Economia acelera no terceiro trimestre ainda à boleia do consumo privado
O consumo terá sido um dos motores, na sequência do aumento do rendimento real disponível das famílias, após a desaceleração da inflação, a descida dos juros e da robustez do mercado de trabalho.
Os economistas apontam inequivocamente para um crescimento da economia no terceiro trimestre. O consumo terá sido um dos motores, na sequência do aumento do rendimento real disponível das famílias, após a desaceleração da inflação, a descida dos juros e da robustez do mercado de trabalho. As previsões variam bastante, mas o ponto médio é um crescimento de 0,4% face aos três meses anteriores. No conjunto do ano, a progressão do PIB andará entre 1,5% e 1,9%, em linha com os 1,8% estimados pelo Governo.
“De acordo com a nossa previsão, a taxa de crescimento do PIB português no terceiro trimestre, que será divulgada pelo INE a 30 de outubro, deverá apresentar uma variação em cadeia de 0,4%, o que representa uma ligeira aceleração em relação ao crescimento de 0,2% observado no segundo trimestre”, avançam na sua nota de conjuntura os economistas do Millennium BCP. “Em termos homólogos, espera-se uma aceleração da taxa de crescimento do PIB, de 1,6% para 2,1%”, acrescentam.
O gabinete de previsões da Universidade Católica aposta também num crescimento de 0,4% em cadeia, o que corresponderia a 2% em termos homólogos. Tal como o Montepio que também aponta para uma progressão de 0,4% em cadeia, mas em termos homólogos sobe para 2,1%. Já o Fórum para a Competitividade estima que o PIB terá subido entre 0,2% e 0,6% em cadeia no terceiro trimestre, após os 0,2% do segundo, a que corresponderá um aumento homólogo entre 1,5% e 1,9%.
O mais otimista é o economista chefe do Santander. “A economia portuguesa deverá surpreender pela positiva no terceiro trimestre, com a procura interna a sustentar o crescimento económico face a uma procura externa que se vai ajustando ao contexto global mais fraco, nomeadamente na zona euro”, diz ao ECO Rui Constantino, que coloca a fasquia num “crescimento em cadeia de 0,7%, que se traduz num crescimento homólogo de 2,5%”.
No extremo oposto está a leitura do barómetro CIP/ISEG que aponta para uma variação em cadeia entre 0 e 0,2% (entre 1,7 e 1,9% em termos homólogos), apontando também o consumo privado como como “a componente com maior contributo para o crescimento”. Em setembro, os indicadores de confiança dos consumidores e das empresas apresentaram uma “subida expressiva”, o que aumenta as expectativas de uma evolução mais positiva para o final do ano, até porque o quarto trimestre tem mais dias úteis, lê-se na nota.
A expansão da atividade económica deverá ter continuado a beneficiar do dinamismo do consumo privado — o aumento do crédito ao consumo é também prova disso –, mas “o ritmo de crescimento deverá ser menos acentuado que no trimestre anterior o que, a par da persistência de fracos níveis de expansão do investimento, se deverá traduzir num menor contributo da procura interna para o PIB (0,2 p.p., comparativamente com 0,8 p.p. registados no segundo trimestre)”, sublinhou a economista chefe do BCP.
“O crescimento em cadeia do PIB, no terceiro trimestre, deverá ter sido suportado novamente pelo consumo privado, embora em abrandamento, depois do forte acréscimo observado no trimestre anterior (+0,9%), estimando-se também novos crescimentos do consumo público (+0,3% no segundo trimestre) e do investimento em capital fixo (FBCF), que deverá, ao contrário do consumo privado, ter acelerado“, sublinhou ao ECO Rui Bernardes Serra.
O comportamento do investimento é o que mais divide os economistas. Rui Constantino também antecipa que “o investimento deverá acelerar expressivamente em cadeia, alavancado pelo contributo largamente positivo da variação de existências”.
“O consumo privado terá estagnado, em cadeia, após o mais forte crescimento do último trimestre”, diz ao ECO o economista chefe do Santander. Mas o economista da Católica, João Borges Assunção, defende que “o investimento cresceu apenas 0,6% no segundo trimestre e os sinais para o terceiro trimestre são de moderação, refletindo também o atual ambiente externo”. Já Pedro Braz Teixeira, o economista chefe do Fórum para a Competitividade, considera que “o investimento teve um bom comportamento no segundo trimestre, mas não na construção, que tem continuado fraca no terceiro trimestre”.
E apesar do contexto de “crescente fragilidade da economia europeia”, as exportações de bens terão aumentado 9,9% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, uma estimativa que fica acima da previsão de crescimento para as importações (6,6%), avançou esta terça-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE).
“O contributo da procura externa líquida deverá ser positivo, após a forte queda observada no trimestre anterior, decorrente de um menor crescimento das importações”, diz Márcia Rodrigues. “O contributo da procura externa líquida para o crescimento do PIB poderá melhorar face ao trimestre anterior (-0,8 p.p), permanecendo, no entanto, negativo”, estimam os economistas que elaboram o barómetro CIP/ISEG.
Os economistas antecipam que a progressão do PIB andará entre 1,5% e 1,9%, este ano, em linha com os 1,8% estimados pelo Governo. E se uns optam por as manter inalteradas, outros optaram por as rever em baixa, tal como o fez o Conselho das Finanças Públicas. O crescimento fraco do segundo trimestre (0,2% em cadeia), a revisão dos dados dos últimos dois anos pelo INE, a atividade económica continuar a evoluir com crescimento ligeiramente abaixo do potencial, as elevadas taxas de juro e a fragilidade da atividade económica na zona euro, em particular na Alemanha e França, explicam o péssimo de alguns economistas.
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