5ª Conferência: Da inteligência artificial à crise nos cuidados de saúde. Como reagem os seguros
O Ecoseguros organizou a 5.º edição da Conferência Anual Seguros 2025 onde se debateu sobre as respostas do setor segurador aos desafios que se impõem.
Ao mesmo tempo que as empresas do setor segurador inovam recorrendo às novas tecnologias, complexificam-se os riscos e estão também expostas às crises que a sociedade portuguesa (e internacional) enfrenta. Para analisar estes e outros temas, o Centro Cultural de Belém (CCB) acolheu a 5.ª edição da Conferência Anual Seguros 2025 que reuniu empresários e gestores do setor segurador que partilharam a sua análise do panorama atual.
No painel “O que podem fazer as seguradoras para ajudar a mediação a minorar gaps de proteção” os oradores concordaram que ser transparente com os clientes, formar mediadores de seguros e entender as necessidades do cliente são as principais formas das empresas de seguros contribuírem para reduzir as lacunas de proteção (diferença entre riscos cobertos por seguradoras e riscos sem cobertura).
Nesse sentido, o diretor técnico da Innovarisk salientou a necessidade de trabalhar em conjunto com empresas parceiras e entender as necessidades dos clientes para se conseguir aproximar destes. Ricardo Azevedo considera que a crescente standardização dos produtos de seguros dificulta a capacidade do setor em reduzir as lacunas: “O caminho tem que assentar no paradigma de segmentação, particularização e não generalização“ e passa por “compreender as necessidades concretas do cliente final e ter capacidade para fazer pequenas alterações dos seus produtos e adaptar as coberturas às circunstâncias”.
Com perspetiva semelhante, João Barbosa, chief marketing officer da RandTech Computing, acredita para aumentarem as vendas, as seguradoras devem valorizar os mediadores preocupados com os serviços prestados.
Já o gestor de produto de seguros da Eurobic Banca acredita que para se verificar um alargamento das coberturas já adquiridas pelos clientes (ou numa nova contratação indo além das obrigatórias) as seguradoras têm que dar incentivos aos mediadores para a venda de coberturas específicas. José Miguel Costa diz que “está na altura das seguradoras voltarem a olhar para os corretores e mediadores e implicá-los na venda” que sendo facultativa, merece comissão adicional.
No segundo painel da manhã, “A valorização da consultoria em ambiente de riscos cada vez mais complexos”, Paula Serra, diretora comercial da Universalis/Acrisure afirmou que a consultoria na corretagem de seguros está a tornar-se cada vez mais essencial, especialmente à medida que os desafios do setor se intensificam.
A mesma opinião é partilhada por Miguel Costa Duarte, administrador executivo da Costa Duarte – Corretor De Seguros que afirma que todo o setor trabalha, em maior ou menor grau, com consultoria. Argumenta que os serviços prestados precisam de ser consistentes com a visão da empresa.
Não obstante a sua relevância, Mário Vinhas, COO da MDS Portugal, sublinhou que o valor da consultoria muitas vezes não é reconhecido devido à procura incessante do cliente por descontos e ofertas, o que desvaloriza o trabalho dos profissionais. Para o COO da MDS Portugal, um primeiro passo crucial para as empresas é saberem comunicar o valor dos serviços.
O preço não é o principal fator que atrai clientes, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, observa Luis Malcato, executive board member da Azuaga Seguros. Para ele, o segredo está na literacia em seguros: é através da sensibilização que os consumidores começam a valorizar coberturas que vão além das obrigatórias. Esse foi o pontapé de partida para o painel que se propôs a explorar como o setor pode ir além dos seguros obrigatórios.
Em sintonia com a perspetiva de Luis Malcato, João Miguel Gomes, insurance senior manager da NTT Data Portugal, enfatiza que o setor deve simplificar a comunicação que estabelece com o cliente, para que este perceba claramente os benefícios das novas coberturas.
Por sua vez, Pablo Alonso, diretor-geral da Alvarez & Marsal, observa que, em Portugal, o acesso ao SNS torna os seguros de saúde mais acessíveis, pois reduz os riscos para as seguradoras.
