"Web Summit do trabalho" vai reunir 150 oradores de todo o mundo e 500 participantes de 30 países na Alfândega do Porto. Labour2030 está marcado para 19 e 20 de setembro.
Organizado pela Law Academy, vai contar com 500 participantes de cerca de 30 países e reunir 150 oradores oriundos de todo o mundo. A cidade do Porto volta a acolher a maior discussão mundial sobre o futuro do trabalho e das relações laborais, entre os dias 19 e 20 de setembro. É uma espécie de Web Summit mas direcionado para o mundo do trabalho. Chama-se Labour2030 e vai reunir os maiores especialistas mundiais na busca das melhores soluções para o futuro do trabalho.
Segundo, Eduardo Castro Marques, advogado e membro da Law Academy, a iniciativa “pretende fazer uma prognose sobre o futuro do trabalho e projetar aquilo que serão as relações laborais para 2030″.
Em entrevista ao ECO, Eduardo Castro Marques sublinha que a mentalidade de trabalho mudou. “Estamos a assistir a uma alteração do paradigma no mundo do trabalho, a uma alteração das prioridades”, refere. O membro da Law Academy explica que existem problemas para os quais ainda não existem soluções e que, por isso, um dos objetivos do Labour2030 é antecipar e contribuir com soluções para esses desafios.
O que é o Labour2030?
O Labour2030 é um evento que já vai na sua segunda edição. Vai realizar-se entre os dias 19 e 20 de setembro, na Alfândega do Porto. É uma iniciativa que vai reunir 150 oradores de todo o mundo e 500 participantes de 30 países. Eu diria que é um evento que tenta reunir três variantes daquilo que é o mundo do trabalho: a academia, os negócios (as empresas) e, por último, a parte jurídica legal. Quisemos reunir no mesmo espaço três vetores que dificilmente comunicam.
Qual o objetivo desta discussão mundial sobre o trabalho?
O objetivo é fazermos uma prognose sobre o futuro e sobre como as relações laborais se irão institucionalizar e desenvolver num futuro próximo. O que mais nos motivou ao criar este congresso mundial é o fascínio por conseguirmos antecipar o futuro. Por exemplo, na primeira edição do congresso, em 2017, foram lançados, estudados e apresentados alguns temas que deram origem a algumas alterações legislativas.
Discutimos a alteração das plataformas colaborativas, designadamente a Uber, a Cabify, a Bolt, entre outras, e daí surgiram algumas alterações legislativas, inclusive em Portugal. Naquela altura colocamos no topo da agenda esses litígios sociais em virtude de relações laborais. Discutia-se, por exemplo, se a relação do prestador de serviços era ou não uma relação laboral e o congresso teve essa virtude. Também serviu para antecipar uma realidade, que hoje já é muito frequente e está ligada à dificuldade das indústrias na identificação dos géneros nos balneários. A definição clássica é a existência de um balneário feminino e de outro masculino e, hoje em dia, temos trabalhadores que não se identificam com esta classificação e que discutem e exigem balneários sem género ou outro género. Este já é um dos problemas que foi lançado em 2017.
Com certeza que esta edição de 2019 também terá a virtude de antecipar outros temas que talvez em algumas células de algum países já se comecem a identificar mas que depois acabam por ter um alargamento à escala europeia ou mesmo à escala mundial.
Este tipo de eventos transforma a discussão numa verdadeira guerra que opõe entidades empregadoras e trabalhadores, que maioritariamente gera ruído e não soluções ou concertação.
Quais os temas que vão ser discutidos nesta segunda edição?
Temas como os impactos da robótica, inteligência artificial e as novas tecnologias no contexto de trabalho serão alvo de debate. As doenças oncológicas, as questões ambientais, ou como as alterações climáticas podem influenciar diretamente as relações laborais, a questão das migrações e a questão do género, e a flexibilidade laboral são alguns dos temas que serão discutidos.
Por exemplo, perceber de que forma a legislação laboral está ou não preparada para lidar com um fenómeno cada vez mais presente, que são as doenças oncológicas. Saber de que forma a relação laboral deve ser adequada a esse novo estado de saúde. Estes são temas que tradicionalmente não são abordados. O nosso objetivo é mesmo esse: convocar todos os agentes das relações laborais, direta e indiretamente, e colocá-los a discutir temas de futuro. Este congresso tornou-se incontornável para falar abertamente das preocupações de todos e transforma a discussão numa verdadeira guerra que opõe entidades empregadoras e trabalhadores, que maioritariamente gera ruído e não soluções ou concertação.
