todo o processo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem quase 200 vacinas a serem desenvolvidas atualmente, sendo que parte destas está já em fase 3, a última etapa antes de chegar aos reguladores para aprovação. Mas nem sempre os ensaios clínicos correm bem e a identificação de reações adversas já levou à suspensão de três testes clínicos.

No início de setembro, a farmacêutica AstraZeneca decidiu suspender os testes da fase final da vacina que está a desenvolver, em parceria com a Universidade de Oxford, contra o vírus SARS-CoV-2. Foi detetada uma reação adversa grave num voluntário do Reino Unido, o que colocou em causa a segurança do fármaco. O paciente desenvolveu mielite transversa, uma doença inflamatória de ordem neurológica que normalmente afeta a massa cinzenta e a medula espinhal e cuja causa não é completamente conhecida, mas que pode estar associada a infeções virais, segundo Stat News, um jornal norte-americano especializado em medicina.

Na altura, a farmacêutica frisou que a suspensão se tratava de “uma ação de rotina, que deve acontecer sempre que houver uma doença potencialmente inexplicada num dos ensaios, enquanto esta é investigada”, de forma a garantir que é mantida “a integridade dos ensaios”. Os ensaios clínicos acabariam por ser retomados dias depois, a 12 de setembro, com a AstraZeneca a garantir que era seguro prosseguir. Apesar da paragem, esta é considerada uma das vacinas mais promissoras atualmente em desenvolvimento. A Comissão Europeia já reservou antecipadamente 300 milhões de doses da futura vacina, estando neste lote incluídas 6,9 milhões de doses para Portugal.

Os alarmes voltaram a soar esta semana, após a Johnson & Johnson ter anunciado que interrompeu “temporariamente” a fase 3 dos ensaios clínicos da sua potencial vacina contra a Covid-19, devido a uma doença ainda por explicar num dos participantes”, declarou o grupo, em comunicado. “Eventos adversos, mesmo aqueles que são sérios, constituem uma parte esperada de qualquer estudo clínico, especialmente estudos grandes”, sublinhou a Johnson & Johnson.

A farmacêutica norte-americana, que iniciou a 23 de setembro a terceira fase dos ensaios clínicos, indicou que “a doença do participante está a ser avaliada” pelos médicos e declinou avançar mais pormenores para “respeitar a privacidade deste participante”. Tal como a vacina da AstraZeneca esta é também um das vacinas mais promissoras, pelo que a instituição liderada por Ursula von der Leyen avançou com o direito de comprar inicialmente 200 milhões de doses de vacinas, sendo que poderá ainda adquirir mais 200 milhões caso se prove que vacina é “segura e eficaz”. A confirmar-se serão 400 milhões de vacinas para os 27 Estados-membros da UE.

Um dia depois, foi a vez da farmacêutica Eli Lilly anunciar a suspensão de um ensaio clínico do seu tratamento experimental com anticorpos contra a Covid-19, por razões de segurança não detalhadas. “Sabemos que, por precaução, o comité independente de vigilância sanitária do ensaio ACTIV-3 recomendou uma pausa nos recrutamentos”, declarou um porta-voz à AFP, citado pela Lusa, aludindo a um ensaio envolvendo doentes com a Covid-19 hospitalizados.

Este fármaco tem por base o mesmo tipo de tratamento que foi administrado ao presidente dos Estados Unidos da América Donald Trump. São anticorpos de síntese fabricados especificamente para neutralizar o coronavirus responsável pela doença, que são injetados de forma intravenosa e funcionam como uma espécie de substitutos do sistema imunitário. Mas nem todos os doentes têm acesso a tratamentos experimentais e, mesmo os que têm, correm riscos. Dada a urgência da descoberta da vacina, a indústria farmacêutica está a fazer pressão junto da União Europeia para ficar isenta de ações judiciais caso se detetem problemas com algumas das vacinas que estão a ser desenvolvidas contra a Covid-19.

Que outras vacinas estão já em fase avançada?

É a “corrida” mais observada do momento. A “corrida” global para uma vacina contra a pandemia do novo coronavírus conta atualmente com 193 potenciais vacinas contra a Covid-19: 151 em avaliação pré-clínica (sem testes em humanos) e 42 em avaliação clínica (com testes em humanos, em diferentes etapas – fases 1, 2 e/ou 3), de acordo com os últimos dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicados a 2 de outubro.

Destas 193 vacinas, existem pelo menos 11 na fase 3 de ensaios clínicos, quatro das quais exclusivamente dedicadas a esta fase, tendo finalizado totalmente as fases 1 e 2, segundo o rastreio de vacinas realizado pelo The Guardian (acesso livre, conteúdo em inglês) baseado no mesmo documento da OMS. Esta terceira e última fase consiste na testagem alargada da potencial vacinal e é crucial para aferir efeitos secundários, de modo a concluir se é eficaz e segura para a comercialização massificada e uso generalizado.

Além das vacinas da AstraZeneca/Oxford e da Johnson & Johnson, também a vacina desenvolvida pela biotecnológica alemã BioNTech em conjunto com a norte-americana Pfizer está numa fase avançada de investigação. Esta foi bem tolerada em testes iniciais realizados em humanos. Por isso, a Comissão Europeia concluiu as negociações preliminares para comprar 200 milhões de doses desta vacina.

Neste leque encontra-se ainda a vacina desenvolvida pelo Instituto de Produtos Biológicos de Wuhan e pela empresa estatal chinesa Sinopharm que começou os testes da fase 3 a 16 de julho com uma amostra de 15 mil voluntários. Esta vacina já está mesmo a ser administrada em profissionais de saúde, trabalhadores envolvidos na prevenção da propagação do novo coronavírus e funcionários dos postos fronteiriços e aduaneiros.

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