No primeiro painel da tarde “Seguros de Vida: Longevidade, Sustentabilidade e Oportunidades”, Gonçalo Castro Pereira, Vice-Presidente da Gamalife, destacou a importância de considerar que a Segurança Social não possui recursos suficientes para garantir a longevidade financeira dos cidadãos. Complementando essa visão, Marta Graça Ferreira, presidente da Real Vida, defendeu a criação de soluções voltadas para a prevenção e para o apoio à saúde de clientes mais velhos. Ferreira enfatizou a necessidade de serviços de apoio domiciliário, iniciativas preventivas e uma maior proximidade com os segurados.
Por sua vez, Isabel Castelo Branco, CEO da BPI Vida e Pensões, sublinhou que a sustentabilidade financeira pessoal dependerá da responsabilidade individual de cada cidadão em investir na sua própria segurança financeira futura. Enfatiza que o setor privado deve complementar os esforços públicos com ofertas que promovam a proteção financeira no longo prazo. Luiz Ferraz, CEO da Prévoir Vie, argumentou que é essencial que governos e seguradoras trabalhem juntos para acompanhar as necessidades da população, oferecendo soluções alinhadas aos desafios da longevidade.
No painel sobre o uso de IA no setor segurador, João Araújo, Diretor de Plataformas e Canais Digitais da NacionalGest, destacou a necessidade da partilha de dados de riscos entre os parceiros do setor para proteger melhor os clientes.
Quanto ao uso de IA nas operações internas, João Pedro Borges, presidente da CA Seguros, mencionou que a empresa está a formar os seus dirigentes em IA e pretende que a formação chegue a todos os colaboradores. Também indicou que a companhia já usa modelos de linguagem para transcrever chamadas na área de sinistros, o que ajuda a entender quais são as dúvidas mais frequentes dos clientes, para arranjar métodos de transmitir melhor esses tópicos aos consumidores.
José Lino Ferreira, da MPM, apontou que a IA pode otimizar a gestão de sinistros, permitindo que as empresas automatizem tarefas rotineiras e se concentrem nas questões mais críticas. Segundo Lino Ferreira, essa tecnologia ajuda as equipas a focarem-se no que é realmente importante.
No painel “Seguros de saúde: como compensar o custo do sucesso” Rui Leão Martinho, chairman Mútua Saúde explicou que o seguro de saúde comercializado pela mútua “não é um seguro vitalício”, mas de médio prazo vendido através das empresas aos colaboradores – os segurados podem depois estendê-lo para a reforma.
Teresa Xavier, Head of Corporate Business Portugal do Grupo Future Healthcare, acredita que as seguradoras continuarão a investir diretamente na prestação de serviços de saúde privados e reconhece, assim como Filipe Martins, Administrador da Multicare, que a crise na prestação de cuidados de saúde não é exclusiva do Serviço Nacional de Saúde, mas transversal ao setor e que as chaves para reduzir o congestionamento nas urgências são a prevenção e telemedicina, por exemplo.
Questionado acerca do impacto que a norma regulamentar relativa ao direito ao esquecimento e proibição de práticas discriminatórias poderá ter sobre o setor, Ricardo Raminhos, administrador executivo da MGEN diz que não terá sentido sobre a empresa que dirige, mas considera ser importante e que deve ser regulado.
No último painel da conferência, discutiu-se o papel do setor segurador na competitividade europeia, mas destacou-se a necessidade de ajustes regulatórios para libertar capital para investimentos estratégicos, como já tinha avançado o Ecoseguros.
José Galamba de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), argumentou que as exigências atuais de solvência são inadequadas para o perfil conservador do setor e que uma regulamentação ajustada permitiria uma atuação mais alinhada.
Luís Menezes, CEO da Ageas Portugal, lamentou a falta de reconhecimento geral sobre a relevância do setor. Maria João Sales Luís, administradora da Fidelidade, destacou o apoio à inovação, com investimentos em startups e capital de risco, enquanto João Barata, da Generali Tranquilidade, frisou a importância de apoiar a transição energética, essencial para o futuro das seguradoras.
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