Estamos a assistir a uma alteração do paradigma no mundo do trabalho.
Outra das questões abordadas será a geração “milénio”, que está hoje a chegar ao mercado de trabalho, e aquilo que era o padrão de comportamento de um trabalhador há cinco ou dez anos, que mudou completamente. Hoje, mais do que um emprego para a vida ou uma boa remuneração, a generalidade dos trabalhadores preocupa-se com a conciliação do trabalho com a vida pessoal. Nós temos hoje exigências de flexibilidade horária, trabalho remoto, etc. Atualmente passa a ser mais importante a satisfação, a felicidade no trabalho, porque em bom rigor é onde passamos grande parte da nossa vida. Há 20 anos, as preocupações de um trabalhador eram o vínculo (conseguir obter um contrato sem termo), a remuneração e, por último, horário de trabalho. Hoje as preocupações são completamente diferentes. É importante conseguir conciliar a vida pessoal com a profissional, ser feliz no local de trabalho, ter flexibilidade de horários, perceber a política da empresa, entre muitas outras questões.
A quem se destina o Labour2030?
Destina-se a todos aqueles que se interessem pelas relações laborais e, em particular, aos três segmentos — a academia, a parte jurídica e a parte empresarial. Teremos no congresso investigadores, professores, universitários, CEOs de empresas, diretores de recursos humanos, advogados, juízes, procuradores, alguns estudantes, entre muitos outros.
São 150 oradores de todo o mundo, quais os nomes mais sonantes?
São vários os nomes nacionais e internacionais que vão marcar presença nesta iniciativa. Temos referências de todo o mundo, vários professores universitários de renome, nomeadamente Catherine Barnard, especialista em direito britânico e professora na Universidade de Cambridge, Yolanda Valdeolivas García, professora na Universidade Autónoma de Madrid e secretária de Estado do Emprego em Espanha, Philippe Pochet, do Instituto Sindical Europeu, Denis Pennel, da Confederação Mundial do Emprego e María Luz Vega, coordenadora da iniciativa “futuro do trabalho OIT”, entre muitos outros.
No panorama nacional, vão estar presentes professores de todas as faculdades de direito do país, entre os quais o professor José João Abrantes, da Universidade Nova de Lisboa, Catarina Carvalho da Universidade Católica do Porto, Teresa Coelho Moreira da Universidade do Minho, Maria Ramalho, professora de Direito do Trabalho, na Universidade de Lisboa e Teresa Coelho Moreira, da Universidade do Minho.
Porquê a escolha da cidade do Porto para acolher esta iniciativa?
Nessa escolha fomos disruptivos. Cabe a todos nós lutar contra a centralização deste tipo de eventos e o Porto tem condições idênticas, ou pelo menos similares a outras cidades do país. É evidente que Lisboa, para determinados eventos, tem outra centralidade que o Porto não oferece mas a verdade é que, ao longo dos últimos anos, o Porto tem vindo a estar no mapa mundial como melhor destino turístico e, a nível empresarial, é cada vez mais um foco de investimento estrangeiro. Logo, a escolha da cidade do Porto fazia todo o sentido para marcar pela diferença e descentralizar um pouco esta discussão. E foi interessante ver Lisboa em peso no Porto.
Quais as expectativas para esta segunda edição?
As expectativas são altíssimas. Em 2017, não estávamos à espera que isto escalasse desta forma, tivemos o diretor da Uber no congresso, um jornalista da Forbes, pessoas de todo o mundo a virem ao congresso. Isto é um sinal claro de que as pessoas querem discutir isto, que os temas são interessantes e que vale a pena apostar. Demos sequência a este trabalho com a publicação de três livros. Em 2019 vamos ter muitos repetentes, estamos a assistir a uma procura imensa, mais diversificada, até porque nós alargámos a atuação do evento. Temos speed meetings, um showroom onde as empresas podem apresentar produtos que estão relacionados com a robotização, a industrialização, a indústria 4.0, com a digitalização da economia, entre outros.
As expectativas são obviamente muitos altas. Vai ser um evento que vai marcar o progresso, é isso que nós tentamos fazer. Sair deste evento todos mais ricos que no primeiro dia em que entrámos e projetarmos aquilo que serão as relações laborais para 2030.
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Maioria dos trabalhadores preocupa-se com “conciliação do trabalho com a vida pessoal”
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