Carlos Moreira da Silva, acionista de referência da BA Glass e da Cerealis, critica a “opressão” fiscal da classe média e clama por reguladores “realmente independentes e competentes” em Portugal.
O empresário Carlos Moreira da Silva, acionista de referência da multinacional vidreira BA Glass e do grupo alimentar Cerealis, dono de marcas como a Milaneza ou a Nacional, considera que a política de redistribuição é de “grande importância”, mas alerta, em entrevista ao ECO, que “não é possível distribuir mais do que se produz” e que esse exercício político “não pode cercear a capacidade de investir”.
Crítico da teoria dos “cofres cheios” quando o país deve tanto quanto cria de riqueza num ano, apologista da redução do IRC e da anulação da derrama estadual, o CEO da Teak Capital, holding pessoal que agrega mais de 40 investimentos nos setores industrial, financeiro, imobiliário, educação, saúde e de private equity — segundo a última avaliação da Forbes Portugal tem uma fortuna superior a 860 milhões de euros — defende ainda que “a carga fiscal tem de ser aliviada, especialmente na classe média que está oprimida por uma tributação injusta e desincentivadora da progressão profissional”.
“A promoção da liberdade económica e da iniciativa privada são os instrumentos certos para conseguir um crescimento económico sustentado. É tempo de parar a demonização dos empreendedores. São eles que, com risco assumido, criam emprego e valor económico, e pagam impostos”, acrescenta Moreira da Silva, futuro presidente da Associação Business Roundtable Portugal (BRP), para quem os reguladores em Portugal, descritos como “críticos para o funcionamento de uma economia liberalizada”, devem ser “realmente independentes e competentes”.
A três dias da comemoração dos 50 anos da revolução do 25 de Abril, o empresário nortenho reclama, por outro lado, que “as grandes empresas devem ser acarinhadas porque são uma alavanca desproporcionada de crescimento de valor económico”. Lembrando que “muitas delas” nasceram e se afirmaram nas duas décadas que se seguiram à revolução, nota que são atualmente “responsáveis por emprego de qualidade com remunerações superiores ao dobro da média, ajudando a fixar talento que o país está a perder a uma velocidade estonteante”.
“Muito foi tornado possível pelo 25 de Abril de 1974 e sinto-me um privilegiado por o ter vivido e pelas oportunidades que me trouxe. Mas sinto que não fomos coletivamente capazes de entregar as expectativas que construímos. É tempo para arrepiar caminho”, exorta Carlos Moreira da Silva, que se sente “defraudado porque, pela primeira vez desde 1974, a geração dos que têm ingressado no mercado de trabalho nos últimos dez anos está pior do que a dos seus pais”. Tiago Moreira da Silva, um dos três filhos, acaba de substituir Sandra Santos como CEO da BA Glass.
É tempo de parar a demonização dos empreendedores. São eles que, com risco assumido, criam emprego e valor económico, e pagam impostos.
Homem de confiança do histórico empresário Belmiro de Azevedo, que em 2004 liderou um MBO (Management Buy Out) ao capital da vidreira Barbosa e Almeida — empresa com sede em Avintes (Vila Nova de Gaia) pertencia ao universo Sonae e hoje fatura mais de 1.500 milhões de euros e emprega 5.500 pessoas –, Carlos Moreira da Silva dramatiza que “é importante perceber” porque é que essa perda geracional aconteceu no país. E “ser eficaz na mudança de rumo o quanto antes, para que dentro de dez anos Portugal esteja no top 10 das economias europeias”, aponta.
“É tempo de eliminar as barreiras doutrinárias no processo de escolha individual pelos serviços de saúde e de educação. A aposta na educação de qualidade no setor público e no privado, com liberdade de escolha por partes das famílias, é uma condição indispensável à formação de jovens com liberdade individual efetiva e são o recurso mais importante para o desenvolvimento económico do país”, sugere o CEO da Teak Capital, que no ano passado comprou 50% da produtora de vinho Quinta do Vallado (Douro) e fechou a aquisição conjunta de 100% do grupo industrial italiano Vetrerie Riunite (VR), líder mundial no fabrico de portas de vidro para máquinas de lavar e secar, e que também produz moldes para vidro prensado e injeção de plástico, sobretudo para o setor da iluminação automóvel.
Os reguladores, instituições críticas para o funcionamento de economia liberalizada, devem ser realmente independentes e competentes.
Mesmo reconhecendo que “nem tudo correu bem” nos últimos 50 anos do Portugal democrático, que se seguiram ao período de 48 anos do Estado Novo, o mais longo regime autoritário na Europa Ocidental durante o séc. XX, Carlos Moreira da Silva comemora o 25 de Abril de 1974, que viveu como jovem adulto, como “o mais importante facto político da [sua] geração”. Salientando que “deixou para trás uma ditadura que, além de retirar a liberdade, era suportado num modelo económico corporativo que cerceava a iniciativa privada e condicionava o desenvolvimento económico”.
“O 25 de abril de 1974 trouxe-nos o desabrochar da iniciativa individual, da liberdade política e da liberdade económica. As duas primeiras – as liberdades individual e política, tiveram um desenvolvimento franco depois de algumas ameaças só resolvidas no 25 de novembro de 1975. Já a liberdade económica tardou mais a afirmar-se na sua plenitude, mas proporcionou, mesmo assim, duas décadas de crescimento económico baseadas numa nova iniciativa privada e na privatização de setores monopolistas”, recorda o empresário, que é licenciado em Engenharia Mecânica pela Universidade do Porto e mestre e doutorado em Gestão pela Universidade de Warwick, no Reino Unido.
As transformações políticas trazidas pelo 25 de Abril e pelo 25 de Novembro, situa ainda, impulsionaram também “uma grande transformação na educação – com melhorias incríveis nos níveis de formação mínima e no acesso ao ensino superior – e na saúde – com a criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) com acessibilidade universal”. A par das “políticas distributivas que trouxeram para o sistema de pensões muitos que dele estavam arredados”, conclui Carlos Moreira da Silva, desafiado pelo ECO a fazer este exercício retrospetivo na antecâmara da comemoração dos 50 anos da revolução.
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