Coordenadora da Comissão de Trabalhadores da CGD diz que proposta da administração representa um "retrocesso civilizacional" nos direitos laborais no banco porque coloca a fasquia por baixo no setor.
A coordenadora da Comissão de Trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos (CGD), considera que se está a assistir a um “retrocesso civilizacional” no banco público ao serem retirados direitos aos funcionários e nivelarem as condições laborais por baixo. Em entrevista ao ECO, Isabel Rodrigues diz que a CGD não se deve prestar apenas a dar e receber dinheiro.
“Tem a função de regulador dos dinheiros públicos, tem a função de estar presente onde os outros não estão devido à sua função de estabilizador social, função que não é desempenhada por mais nenhuma instituição financeira do nosso país”, sublinhou.
Que motivos vê a Comissão de Trabalhadores (CT) para a greve?
A CT está, como é da sua génese, sempre ao lado dos trabalhadores. Desde 2010, os trabalhadores da CGD têm percorrido um longo caminho de estagnação da sua carreira e cortes no seu rendimento mensal. Com a entrada do plano de recapitalização e consequente reestruturação, está a ser brutalmente reduzido o número de trabalhadores, da sua rede de agências, a aumentar brutalmente a carga horária de trabalho, as pressões para se atingirem objetivos irrealistas, a deterioração das condições de trabalho, o aumento dos casos de assédio e baixas médicas. E após os bons resultados do primeiro semestre, os trabalhadores são presenteados com a denúncia dos Acordos Empresa por parte da Comissão Executiva e com uma proposta que fica muito aquém do que está em vigor e vai para além do próprio Acordo Coletivo de Trabalho bancário.
Acompanha os argumentos da administração, que diz que denunciou o Acordo Empresa para aproximar condições da CGD aos bancos privados?
De forma alguma. Os dados de que dispomos indicam que a proposta agora colocada em cima da mesa vai mesmo além do acordo coletivo de trabalho do setor bancário, retirando ainda mais direitos e garantias aos trabalhadores da CGD. Depois, estamos a assistir a um retrocesso civilizacional ao pôr a fasquia sempre pelos patamares abaixo, quando deveria ser o contrário.
A CGD não se presta só a receber e dar dinheiro. Tem a função de regulador dos dinheiros públicos, tem a função de estar presente onde os outros não estão, devido à sua função de estabilizador social, função que não é desempenhada por mais nenhuma instituição financeira do nosso país e que só encontra paralelo na Santa Casa da Misericórdia.
Desde 2010 os trabalhadores da CGD têm percorrido um longo caminho de estagnação da sua carreira e cortes no seu rendimento mensal.
A administração diz que a proposta que enviou aos sindicatos mantém a Caixa com os melhores salários do setor. É um argumento que não colhe do lado dos trabalhadores?
O que sabemos é que existe a intenção de acabar e/ou alterar grupos profissionais, áreas funcionais, categorias e níveis. Também sabemos que este é um não-argumento, pois é inconstitucional reduzir salários. Em contrapartida, sabemos que quem teve o maior aumento salarial nos últimos anos da CGD foram os atuais administradores, que viram as remunerações das suas funções mais que duplicadas…
A administração diz que pretende conter o crescimento da massa salarial após 2020, dizendo que só consegue esse equilíbrio agora por causa das saídas. Fala ainda em medida de sustentabilidade com esta denúncia do Acordo Empresa. E até diz que a sustentabilidade do fundo de pensões poderá estar em causa. A Comissão de Trabalhadores vê algum fundamento nestas razões para a denúncia do Acordo Empresa?
Quanto ao fundo de pensões e, uma vez que a Comissão de Trabalhadores tem representantes designados na Comissão de Acompanhamento do mesmo, tudo nos leva a crer, e segundo os documentos que nos foram facultados, que o mesmo está de boa saúde e devidamente provisionado não se prevendo qualquer problema a breve trecho com a sua sustentabilidade.
No que respeita ao aumento da massa salarial, relembramos que não existem aumentos na tabela salarial da CGD desde 2010 (1%), ou seja, bem antes da entrada da troika. E assistimos a uma diminuição brutal do número de trabalhadores e até cortes nos seus salários nos anos da troika. As pequenas oscilações salariais que possam ter existido são fruto única e exclusivamente das promoções obrigatórias e das anuidades, que encontram respaldo nos atuais Acordos Empresa. Com a extinção deste clausulado, os trabalhadores da CGD não terão qualquer garantia de progressão mais que legítima do seu salário e poderão estar eternamente sem qualquer aumento.
A CGD não se presta só a receber e dar dinheiro. Tem a função de regulador dos dinheiros públicos, tem a função de estar presente onde os outros não estão devido à sua função de estabilizador social, função que não é desempenhada por mais nenhuma instituição financeira do nosso país e que só encontra paralelo na Santa Casa da Misericórdia.
O que espera das negociações que se avizinham?
Esse é o campo sindical por excelência e a Comissão de Trabalhadores não está, nem deveria estar, incluída na mesa negocial. No entanto, vamos manter uma vigilância constante, pois esta é uma questão que abrange a segurança laboral de todos os trabalhadores da instituição. Faremos eco junto da Comissão Executiva, nas reuniões mensais que a lei estipula, dos anseios dos trabalhadores, das suas preocupações e sempre na defesa intransigente da CGD e dos seus trabalhadores.
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Comissão de Trabalhadores: “Estamos a assistir a um retrocesso civilizacional na CGD”
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